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SILVIA BERNARDELLI
Antes que o ponteiro cruze as 24 horas deste dia ainda é o dia 7 de novembro. Um dia especial, um dia mágico, um dia em que a vida celebra a vida.

 Hoje tenho a alegria de poder comemorar  com você mais um aniversário, e  a alegria de reconhecer  que você tem sido uma dádiva de Deus em minha vida.

Seu sorriso meigo e a sua presença firme, em todos esses processos de troca, de amor, de laços que se estreitam e, muitas vezes, se confundem em meio à dor,  me fazem contemplar  o dia em que você chegou, me fazem  entender o momento em que você nasceu e me fazem  louvar a Deus pela filha que ele me deu.

Obrigada por você ser assim como é, sem tirar nem pôr. Se você não tivesse nascido, eu teria que tê-la inventado. Mas você é real e eu louvo a Deus por essa realidade histórica que tem um rosto, que tem um cheiro, que tem um sabor, que tem um nome: Silvia. Mas podem  chamá-la de AMOR!

Oi meu amor, seja muito feliz hoje e sempre!

Ana Maria - novembro 2008.

Ana Ribas

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"Jesus, porém foi para o monte das Oliveiras. Ao amanhecer ele apareceu novamente no templo, onde todo o povo se reuniu ao seu redor, e ele se assentou para ensiná-los. Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar em pé diante de todos e disseram a Jesus: “ Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o Senhor, que diz? “ Eles estavam usando essa pergunta como armadilha, a fim de terem uma base para acusa-lo. Mas Jesus inclinou-se e começou a escrever na terra, com o dedo. Visto que continuavam a interrogá-lo, ele se levantou e lhes disse: “ Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela.” Inclinou-se novamente e continuou escrevendo na terra. Os que o ouviram foram saindo, um de cada vez, começando pelos mais velhos. Jesus ficou só com a mulher em pé diante dele. Então Jesus pôs-se em pé e perguntou-lhe: “ mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou?” “ Ninguém, Senhor”, disse ela. Declarou Jesus: “ Eu também não a condeno. Agora vá e não peques mais.” João 8.
 
No capítulo 8 do Evangelho de João há um registro comovente de certo fato que foi escrito na terra, com o dedo do próprio Deus. 
 
Muito se tem especulado acerca do que teria Jesus escrito na terra. Contudo, a Bíblia é repleta de fatos simbólicos. Não devemos nos preocupar com as palavras que Jesus teria escrito na terra, mas com o simbolismo que tal fato representa para as nossas vidas.
 O capítulo começa narrando a ida de Jesus  para o monte das Oliveiras. No capítulo anterior, a Bíblia narra a passagem do Senhor Jesus pela festa judaica das cabanas, acontecimento social que ocorria no templo e para o qual afluía toda a elite religiosa da época, como também  todo o povo comum. Jesus estava ali ensinando o povo comum e o seu ensino, uma vez mais, causara dissensão entre as autoridades do templo.  
 
Depois desse fato, a Bíblia registra que “ cada um foi para sua casa”. Essa é a sentença final do capítulo 7, mas o capítulo 8 começa dizendo: “ Jesus, porém foi para o monte das Oliveiras.”
 
Por que a Bíblia registraria que “ cada um foi para sua casa” mas “ Jesus porém foi para o Monte das Oliveiras?”
 
A casa simboliza a comunhão humana, enquanto o monte simboliza a comunhão com o Pai  que só se alcança quando se deixa “ cada um em sua casa”. Não podemos subir ao monte levando em nossos pensamentos outra pessoa, outro objetivo, outra proposição.
 
Jesus subiu sozinho para o monte. É na solidão do monte que somos ensinados pelo Pai. Subir ao monte, e descer ao templo, são dois aspectos da vida espiritual. Há muitos que só experimentam descer ao templo e isso é muito doutrinário. Também é fácil demais: uma vez por semana, assiste-se a uma missa, a um culto e pronto: isso é descer ao templo. Normalmente quem faz isso não muda, permanece eternamente nos adjacências do templo. Quem tem esse costume religioso acaba se tornando meramente religioso. E os religiosos podem se tornar implacáveis com aqueles que não o são.
 
Não sei quantas vezes você terá experimentado subir sozinho ao monte. Subir ao monte era necessário para o Senhor Jesus enquanto esteve na terra como homem e como Deus.  E não o será para nós – meramente homens? Muito mais para nós que vivemos cercados pela árvore do conhecimento do bem e do mal. Tal árvore representa as escolhas que fazemos na vida. Ela traz em si tanto o bem quanto o mal. 
 
Se essa árvore fosse apenas do conhecimento do mal, seria fácil identificar quais coisas representam o seu fruto. Todo mal , em princípio nos causa repulsão. E todo bem nos atrai. Contudo, a coisa toda é essa:  Deus não aprova nem o bem e nem o mal. O bem e o mal são frutos da mesma árvore- da árvore do conhecimento do bem e do mal.  Nunca foi desejo do coração de Deus que vivêssemos instruídos pelo bem ou pelo mal.

 O desejo de Deus, segundo as Escrituras,  é que vivamos pela  Árvore da Vida que é o próprio Cristo dispensando-se como vida a todos nós.  Fora de Cristo não há vida. Quando estamos para tomar uma decisão, devemos nos perguntar: “ o que faria Jesus em meu lugar?”

Nesse momento, lembre-mos de que o agir do Senhor não é pautado pela árvore do conhecimento do bem ou do mal. A vida que o Senhor escreve na terra, para os seus redimidos,  não é no princípio da árvore do conhecimento do bem e do mal. Apesar disso, esse é o método das pessoas religiosas. Por esse método, os religiosos têm pautado o seu procedimento e têm sido verdadeiramente zelosos do bem.

Mas Deus  nos chama para vivermos alheios ao bem, a qualquer tipo de bem, tendo como parâmetro apenas a pessoa de Cristo.  Viver por sua pessoa é permitir que o Espírito de Deus viva através de nós. Não se trata de imitarmos o que Jesus fazia na terra, mas de permitirmos que Jesus viva em nós. Não se trata de nunca pecar, mas de pecar, aplicando o sangue de Cristo - porque não há homem que não peque.   Não se trata de condernarmos o que é certo e o que é errado.  Nosso julgamento, quase sempre é implacável e por ele apedrejamos com o mesmo rigor, a nós e aos outros.
 
Assim pensaram os judeus que apresentaram ao Senhor aquela mulher- a mulher adúltera. Um símbolo de tantas pessoas adúlteras que estavam ali, mas não tinham caido na desgraça de terem sido surpreendidas em adultério. Essa lhes era a diferença.  Revelada ou escondida, a situação toda se resumia num jogo de luz e sombras. 

Matar tal mulher  seria  extremamente vantajoso: uma prova de serviço religioso completo, o cabal no tribal.  O cumprimento da lei objetiva gravada em pedras era a glória da Lei de Moisés que até hoje recebe muita reverência.
 
Felizmente para todos nós, Jesus inaugurou na terra uma lei subjetiva. Essa lei está gravada em nossos corações pelo Espírito de Deus que nos foi dado. Que grande Deus! Que maravilhoso Senhor que nos deu o seu Espírito para que em nosso interior possamos saber o que é certo e o que é errado,  não mais pela árvore do conhecimento do bem e do mal,  mas pelo seu Espírito que em nós habita! Como sou grata ao Senhor por esse Espírito que me convence de pecados que os homens não identificam, enquanto me ensina a ser misericordiosa em situações que os homens  condenam e Deus absolveria.
 
