domingo, 16 de setembro de 2007

Petrúquia




Essa daí é a Petrúquia, que vivia na rua. Parecia ser uma feliz habitante de rua. Batia ponto todos os dias, no trabalho da minha filha, Silvia, em busca de água, carinho e comida. Comia, abanava o rabo e ia embora. Um dia, o trabalho acabou.... como explicar que, a partir daquele dia, a sua protetora não estaria mais naquele endereço para cuidar dela? O problema só poderia ser resolvido pela adoção. Sem pedigrée, sem boas maneiras, sem pelagem sadia, mas com um olhar profundamente inquisitivo, ela chegou. No princípio, deixamos o portão aberto, para que escolhesse entre a liberdade da rua e o aconchego da casa. Preferiu a casa. Petrúquia é extremamente amável, amorosa e gentil. Mas tem tiques de personalidade. Quando chega um novo habitante de 4 patas, surgem as crises de depressão. Aí não come... e nem adianta insistir, tem que esperar a crise ir embora. Animais amam e têm ciúmes. Animais são seres com capacidade de expressar sentimentos. Quem adota um animal, de alguma forma, acaba sendo mais terno, mais sensível, mais perceptivo com o mundo dos seres que não usam a palavra. O que não significa, que não falem... No mundo, tudo fala. As rosas falam quando desabrocham, e também falam quando envelhecem e morrem. As plantas verdes falam e as plantas secas gritam. Os rios falam, os mares também. Deus quando criou o homem, pediu a ele que guardasse a terra. Guardar não significa escriturar e tomar posse. Na linguagem de Deus, guardar é exercer domínio sobre as coisas criadas e evitar que o mal possa prevalecer. Mas o homem se vendeu para o lado do mal e agora "toda criação geme e chora, aguardando o dia da Redenção." Por causa disso, sobra latifúndio e falta responsabilidade. Por causa disso, não há paz na terra para os homens de boa vontade.

O Pastel da Feira

O pastel da feira é uma delícia. Mas o problema é comer enquanto os cachorros olham para cima pedindo comida, qualquer que seja ela. Uma tristeza. São poucas as pessoas que têm sensibilidade para entender o olhar do cachorro. Ele não fala. Ele não grita. Ele não exige os seus direitos. Ele não reclama. Ele apenas olha para cima. E se encontra reciprocidade, abana o rabo. Por conta disso, adotei o costume de levar no carro, um saco com ração. Cansei de ter que dividir o meu pastel com um cachorro. No final, nem ele, e nem eu, ficávamos saciados. Faço a minha parte, mas a indiferença humana da grande massa me machuca muitíssimo. Muitos alegam que existe muita gente passando fome. Concordo, existe mesmo. Mas será que matar a fome de um animal invalida a possibilidade de matar a fome dos humanos? Será que o nosso sentimento não pode ser mais inclusivo e abranger a terra e toda a sua plenitude, incluindo homens, animais, plantas e toda a natureza? A terra está gemendo com a indiferença dos seres racionais. Que por serem racionais, justificam-se da irracionalidade com argumentos tão débeis quanto inconsistentes. O cachorro que pede comida, não se importa nem um pouco que a nossa generosidade seja compartilhada com os humanos. Mas, para isso, é preciso que haja generosidade. Quando ela existe, transborda para todos os lados. Quando não existe, o jeito é apelar para a mediocridade de um raciocínio torto.

Domingo.

Já é domingo. Um dilema de gravíssima proporção sempre me atinge, aos domingos: almoçar em casa ou almoçar fora. Tenho preguiça de almoçar fora, e não tenho preguiça de fazer almoço. O problema é que nunca sei o que fazer, além do trivial da semana. Fico buscando em meu restrito cardápio, saudavelmente correto, uma opção que não tenha cara de segunda feira e sempre acabo no arroz, carne assada e maionese. Carne e maionese nem tão saudável assim, mas é domingo e domingo tem que ser excessão. Essa mania de achar que o domigo tem que ser excessão é outra coisa que me consome os neurônios. Domingo é um dia como outro qualquer. Eu não tenho obrigação de descansar aos domingos, até porque não me canso mais durante a semana. Mas quando olho para fora, para a natureza no meu jardim, algo me diz que hoje é domingo. Então eu pego carona na idéia do domingo e fico meio sem jeito, sem saber o que fazer com ele. Já fiz pão integral aos domingos. Domingo era dia de pão. Já fiz visita aos domingos. Domingo era dia de visita. Domingo também já foi dia de levar as crianças ao Tênis Club. Domingo já foi dia de reunir a família em volta da mesa do almoço. Comida de mãe, que delícia! Comida da minha mãe... Mais tarde, domingo tornou-se o dia em que eu fazia aquela lasanha que as crianças amavam, e que eu abomino porque me traz o gosto de saudade. Hoje o domingo é só uma idéia que guardo a sete chaves na cabeça para não deixar chegar ao coração. O que não me impede a dúvida: almoço fora ou faço almoço?