sábado, 13 de setembro de 2008

NÃO REVIRE A LATA.



Não sei se a descoberta é óbvia, se é sutil, se é apenas adivinhada, em um daqueles momentos de pura revolta, que pode acontecer numa tão segunda feira pela manhã. Eu só sei que a descoberta me veio em cintilância de revelação. Um dia, como brilha um cristal partido, ela brilhou. E eu sorri e disse: mas então é isso? Mas “isso” é muito perigoso.
E no entanto, perigoso ou não, a descoberta me foi tão clara como o sol do meio dia. Que continua brilhando, para mais claro ir se fazendo. O peso da responsabilidade de saber, eximiu-me da culpa de não compartilhar porque dentro de mim havia um chamado para proteger o mundo: revelar poderia ser danoso demais à humanidade e eu era a mãe do mundo, a mãe que continha um grande segredo.
Eu pensava que era adulta, mas ainda era criança.
Hoje cresci e decidi compartilhar com vocês que o trabalho é uma maldição. Uma maldição que foi impetrada contra nós lá no Jardim do Éden e que continua nos arrostando pela vida afora como uma escravatura celestial: “ No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás.” GN 3: 19.
O trabalho é uma maldição e Deus quer que você corra atrás da bênção. É na bênção que está a libertação de tanto trabalho. Porque na lei da escravatura, estava escrito - apenas - que o homem deveria trabalhar em troca do pão que alimenta, mas esse mesmo homem, ampliando a maldição, determinou que alimentar-se só de pão seria pouco: então passou a trabalhar ainda mais para alimentar-se de carros, de fazendas, de casas, de iates, de viagens, e de tudo o que reluz como ouro. A sedução enganosa do ouro fez do preço da maldição uma carga excessivamente pesada. Mas tem gente que gosta. Tem gente que sucumbe ao peso e morre.
Quando eu era operária, que tédio me davam as que se ufanavam de sê-lo.As que exerciam com glória o seu destino de mouras. Eu era apenas conformada.
E conformada mesmo, tornei-me chefe de tribo. Fui chefe de tribo durante 20 anos e nos meus dias de chefia, ninguém morreu de tanto trabalhar, ninguém fez hora extra, ninguém ouviu de mim uma convocação para que se doassem integralmente à maldição do trabalho. Que integralmente só Deus nos merece. O mesmo Deus que nos amaldiçoou com a bênção do trabalho, na esperança de que em vendo a maldição todos os dias, o buscássemos em todas as horas.
Quando eu era chefe de tribo, houve dias em que alguns escravos vinham trabalhar, com vontade de trabalhar- que esse mal é recorrente e necessário. Pois se Deus nos impetrou a ordem para trabalhar, que se trabalhe então, segundo a ordem de Deus. Mas houve outros, que, nesses mesmos dias em que aqueles trabalhavam, esses outros fingiam trabalhar – que esse mal também é recorrente e necessário. Pois se Deus nos criou com a capacidade de sonhar infinitos azuis, que se sonhe então, segundo a capacidade que Deus nos deu, de sonhar infinitos azuis, enquanto se trabalha.
Os que estão em dias de ordem e progresso, não devem atrapalhar aqueles que estão em dias de sonhos secretos. Não há antagonismo nas duas proposições quando se sabe que ambas estão latentes dentro do homem. O equilíbrio é azul.
O equilíbrio é assim como uma gangorra que sobe e desce, e mantém o vai-e-vém da máquina em pleno funcionamento. Que não se exija do homem que ele seja super-homem e tudo estará bem. Que não se exija do homem um diálogo marxista quando o que ele quer é apenas cumprir a sua trajetória acostumada.
Dessa maneira fui chefe de tribo durante 20 anos: não exigindo nada que a humanidade não pudesse conceder e ainda assim recebendo tudo o que seria possível receber. Nunca coloquei um CGC como prioridade em minha vida de chefe de tribo. Minha prioridade sempre foi cada um dos membros da tribo. Nunca permiti que um aniversariante tomasse o rumo entediante do trabalho no dia mágico do seu aniversário. Onde já se viu um aniversariante ser presenteado com a maldição do trabalho, bem no dia abençoado em que veio ao mundo? Nunca adverti o ser humano por ele ser humano. A bem da verdade, em 20 anos de trabalho, fiz isso uma única vez. E arrependo-me profundamente de tê-lo feito. Sempre segui o que meu coração mandava fazer diante de mulheres que vinham trabalhar com filhos doentes e cólicas menstruais dolorosas. E voltavam para casa, na mesma hora. A diretoria era um lugar de encontros apenas necessários; o coração era o lugar dos encontros definitivos.
E havia oração no início de cada dia, e havia a leitura da Palavra, e aquela oração e aquela Palavra, nos fazia lembrar que temos um único Pai e que somos todos irmãos. Isso coibia qualquer pensamento abusivo. Pois se Deus nos via, como esconderíamos dos homens aquilo que Deus já sabia?
Deixei aquele lugar depois de 20 anos, sem oferecer a ninguém a mediocridade dos que governam para o exercício do autoritarismo. Livrei-me do peso da impostura, porque entre meus pares, nem autoridade - na acepção humana da palavra - precisei ser: cada um tornou-se responsável por aquilo que cativara no outro, e o amor de Deus encarregou-se de elucidar brandamente o nosso destino.
Outros vieram depois de mim. E nesse depois de mim, todos os paradigmas que Deus me orientou a criar ali, foram desprezados, como se despreza um pão bolorento. Criou-se a teoria de que toda ação deve ser investigada à exaustão. Procurando bem, sempre se encontra alguma coisa cujo destino seja a lata do lixo. Quem tem fome de porcaria, que revire a lata. Quem tem vocação para cão, que fareje o mundo. Mas quem tem sede de Deus, que olhe para o Alto. É simples assim.
Ah, administradores do Brasil e da minha terra, e do mundo: uma só coisa tenho a vos dizer - bobos sois! E no futuro, nada sereis. E enquanto todos vós caminhais para o nada, Deus segue sendo tudo.

Um comentário:

D Z disse...

Bom dia Ana Maria, sempre nos surpreendendo!!! Muito bacana seu blog... Já está entre os meus favoritos... Tenha um ótimo dia! Bjs!!!

Dany