Essa é a lei escrita nos corações. Por ela,  quando “cada um for para a sua casa” podemos escolher  “subir o monte”. Por essa lei, não há caminhos impostos pela lei dos religiosos, há caminhos. Sendo que Jesus é para nós  o único caminho.
 
Até aqui já vimos a lei de Moisés gravada em pedras e a lei do Espírito gravada nos corações. Qual seria então a terceira lei?
 
A terceira lei é a lei da soberania de Deus escrita na terra com o dedo do próprio Deus. Essa lei é a lei que nos resgata quando tudo parece estar perdido, quando falham todos os mecanismos.  Por essa lei, Deus se inclina na terra e reescreve histórias que parecem estar perdidas para sempre.
 
Foi isso o que o Senhor Jesus fez quando se inclinou  sobre a vida da mulher adúltera. Ali  falhara a escrita em pedra. Nenhuma lei objetiva conseguira ser mais forte do que a lei da carne cujo princípio a mantinha escravizada e a fazia pecar voluntária e involuntariamente.
 
 Também falhara a lei subjetiva escrita nas tábuas de carne do coração. O coração da mulher adúltera – um protótipo de todo pecador - não fôra forte o suficiente para vencer a lei do pecado e da morte. A lei da carne que ainda existia em seu corpo de carne.
 
 Aos olhos humanos ela era um caso impossível.  Entretanto, quando todas as leis falharam, o Senhor se inclinou para a terra e escreveu com o dedo no chão.
 
 E o que o Senhor escreveu no chão? Escreveu a vitória sobre o pecado, a vitória sobre a lei, a vitória do amor de Deus que está absolutamente disponível em Cristo Jesus Nosso Senhor.
 
Quando falham todos os mecanismos da graça ainda resta a soberania de Deus. A soberania de Deus escreve na terra com o dedo de Deus.
 
 A escrita de Deus na terra pode vir em forma de acontecimentos que nos sobrevêm repentinamente, quando tudo parece perdido. A mulher adúltera esperava a primeira pedrada, e depois a segunda, e depois a terceira, até a morte. Mas a escrita de Deus na terra, lhe deu nova vida e vida com abundância.

Nem sempre, porém, a escrita de Deus na terra se manifesta dessa forma confortável. O inverso também pode acontecer. Pode acontecer que a escrita de Deus na terra contrarie os nossos planos, aborte os nossos sonhos, ponha um fim às nossas ilusões. Pode ser que a escrita de Deus na terra seja para nós uma declaração de guerra interior. Mas, ainda assim, ela é a escrita de Deus na terra.

Os métodos de Deus quase sempre nos surpreendem. Viramos uma esquina e nos deparamos com a escrita de Deus na terra. Num domingo qualquer, vamos ao templo, e lá nos deparamos com a escrita de Deus na terra. O telefone toca e do outro lado a voz nos informa que Deus escreveu de novo na terra. Por uma palavra, por um acontecimento, por uma notícia na televisão, por uma afronta, por uma tragédia, de repente, nos chega mais uma escrita de Deus na terra.


Não é fácil reconhecer o dedo de Deus escrevendo na terra quando os nossos sonhos são contrariados. Não é fácil reconhecer que  “ todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” Entretanto, a Bíblia nos exorta a reconhecer a soberania de Deus como sendo "a boa e perfeita vontade de Deus para as nossas vidas."

Para isso, seria útil partirmos da premissa de que vida não se restringe apenas ao espaço de 70, 80 anos que possamos ficar aqui, mas vida é a eternidade, é o espaço de tempo compreendido antes de nosso nascimento no planeta terra, até depois de nossa partida para o lar celestial, onde estaremos para sempre com o Senhor.
 
 Vida é atemporal. Se compreendermos esse fato e não duvidarmos da bondade de Deus, do seu amor incondicional, tudo quanto nos sobrevir será mais suportável porque  não o suportaremos com as nossas forças, mas com a força de um Deus  que se inclina para escrever na terra,  histórias que os homens só compreenderão  no céu!

E se não compreendermos esse fato, ainda assim essa será a escrita do Senhor na terra.

      “ O que eu o faço não o sabes agora, compreendê-lo-ás depois.” João 13:7

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* A imagem é da Comunidade Evangélica que nasceu em minha casa, cresceu, e hoje ocupa o maior templo da cidade.  
 
Ana Ribas



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COMPARTILHANDO CRISTO.
ANA MARIA RIBAS.


UMA EXPERIÊNCIA COMPARTILHADA COM A IGREJA

Como faço toda quarta feira à noite,  fui  preparada para liberar uma mensagem bíblica, em um local de reuniões, aberto para pessoas de todos os credos.  Somos um grupo de irmãos que nos reunimos uma vez por semana, com o objetivo de acolher a todos,  sem distinção denominacional. Por causa dessa abertura e porque o local é fora de um templo,  muita gente tem liberdade para  chegar ali.

 Gosto de escrever e Deus tem-me dado o dom de ensinar. Falar ao microfone para uma platéia atenta é algo relativamente antigo em minha vida, mas que agora ressurge de maneira nova, sem vínculo denominacional.  Porque voltei, depois de 7 anos na caverna,  é outra história que, qualquer dia vou liberar. Mas por enquanto, não.

O que quero compartilhar diz respeito a hoje. Quando cheguei ao local, uma vez mais incomodou-me a muda ordem silenciosa. Todas as pessoas sentadas, quietas, caladas, como se tivessem embarcado num trem, apenas esperando a partida.  E a maquinista era eu. Piui, fom,fom,fom, fom.... Sempre que chego sinto o esforço que deve sentir a chefe de uma torcida organizada.

Meu Deus, entre nós não deveria ser assim. Entre nós deveria haver muito mais do que um elaborado silêncio de respeitosa reverência. Afinal, estamos reunidos em nome de um Deus vivo e a palavra dele diz que  "aonde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles." Estaria Jesus em nosso meio apenas calado, apenas esperando que eu ou outro  abríssemos a nossa boca para que Ele pudesse, enfim, falar?

Deus, pensei - há quanto tempo isso me incomoda profundamente e  não faço nada, esperando que outros façam? Há quanto tempo venho apenas  liberando mensagens contra essa maneira muda de celebrar a Deus, contra essa maneira de contar apenas com as palavras dos outros, com o entusiasmo dos outros, com a fé dos outros e nada muda? Há quantos séculos  a assembléia morre de olhos abertos e boca fechada,  sem a possibilidade  de expressar o Senhor? Há quanto tempo vejo  todos olhando para baixo e para o lado,  vagamente enviesados, ligeiramente assustados, como se expressar a Cristo diante dos irmãos, fosse tão perigoso quanto comparecer em um tribunal?

 Mas se para isso fomos chamados, para testemunhas de Jesus Cristo. Então, por que? Por que não se ensina o povo a sair do entorno do tanque de Betesda e a caminhar com suas próprias pernas em direção a Jerusalém? Porque há tantos mudos e paralíticos esperando o mover de águas que nunca se movem, enquanto apenas um ou outro privilegiado, consegue o milagre de poder enfim anunciar as grandezas do Senhor?

Resolvi parar de perguntar e começar a responder. Se alguém tinha que começar, que começasse por mim. Tomei a firme decisão de me lançar nesse novo  tão antigo, que remonta aos tempos dos primeiros apóstolos.

O que fiz foi muito simples, mas foi dirigido pelo Senhor. Sem Ele nada, com Ele tudo.  Coloquei o povo primeiramente em pé, e depois marchando como Josué, em volta do muro de Jericó. Apenas marchando e louvando.  Uma longa fila  formou-se atrás de mim  e cada pessoa que chegava, tratava logo de assegurar a sua vaga no trem da bênção e levantar a voz a Deus em oração. Foi glorioso. Os mudos falaram e não somente falaram, como também expressaram-se. Arte cênica e poder de Deus: uma bela parceria!

 Em seguida, abri oportunidades para os testemunhos livres. Como livre deveria ser tudo na igreja do Senhor, pois para a liberdade Cristo nos conquistou. Vários testemunhos aconteceram, testemunhos de irmãos cuja voz eu nunca ouvira: eles falam!

Depois, escolhi um texto bíblico, o Salmo 19. O Salmo 19 tem palavra para os ímpios, para os judeus e para a igreja. Disponibilizei para que, cada um daqueles que quisessem participar, lessem e compartilhassem o versículo que lessem. Grande parte da igreja leu e compartilhou. Aqueles que tinham dificuldade para expor o versículo, eu socorria. Mas o Espírito de Deus dirigia. Encerramos orando uns pelos outros e de mãos dadas cantamos um hino. Foi como no princípio.

Essa é a igreja de Atos dos Apóstolos. Se as hierarquias religiosamente constituidas não atrapalhassem, teríamos em todo o tempo a igreja do Senhor: Cada qual trazendo o seu Cristo à mesa do banquete para ser compartilhado entre cada um. E tudo tão espontaneamente rico.  Cada pessoa, crente ou não, enfim liberta da maldição do Salmo 115: "Os ídolos deles são prata e ouro, obras das mãos dos homens. Têm boca, mas não falam, têm olhos mas não vêm, têm ouvidos mas não ouvem,  têm nariz mas não cheiram, têm mãos mas não apalpam, têm pés mas não andam. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e os que neles confiam." Salmos 115: 4-8.

Será por isso que há no Brasil tão alto índice de acidentes vasculares cerebrais? Mas isso já é elucubração de uma mente fértil. Até aqui Deus veio comigo, daqui pra frente, tudo quanto eu falar será mera especulação mental.

Ana Ribas



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FALA SÉRIO... EU?

FALA SÉRIO... EU?
ANA MARIA RIBAS BERNARDELLI

  UMA REFLEXÃO DE GRANDE VALOR PARA OS PEREGRINOS DA TERRA.

Na sociedade  contemporânea somos condicionados a  conceber humilhação como uma  experiência distante do cidadão bem sucedido. A idéia de humilhação está intimamente  ligada a  uma condição que só se  torna real quando o indivíduo é rebaixado publicamente diante de seus pares. Humilhação, para muitos, é um efeito cuja causa está ligada a um desempenho medíocre nos padrões culturais de sucesso.   Dos atributos  inerentes ou conquistados pelo ser humano, fala-se muito em  cultura, honra, sucesso e capacidade de superação. Todos esses requisitos são desejáveis na experiência pessoal. A humilhação, no entanto, é vista como uma vilã, a usurpar do homem a honra que lhe é devida como coroa da criação.

Não obstante, a humilhação é condição inerente à espécie humana. Nada se fez para tê-la e nada se pode fazer para deixar de tê-la.   Do nascimento à morte, ela nos acompanha nas melhores e nas piores situações, das mais altas às mais baixas camadas sociais.  Desde a queda no Jardim do Éden, quando pecaram os nossos primeiros pais,  a humilhação está entranhada na existência humana.

A humilhação  não depende do desempenho de habilidades humanas ou da estratificação social. Ela existe de forma independente, mas só pode ser substantificada por uma visão espiritual mais ampla. Só o homem  espiritualmente evoluído consegue captar a companhia constante da humilhação, não de forma objetiva, mas de forma subjetiva,  na experiência pessoal e diária.

Ela está presente nas relações interpessoais do homem com Deus e com o Universo e ocorre muito mais na verticalidade do que na horizontalidade. Trocando em miúdos: a humilhação existe em decorrência do fracasso do homem como um ser criado por Deus  para servi-lo, e não do fracasso do homem em relação a qualquer habilidade  social para servir ao seu projeto pessoal.

 A humilhação é o alicerce e o teto da nossa casa terrestre, do tabernáculo da nossa habitação. Humilhação é a matéria em que se tornou o nosso corpo contaminado pelo pecado de  Adão, o pecado original que injetou  a decadência física, a precariedade e finalmente a morte, em toda a criação. Por causa disso, “toda a criação geme e chora, aguardando o Dia da Redenção.

 Humilhação é   herança terrena, é  modus vivendi que acompanha a trajetória existencial dos organismos vivos, desde os mais simples até aos mais complexos. Pode ser encontrada, reconhecida e identificada na ameba e no homem, e ambos sofrem a sua ação predadora, inclusiva e intrusiva.

Qualquer ser vivo se humilha debaixo da potente mão de Deus, mas o homem encontra grande dificuldade para se reconhecer humilhado. Por isso, às vezes, Deus escolhe alguns meios para  nos fazer lembrar  a condição da nossa humilhação. Seja você cientista, político, médico, jurista, magistrado ou  legista, um dia, todos teremos que nos curvar à condição da nossa humilhação.

 Os projetos humanos podem nascer belos, perfeitos e grandiosos. A trajetória do homem pode ser um sucesso de conhecimento, de honra e de  ascensão. Contudo,  o que hoje está no apogeu, um dia, não escapará à decadência, à morte, à extinção. Isso é humilhação.

A humilhação está relacionada aos jovens e aos velhos, aos ricos e aos pobres. Ela  viaja  num Fiat 147 amarelo ou numa S10 branca, numa carroça ou num avião. Ela reside no Jardim Cruzeiro em Cruzeiro, e na Avenida Paulista, em São Paulo. Ela veste quem pode ter  um Giorgio Armani e quem nada tem para  vestir. Ela é um elemento intrínseco na constituição física dos doutores e dos miseráveis, dos que criam leis e as executam, como também dos que sofrem a pena dessas leis.

 A humilhação é eclética, não escolhe caneta ou enxada. Se vc se inclui no grupo dos seres vivos, ainda que seja racionalmente privilegiado, o seu corpo de humilhação não difere muito do corpo de humilhação de uma ameba, de um gato, de um cachorro. Ambos estão condenados à extinção, e junto com ela, toda honra e toda glória humana também será extinta.

É importante que tenhamos uma boa consciência da nossa porção de humilhação, até para que não pensemos de nós mesmos, mais do que convém. Um exercício de humildade no reconhecimento do nosso corpo de humilhação não nos seria de pouca valia. Ocasião para isso não nos falta. Há humilhação demais em todas as circunstâncias provisórias dessa vida.

 Há humilhação quando estamos doentes, mas também há humilhação quando estamos saudáveis. Há humilhação quando estamos com fome e há humilhação quando estamos satisfeitos.  Há humilhação quando falimos a  empresa, mas também há humilhação quando a fazemos prosperar . Há humilhação quando perdemos a política e há humilhação quando ganhamos a política. Há humilhação quando pagamos as contas  e há humilhação quando não conseguimos pagá-las. Há humilhação quando sepultamos um filho e há humilhação quando o concebemos.

O DNA humano coletivo tem a marca da humilhação, da precariedade e da morte. Todas as coisas concernentes à  vida do corpo e da alma  tem o selo da finitude.

Diante desse quadro  desalentador, que diremos à vista dessas coisas? Felizmente, Deus tem o remédio para nos resgatar dessa perspectiva tão sombria! Vejamos o que Ele diz em sua Palavra: “ Mas a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de subordinar a si todas as coisas.”

Ele também diz “não se turbe o vosso coração. Crede em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai, há muitas moradas.” Essa morada inclui todo o nosso ser. Contudo, não levaremos para o céu nada que contenha o selo do provisório. O nosso corpo de humilhação será transformado para ser igual ao corpo de glória do Senhor Jesus Cristo. A qualidade de vida que vamos ter é a mesma qualidade de vida inerente,  cujo poder ressuscitou o Senhor Jesus de dentre os mortos.

Meu amigo, meu irmão: não sei se vc acredita na Palavra de Deus. Se vc não acredita, ainda terá que admitir como verdadeira a  precariedade da sua condição de vida, porque essa é a nossa experiência pessoal e diária. Não é preciso muitas elucubrações  filosóficas, basta  render-se às evidências.

   Mas eu espero que vc creia na Palavra de nosso grande Deus. Ela traz alento, remédio, esperança, força e coragem para continuarmos os dias da nossa peregrinação nesta terra,  até que sejamos conduzidos à Pátria definitiva, com um corpo glorioso, aonde estaremos para sempre com o Senhor.

Ana Ribas



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A IGREJA DOS SONHOS DE DEUS.

A IGREJA DOS SONHOS DE DEUS.
Ana Maria Ribas.

Quando o apóstolo João estava exilado na ilha de Patmos, por volta do final do primeiro século, a igreja já enfrentava dificuldades para se manter distante da influência do sistema religioso mundial. Por isso, já velho e no final da carreira, o Senhor lhe concede uma visão e de posse dessa visão, ele então, faz um apelo aos vencedores, para que vencessem a situação degradada do cristianismo de todas as eras.

O que João viu não era novo e nem velho. Apesar de suas palavras serem consideradas profecias, sabemos por revelação do Senhor que as igrejas ali representadas são um tipo das igrejas de todas as eras. Contudo, naquela ocasião, ainda se guardava a unidade da fé e todos os irmãos de uma determinada localidade formavam um único corpo cuja expressão era local em âmbito universal.

Isso é facilmente comprovado nas cartas que ele endereçou às igrejas da Ásia: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Para cada igreja corresponde uma cidade e esse é o padrão estabelecido pelo Senhor. Sempre que Paulo mencionava a palavra “ igreja” ele se referia a uma igreja local e sempre que ele mencionava a palavra “ igrejas” ele se referia a várias igrejas locais, em várias cidades, em uma mesma região. Por exemplo: Paulo escreveu às igrejas da Galácia. Galácia era uma província e não uma cidade. Por isso Paulo usou a palavra “ igrejas” no plural. Mas quando escrevia a uma igreja em uma cidade, Paulo usava a expressão no singular porque havia apenas uma igreja em cada cidade. Foi assim com a igreja em Corinto, com a Igreja em Roma, com a igreja em Filipos.

Em se tratando da igreja temos que discernir o aspecto universal e o aspecto local: a igreja universal é composta por todos os santos de todas as épocas e é real mas invisível. A igreja local é composta por todos os santos de uma mesma cidade. Ela tem por base uma localidade e é exatamente do tamanho de uma localidade, tendo um aspecto físico e um limite físico. Nela os santos podem ir e apresentar seus problemas, serem edificados conjuntamente, instruídos, consolados pela fé mútua e pelo funcionar de todos os membros.

O funcionar de todos os membros é condição para a edificação da igreja e tem sido um aspecto grandemente negligenciado dentro do cristianismo organizado. O desejo inicial do coração de Deus, manifestado na Velha Aliança, era que cada israelita lhe fosse um sacerdote. Por causa do episódio do bezerro de ouro, relatado em Êxodo 32, o Senhor determinou que apenas a tribo de Levi fosse separada para o serviço sacerdotal. Por esse motivo as demais tribos se tornaram inadequadas para exercerem a realeza e o sacerdócio. Mas a Nova Aliança traz-nos de volta ao princípio, conforme está escrito em 1 Pedro 2:9 : “ Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.”

Jamais foi desejo do coração de Deus que algumas pessoas lhe sejam sacerdotes enquanto outras se ocupem dos assuntos mundanos. Jamais foi desejo do coração de Deus estabelecer uma classe intermediária de irmãos que se ocupem das coisas santas, enquanto os demais se ocupam das coisas profanas. Jamais será desejo do coração de Deus fortalecer o sistema de nicolaísmo pelo qual uma hierarquia toma para si cargos e funções desprovidas de realidade espiritual. Não obstante, hoje, a sublime missão de expressar o Senhor fica restringida a alguns poucos privilegiados que o cristianismo organizado separa e comissiona em postos e funções.

Dentro desse conceito, nas reuniões dos santos, apenas esses podem funcionar enquanto os demais compartilham a mudez dos ídolos. Não há partilha, não há desfrute, não há comunhão. Nesse sentido, as reuniões dos santos tomam para si a maldição que está registrada no Salmo 115: “ Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Tem boca mas não falam, tem olhos mas não vêem, tem nariz mas não cheiram, tem mãos mas não apalpam, tem pés mas não andam. Tornem-se semelhantes a eles os que o fazem e os que nele confiam.”

Nosso Deus é um Deus vivo que fala, que vê, que cheira, que toca, que anda. Por que razão, nós, que temos o habitar interior do Espírito seríamos semelhantes aos deuses que não falam, que não vêem, que não cheiram, que não tocam, que não andam? Se confiamos no Deus Vivo precisamos expressar o Deus vivo. E nessa expressão temos então o modelo que Paulo estabeleceu para os crentes de Corinto:

“Quando vos reunis cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação.” "Cada um" e não apenas um ou dois.

Essa é a igreja dos sonhos de Deus.

Ana Ribas



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O MELHOR DA TERRA.

Uso essa ferramenta Mensagem Religiosa, mas não gosto muito do termo porque ele não condiz nada com aquilo que escrevo. Eu fujo léguas da religião, e de toda e qualquer forma de religiosidade. Mas, como grande parte dos meus leitores se sentiria traida, se eu escrevesse esse texto e desse a ele outra apresentação, então, para não equivocar a maioria, postei nesta secção,  enquanto peço a Deus que esclareça a todos vocês que foi a religião que matou Jesus. Nunca diga eu pertenço a tal ou tal religião. Diga que pertence a Cristo.

Hoje o tema é sobre uma questão que me vem sendo colocada ultimamente. Algumas pessoas me escrevem ( Deus, eu já recebo e-mails do Brasil todo, obrigada!), as pessoas escrevem perguntando se depois de ter entregado a sua vida a Cristo, elas podem fazer isto ou aquilo.

 São dúvidas específicas que deveriam exigir uma resposta específica. Não obstante, não tenho essa resposta específica para lhes dar. Mas tenho princípios básicos que poderão lhes orientar.

 Esses princípios  precisam ser analisados sob um ponto de vista mais amplo.  Em primeiro lugar, você precisa perceber que a cruz é um fato histórico. A cruz crucificou o Nosso Senhor. Quem estava por trás da cruz que crucificou o Senhor? O mundo, com o seu sistema mundial que inclui religião, política, filosofia, e tantos outros aspectos.

Na  crucificação do Senhor, estava o selo dessas três categorias de pessoas, de grupos sociais,  representados por Caifás ( sumo sacerdote)  Pilatos( governador) e o populacho (cada qual com a sua filosofia de vida).

Portanto, ninguém pode negar que o mundo crucificou o Nosso Senhor. Como era, então, é agora. De um lado está o Senhor, no meio a cruz, e de outro lado o mundo.

A cruz é um fato histórico que não pode ser ignorado. A primeira questão que se apresenta, pois é essa: de que lado você está? Há o mundo de um lado, o Senhor do outro, e no meio a cruz. Você precisa decidir firmemente se deseja ficar ao lado do Senhor, ou ao lado do mundo, porque a cruz foi historicamente estabelecida.

 A cruz é um paradoxo:  enquanto faz a ponte para todo aquele que queira atravessar o abismo, também impede qualquer possibilidade de reconciliação entre nós e o mundo. Como podemos ficar ao lado de um mundo que crucificou o Nosso Senhor?

Em segundo lugar, em se reconhecendo como alguém que está ao lado do Senhor e, portanto, oposto ao mundo, surge a primeira dificuldade: Trouxe consigo o seu coração? Ou ele ficou lá? O que mais você deixou daquele lado?

Se o seu coração ficar do lado de lá, não vai adiantar a exposição de nenhum princípio espiritual porque tudo tem que ser feito à maneira da vida, não por normas e nem por regulamentos.

A maneira da vida  é  agir, viver, e se mover, sob a convicção do Espírito. Dessa forma,  você saberá espontaneamente o que deve fazer e o que não deve fazer. Nada lhe será imposto. E digo mais, tudo  aquilo que lhe for imposto pelos homens, não faça,  porque só terá valor para os homens, não terá valor para Deus.

Os homens religiosos gostam de exibir a sua autoridade, catapultada dos regulamentos e das normas religiosas que foram adaptadas da Lei. Eles pinçam da Lei o que lhes convém.  Porém,  não estamos mais no tempo da lei, mas no tempo da graça.

O que é graça? Graça é Cristo, como o Espírito, sendo trabalhado para dentro de cada um de nós. Graça é Cristo,  fazendo por nós  escolhas que jamais faríamos, se a sua vida (dELE) não estivesse firmemente estabelecida dentro do nosso homem interior.

Portanto a questão do posso ou não posso é Deus quem vai lhe responder. Mas  o fato de você querer saber o que fazer para agradar o Senhor, já mostra que o seu coração está inclinado para a boa terra.

Certamente, se você for sensível ao Espírito que em seu espírito habita e tiver  realmente o desejo de viver para o Senhor, Ele mesmo cuidará de lhe plantar em Canaã e de lhe alimentar com o  melhor da terra.

Ana Ribas



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A Garça.

Existem coisas que, se eu fosse um gato, me eriçariam os pêlos. Por sorte não sou um gato, os pêlos ficam  eriçados e ninguém percebe. Só que, o fato de ninguém perceber, me exclui da humanidade porque só eu percebo. Eu percebo o fato em si e também percebo que estou só no perceber. Sou o patinho feio no lago dos cisnes. Sou gato e sou pato. Sou qualquer coisa a ser catalogada,  menos um pontinho a mais no meio da multidão.

 Por causa disso veio a procura. E por causa da procura, o dia seguinte. Sempre esperei que o dia seguinte me trouxesse de volta o sentimento de pertencer. Antes, eu pertencia ao mundo e o mundo me pertencia. Mas fui resgatada do mundo. Fui comprada como o escravo é comprado por um dono bom. Então, passei a pertencer a um povo considerado pelo mundo um apêndice.  E fui feliz até aquele dia trágico, em que o apêndice passou a dar sinais visíveis de  infecção.  É essa infecção que me impede a alegria súbita.

No passo do tangedor, a manada segue, doente. Sigo também, com certa relutância, como segue a boiada, o feitor.  Sou gato, sou pato, ou sou boi? Sou qualquer coisa a ser catalogada,  menos um pontinho a mais no meio da multidão.

Sinto o termômetro subindo, enquanto, só, eu desço. Falta-me, a mim, a temperatura que, nos outros, excede. Não sei aonde me aquecer,  eu que, como a garça, posso até  pisar na lama sem me sujar, mas não encontro um lugar aconchegante para habitar.

Eu só queria pertencer adequadamente, mas, dependendo do momento,  sou gato, sou pato, sou boi  e sou garça. Qual desses quatro seres  eu sou?  Sou qualquer coisa a ser catalogada, menos um pontinho a mais no meio da multidão.
 
Ana Ribas



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O PERIGO DE JÁ NÃO SER.

Gn. 5:24 “ Andou Enoque com Deus; e já não era, porque Deus para si o tomou.”

            Certa vez, eu estava tendo comunhão com um irmão chamado Enoque. Alguns o chamavam de Pr. Enoque. Contudo,  o Pr. Enoque não tinha mais um rebanho. E pastor é todo aquele que cuida de um rebanho. Tem gente que cuida de rebanho e não tem o título de pastor. E tem pastor que tem o título e não tem o rebanho.

         Na verdade, o título nada é. Quem é pastor, é pastor porque Deus conferiu a ele um rebanho e não porque os homens lhe deram o título. E quem não é pastor, não é, não importa o título que receba.

         E o irmão Enoque, já velho, de cabeça branquinha, estava consciente disso. Era e é um homem de Deus. Contudo,  ele tinha umas crises de saudosismo. E sempre que eu ia à casa dele para ter comunhão, percebia isso.

         Percebia também o quanto ele estava inseguro no ambiente religioso: em alguns cultos, ele  subia ao púlpito para ficar ali, meio deslocado. Outras vezes, ele se assentava no meio do povo, sem nenhuma distinção. Havia dentro dele uma divisão: um lado queria ser alguma coisa, e o outro lado sabia que a salvação estava em  ser o nada que Deus queria que ele fosse.

        Era-lhe doloroso lembrar que um dia  fora um contador num grande banco, depois sindicalista, e que depois Deus o separara pra cuidar de um rebanho e que, naquele momento da vida, ele não era mais nem uma coisa e nem a outra.

           Ele estava compartilhando exatamente isso comigo, naquela visita que eu lhe fazia, e sua esposa estava ao seu lado, inquieta, ouvindo essa história mais uma vez.  De repente, o Senhor Deus me inspirou e eu disse a ele o seguinte:

        - “Irmão! Preste bem atenção no que eu vou falar agora: “ Enoque andou com Deus e já não era porque Deus para si o tomou.”
         E prossegui:
         - Que alegria que o irmão já não é mais nada. Que alegria que o irmão não é mais bancário, não é sindicalista, não é pastor. Agora o irmão é aquele que já não era, e Deus pode tomá-lo para si da forma como bem entender.
 
       Isso ilustra o que eu quero compartilhar com todos neste artigo: Enoque andou com Deus e já não era.”

         Quando andamos com Deus,  corremos um grande risco: o risco de já não ser.

É uma coisa maravilhosa já não ser. Porque nós começamos a vida querendo ser muitas coisas até descobrirmos que tudo na vida é vaidade.

          Você é médico? Sinto muito, é vaidade!  É dentista? É vaidade! É juiz de direito? É vaidade! Observe que eu escolhi pra mencionar as profissões mais cobiçadas. Tudo é vaidade!

        Quando nos convertemos ao Deus Vivo, percebemos isso. Mas depois que nos convertemos, só muda o tipo de vaidade: queremos ser ainda muitas coisas na obra de Deus, coisas que continuam sendo vaidade.

         Isso acontece por falta de conhecimento do que é o cristianismo. Cristianismo é um relacionamento íntimo com uma pessoa: Jesus Cristo. Cristianismo não é nada mais do que isso, e nada menos do que isso.Cristianismo implica um conhecimento pessoal de Deus, por meio de Jesus Cristo.

             Quando conhecemos Jesus Cristo de maneira pessoal,  vamos nos despojando de toda vaidade religiosa e nos moldando ao propósito eterno de Deus.

Há cerca de alguns anos atrás  eu já sabia disso. Eu já havia passado por todo esse processo de perceber que a vida religiosa pode ser uma vaidade e achava que estava muito bem em minha casa, guardada dessa vaidade. Sempre que  visitava uma igreja, eu recebia a Palavra, mas também podia perceber a vaidade humana mesclada  na vida dos servos de Deus. Então protelava o momento de voltar plenamente para a comunhão.

            Eu sabia que não poderia ficar para sempre assim, mas Deus estava falando comigo e edificando a minha vida. Meu relacionamento com o Senhor Jesus não encolhera, pelo contrário, ele crescera.

             Isso Deus fez comigo.  Não recomendo a ninguém que tome esse caminho porque Deus teve um motivo para me levar comida na
caverna. Deus sabia que eu precisava de um tempo para estar a sós com ele. Não obstante, eu não estou aqui recomendando  que façam isso. De maneira nenhuma.  A vida da igreja é preciosa demais para ser ignorada.

              Mas, naquele tempo, eu estava na caverna, como Elias, e o corvo me levava comida. A Bíblia  era o corvo que me alimentava. Eu abria a Palavra e Deus falava. Eu comprava um livro e Deus falava. Muitas vezes, eu tinha que repousar o livro ou a Bíblia no peito, para erguer louvores a Deus por tudo que  ele falava através daquelas páginas.

              Durante esse tempo, Deus estava edificando a minha vida. Eu não fiquei em casa vendo televisão, ou gastando o meu tempo em reuniões sociais, eu não estava voltada para as coisas do mundo. Eu estava estudando a Palavra e assimilando a Palavra.
 
             Mas o tempo foi passando e Deus começou a escassear o alimento espiritual. Eu abria a Bíblia e já não tinha revelação da Palavra. Comecei a ficar inquieta. Logo depois disso, eu vi claramente que Deus não precisa de cristãos individualistas. Deus precisa de filhos maduros que o expressem na igreja entre todos os seus filhos. Deus precisa de filhos maduros que levem outros filhos à maturidade.

Por essa época,  Deus enviou em minha casa uma irmã  de fé e ela, exercendo a sua autoridade espiritual,  reconduziu-me ao ministério da Palavra.

          O que ela falou, nessa ocasião, já tinha sido falado por Deus dentro do meu coração. Antes dela muitos falaram, mas o Espírito não havia falado comigo, a comida espiritual estava vindo e eu continuava da forma como estava. Um pouco por comodismo e muito por medo de enveredar pelo caminho da vaidade.
           
              Mas nessa circunstância,  eu já sabia pelo Espírito de Deus, que era para sair da caverna e para sair logo.  Então saí, por causa do propósito de Deus.

              Qual é o propósito eterno de Deus? É a igreja. Por igreja se  entenda o conjunto de pessoas salvas do passado, do presente e do futuro, pessoas que são salvas- não porque estão numa denominação- mas porque têm a vida de Deus.

            Há três aspectos principais no plano eterno de Deus para a Igreja:  em primeiro lugar, é a igreja que tem a filiação para expressar Deus; em segundo lugar é por meio da igreja que Cristo irá encabeçar todas as coisas; em terceiro lugar, é por Cristo encabeçar a igreja, que Satanás pode ser derrotado.

           Primeiro, temos  a filiação, depois, a edificação, e depois vem o reino. Isso é o que importa na vida de um cristão: Quanto você adquiriu da natureza do seu Pai para expressá-lo.  Essa é a primeira questão que escapa de toda vaidade religiosa.

            Não é quantos títulos tem, não é quantas vezes pregou, não é quantos cargos já ocupou na diretoria; não é quantos cultos assistiu, não é quantas pessoas  ajudou, não é quantas funções desempenhou, não é quanto  é conhecido no meio religioso, não é em que lugar se assenta- se no púlpito, ou no último banco- não é quantos elogios recebe, ou deixa de receber.Todas essas coisas são vaidade. Podem não ser vaidade, do ponto de vista de Deus, que precisa de homens dons, para ministrar à sua igreja. Mas do ponto de vista humano essas coisas podem envolver  muita vaidade.

O plano de Deus é que a Igreja ganhe plenamente a sua vida. Se alguém ocupa uma função de importância no corpo, se é pastor, é presbítero, é diácono, é evangelista,  é ministro de louvor e tem a  vida de Deus, isso está de acordo com o propósito de Deus. Mas se alguém tem qualquer dessas funções e não tem a vida de Deus desenvolvida dentro dele,  isso nada é.

            Em segundo lugar, é por meio da igreja que Cristo irá encabeçar todas as coisas.  Essa  segunda questão diz respeito à edificação. A filiação não é apenas o nascimento da vida, mas o crescimento da vida até a maturidade. Isso significa que Deus tem de trabalhar-se em nós e fazer de nós não apenas seus filhos, mas também  seus herdeiros para herdar tudo o que ele é, e tudo o que ele tem.

           Nenhum pai dá posse da herança ao filho sem que ele seja declarado maior de idade, isto é, sem que ele esteja maduro para decidir o que fazer com o patrimônio que herdou.

          Filhos maduros significam filhos que aceitam o senhorio de Jesus Cristo e não se deixam  levar ao redor por todo vento de doutrina.

  A Igreja hoje  tem sido seduzida por todo vento de doutrina e não se confere se tais coisas estão de acordo com a Palavra de Deus. Olha o que disse o apóstolo Paulo acerca disso:

           Efésios 4: 11-14“ E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não sejamos mais como meninos, agitados de um lado para o outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.”

                 E como fazer para escapar da sedução desse cristianismo contaminado pelo adubo do homem? Amadurecendo. Cristãos maduros são aqueles que receberam e desenvolveram plenamente a vida de Deus.

               Há duas maneiras de desenvolver plenamente a vida de Deus: recebendo a instrução segundo a palavra de Deus, aprendendo a doutrina segundo a Palavra de Deus, Palavra essa que nos guarda de toda heresia; e em segundo lugar,  permitindo que Deus opere nas circunstâncias ao nosso redor.

Romanos 8:28 “todas as coisas conjuntamente cooperam para o bem daquele que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.”

             Deus opera nas circunstâncias para nos fazer amadurecer. Uma criança mimada, que recebe tudo o que pede, não cresce. Há situações em que nosso Pai precisa nos restringir.Quanto mais uma pessoa tem a vida e a expressão de Deus, mais ela é restringida em seus caminhos. Não é assim? Os que não têm compromisso com Deus podem fazer tudo, mas os servos de Deus não podem fazer nada. “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém.”

            A edificação vem pelo trabalhar de Deus. Deus trabalha em nossa vida dispondo soberanamente circunstâncias adequadas para o nosso crescimento espiritual.

            Em outras palavras, Deus trabalha em nossa vida pela cruz. Cada um de nós recebemos uma cruz infinitamente menor do que a cruz de Cristo. Essa cruz não nos salva, mas nos edifica, nos prepara para sermos cristãos maduros sob o encabeçamento de Cristo.

            Cristão imaturo é como aquele burro que ainda não foi domado. Quando vem uma carga sobre ele, a primeira reação é escoicear para rejeitar a carga. Cristão maduro recebe a carga sem murmurar. Ele sabe que pode dividir essa carga com Cristo.

              Primeiro vem a questão da vida e depois a edificação.

Quantos de nós sabemos que pertencemos a um reino e que esse reino tem um rei que precisa reinar sobre todas as coisas?
Isso é o encabeçamento.

              A igreja é formada pelos  filhos que receberam a vida de Deus; a igreja é madura quando os filhos são tratados soberanamente por Deus até o ponto de aceitar a sua cruz subjetiva; e, a igreja reina quando todo o corpo se submete ao encabeçamento de Cristo.

Efésios 1: 22-23: “ E pôs todas as cousas debaixo dos seus pés e para ser o cabeça sobre todas as coisas o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas.”

              Primeiro recebe-se a filiação, depois a substantificação da cruz, o  tratamento da parte de Deus que torna um filho maduro e por último, esse amadurecimento  permite que Cristo encabece todas as coisas e   Satanás é derrotado.De que forma Satanás é derrotado? Primeiro na nossa vida pessoal, e depois coletivamente na igreja. É dessa forma que  Deus consegue fazer com que a sua multiforme sabedoria seja conhecida dos principados e potestades, nos lugares celestiais.

              Isso só pode acontecer através da igreja. A Igreja é o corpo de Cristo. Somos o corpo de Cristo e individualmente somos membros uns dos outros. A membresia é uma realidade. Nós não estamos desconectados, estamos ligados pelo Cabeça.

              Aquele que tem um dom, deve usar  o seu dom. Todos temos um dom. Pelo menos um. Foi à igreja que ele concedeu dons com vistas à edificação do corpo. Os dons não são dados para que um irmão apareça mais do que o outro, mas para que o corpo seja edificado.

              Foi por isso que, um certo dia, Deus parou de me trazer revelação na Palavra. Para quê Deus iria continuar dando-me uma palavra de sabedoria se eu não usava essa palavra para a edificação do corpo? Porém, quando eu voltei a ministrar, também voltei a receber alimento espiritual porque agora não era mais para minha exclusividade, mas para compartilhar com a Igreja que é o seu corpo.

              A Igreja é o seu corpo, o corpo de Cristo. Cada um de nós temos que cuidar bem do corpo.Quando não há edificação conjunta há individualismo. Todo individualismo é pecado.  Foi isso que eu vi e por isso voltei a assumir a minha função no corpo.
             
               Por individualismo entenda-se aquele irmãozinho tímido que não participa de nada, que não percebe que ele é um membro do corpo e que a sua falta, faz falta.  Como um corpo sem um braço, ou uma mão sem um dedo, cada um de nós, por pequena que seja, temos uma função dentro do corpo.

              Mas por individualismo também entendemos aquele irmão que de tão importante, mas tão importante, virou uma pedra decorativa que não se  deixa edificar juntamente com os outros.

                 A igreja é comparada a um edifício. Um edifício não é feito de pedras amontoadas, mas de pedras edificadas conjuntamente. Um edifício não é feito de pedras decorativas mas de pedras amalgamadas umas às outras.

                    Nesta mensagem eu vim dizer muitas coisas. Mas a mais importante delas é  que “Enoque andou com Deus e já não era.” Enquanto pensarmos que somos alguma coisa, é porque não estamos andando com Deus.
Ana Ribas



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A NATUREZA DO MINISTÉRIO DE JESUS.




Jesus iniciou seu ministério referendando a sua humanidade. Seu primeiro ato mencionado no caminho da justiça, foi submeter-se ao batismo de João, que era o caminho do arrependimento. (Mateus 3: 13). Não tinha de que se arrepender, mas submeteu-se, para  cumprir toda a justiça, porque estava ali, não como Deus, mas como homem.

Quando foi submerso, saiu logo da água, porque sendo a água um tipo de morte, sob hipótese alguma poderia detê-lo.(Mateus 3: 16). Esse fato  é revelado na Bíblia Sagrada com apenas duas palavrinhas: “saiu logo”. Seguindo o princípio do “quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, boa parte do ministério do Senhor Jesus precisa ser substantificado pelo espírito e percebido nas entrelinhas, para ser plenamente compreendido. Por isso necessitamos de revelação para compreender porque  Jesus “saiu logo da água.” Não é lindo esse detalhe? Só o Espírito do Senhor pode nos fazer notar as minúcias e os detalhes de toda a riqueza dessa Vida.

A aprovação de sua humanidade perfeita não veio dos homens, mas do alto, sob a forma de pomba e sob o referendum de uma voz do céu que dizia: “Este é meu Filho amado em quem me comprazo.”( Mateus 3: 17). O deleite do Pai foi manifestado, não pela exposição da divindade, mas pelo exercício da plena humanidade, quando presenciou o Filho, como homem, saindo, obediente, da água.  O ato de obediência, e submissão à justiça, alegraram o coração de Deus .  Nesse fato está contida a natureza da missão de Jesus, que não veio para compor a imagem vitoriosa que a nação judaica idealizara, mas a necessidade de justiça do Pai, num mundo que sucumbira ao formato do  sistema religioso vigente no meio do seu próprio povo.

Como homem, foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.(Mateus 4). As diversas correntes de pensamento, que exigiam um Messias libertador, não consideraram, sequer, a existência do diabo. A mente humana é orgulhosa demais para admitir que “o mundo jaz no maligno.” No entanto, Jesus não ignorou a presença do inimigo e sempre tratou a terra como um território ocupado por forças malignas e poderosas.

Foi tentado em três áreas, nas quais os homens sempre falham, desde Adão: necessidade de pão, segurança e sucesso. Passou fome, para decretar que nem só de pão viverá o homem, e que as necessidades físicas devem ser preteridas, em favor do espírito. Preferiu zelar pela  própria integridade física a tentar o Senhor, fabricando um milagre sob encomenda. Recusou os reinos do mundo e a glória deles porque, tê-los a seus pés, envolveria adorar o diabo, que é o dono dos reinos do mundo. Optou por seguir o curso normal da humanidade, (sem o pecado,) guardando-se do sobrenatural, que na maior parte das vezes, é fabricado, sob medida, para  promover a  glória do homem.

Ao iniciar seu ministério, não buscou seguidores, na escola do judaísmo. Não chamou sacerdotes, levitas ou descendentes das tribos que foram separadas para o serviço do templo. Escolheu pescadores porque viu o mundo como o mar, e os homens à deriva, no oceano, como peixes. Seus primeiros discípulos foram duas duplas, formadas por dois irmãos:  André e Pedro; Tiago e João. André e Pedro estavam pescando no Mar da Galiléia, mas Jesus os viu pescando homens além do mar, na etapa final da vida.  Não por acaso, Tiago e João estavam remendando redes no barco de seu pai Zebedeu. O que significaria na linguagem espiritual o fato de João ser encontrado pelo Senhor no momento em que remendava as redes no barco de Zebedeu? A resposta está no caráter  do ministério de João que  se tornou o “costurador” oficial das  redes  do cristianismo. Todos os “furos” da rede do Cristianismo foram remendados por João, em seus escritos. Se não tivéssemos João com seu ministério teríamos um cristianismo muito próximo do judaísmo. Tiago foi chamado para morrer;  e para morrer, morreu.  Esses foram os homens escolhidos pelo Senhor para compor o quadro inicial de discípulos: pescadores e pecadores, remendadores  dos desvios causados por homens comuns, sem nenhum histórico religioso ou sacerdotal. Todos profundamente vocacionados para servi-lo.

Cedo deixou Nazaré e  foi habitar em Cafarnaum, chamada a Galiléia das nações, no meio do povo gentio. Quatro ações  nortearam a sua atuação: percorrer, ensinar, pregar e curar. (Mateus 4:12-25). Jesus não escolheu ficar em Jerusalém, assentado na cadeira dos escribas e mestres da Lei. Ele percorreu todo o território de Israel, onde as pessoas “estavam assentadas na região e sombra da morte” ( Mateus 4:16);  nesse percurso, ensinava, pregava e curava.

Ao ensinar, Jesus cumpriu a Lei e, ao pregar, anunciou o aperfeiçoamento da Lei. A lei cobria apenas os atos dos homens, mas o aperfeiçoamento da lei julga palavras, intenções e pensamentos dos homens. Para entregar o Sermão da Montanha, com as suas bem-aventuranças, Jesus simbolicamente subiu a um monte. (Mateus 5). Os conceitos humanos precisavam ser deixados para trás e ao subir o monte Jesus fez um convite para que  as multidões elevassem  os pensamentos, à proporção em que ganhavam uma visão menos restrita  sobre as realidades espirituais.  Esse convite para contemplar o infinito se fez necessário porque o seu discurso seguiria um padrão de pensamento muitíssimo elevado, desprezando o imediatismo do presente século, e concentrando todas as  esperanças no futuro.  Se os homens contemplam a terra, é-lhes impossível assimilar o sentimento de renúncia que se segue ao Sermão do Monte. Afinal, as bem-aventuranças vieram sepultar para sempre os sonhos ufanistas de glórias terrenas.

Seu ministério nunca dependeu da aquiescência mental, dos métodos humanos de encorajamento ou simpatia.  Seu discurso era anti todos os recursos humanistas que usam a alma como ferramenta de trabalho.  Sua Palavra não era mentalizada, era revelada, portanto, não dependia da mente mas do Espírito para ser examinada, pesada e quantificada.  Segundo o que o Pai lhe mandava dizer, dizia. Quando Nicodemos o procurou para  entender como funcionavam os seus poderes e qual a base da doutrina que manifestava,  declarou que para um homem compreender quem era o Filho do Homem precisava antes nascer de novo, isto é, existir com outra natureza que lhe permitisse substantificar a realidade das coisas espirituais, mesmo vivendo na esfera física. Resumiu em sua breve existência três aspectos fundamentais  do poder de Deus: justiça, santificação e redenção. Nenhum desses aspectos foi experimentado por homens que não nascessem de novo, fossem eles religiosos, amáveis, prosélitos ou bondosos. O ponto que Jesus tocou era nevrálgico e tinha profundidade certeira para  provocar em Nicodemos, e em todos os homens moralmente corretos,  total desencanto pelas demandas religiosas, sociais e éticas, de todas as épocas.   Todos os Nicodemo’s devem ser capazes de perceber que  os atributos de uma boa alma são verdadeiros usurpadores do lugar do Senhor  porque ocupam seus pensamentos, roubam sua  energia  e  abstraem a centralidade da cruz em suas vidas.

Desde o princípio de seu ministério Jesus percebeu que o grande inimigo de sua obra era a religiosidade estéril. E por religiosidade estéril não se entenda tão somente o judaísmo de ontem mas também o cristianismo decaído de hoje que direciona a capacidade mental dos cristãos para obras socialmente aceitáveis, para cerimônias rituais, para argumentações doutrinárias, para mobilizações inúteis, para a prática indiscriminada  de dons e talentos que expõem mais o vaso do que o Espírito de Deus.   O tempo do Senhor na terra foi breve mas seu propósito foi cumprido trazendo a toda criatura a possibilidade de obter a sua  justiça, a sua santificação e a sua (nossa) redenção. Tudo o que competia ao Senhor fazer pelo homem já foi feito. Ninguém pode alegar ignorância quanto à eficácia de sua missão desde que queira conhecer as coisas profundas de Deus e tenha seriedade no trato com a sua Pessoa, vida e obra. O ministério do Senhor é tão enérgico que nos emancipou das ilusões de um cristianismo manufaturado que quer fazer pelos cristãos mais do que o Senhor já fez. A natureza do ministério do Senhor é tão cristalina que continua nos livrando da incompetência de mentes que não conseguem a  revelação da Palavra de Deus e ministram apenas as palavras da Bíblia. O caráter do ministério do Senhor é tão diligente que nos libertou de pensamentos pobres, pequenos e mesquinhos, de líderes que vêem no ministério da Palavra a oportunidade de falar aos homens mesmo que Deus não fale.  A proteção do Espírito do Senhor  é tão  suficiente que sempre nos faz discernir os púlpitos de purpurina aonde brilha mais a inteligência do pregador do que o próprio Senhor. Confrontar, comparar, conferir, analisar é a palavra chave. Não somente com a letra da Bíblia mas com a sabedoria que o Espírito disponibilizou em nosso coração e que nos ensina todas as coisas. Sempre que o nosso coração rejeitar os métodos e princípios empregados para o ministério da Palavra façamos o teste da veracidade comparando, confrontando, conferindo, analisando com o exemplo que o Senhor Jesus nos deixou. Com tantos ventos de doutrina soprando, é a única forma de escaparmos dos vendavais.
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Ana Ribas



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A ORIGEM DA CULTURA HUMANA



“ Mas contigo ( Noé) estabelecerei a minha aliança, e entrarás na arca tu e contigo os teus filhos, a tua mulher e as mulheres de teus filhos.” Gênesis 6:18

A Bíblia é o livro de Deus. Esse livro mostra as diversas  alianças que Deus fez com a humanidade para  resgatar o homem da condição de pecado, desde que Adão e Eva pecaram no paraíso. A primeira aliança foi logo após a queda e está no livro de Gênesis, capítulo 3, versículo 21: “ Fez o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu.” Neste versículo está implícita a primeira aliança entre Deus e o homem. Nessa primeira aliança, o Senhor sacrificou um cordeiro – porque sem derramento de sangue não há remissão de pecados – e usou a pele do animal para vestir a nudez de Adão e Eva. Esse sacrifício é um tipo do sacrifício de Cristo.

             A Bíblia tem muitos tipos que apontam para a pessoa de Jesus Cristo e o primeiro deles foi esse cordeiro inocente sacrificado para cobrir a nudez do homem. A nudez do homem representa a sua condição decaída e pecaminosa e o sangue derramado representa o sangue de Cristo que um dia seria vertido na cruz do Calvário, para nos justificar diante de Deus e nos apresentar vestidos diante dele.

Sem Cristo o homem está nu. Mesmo que ele pratique boas obras, que faça caridade, que procure viver uma vida sem pecado, mesmo que ele se ocupe apenas de sua família e de seu trabalho, sem nunca fazer o mal intencionalmente, ele ainda continua nu. Não há a menor possibilidade do homem comparecer vestido diante de Deus pela prática das boas obras. Semelhantemente ao primeiro casal,  nós continuamos pobres, cegos, miseráveis e nus, enquanto não tivermos Cristo como nosso revestimento.

               Cristo, pelo Espírito Eterno se ofereceu uma única vez  na cruz do Calvário em lugar do pecador. Tal qual aquele cordeiro sacrificado em favor de Adão e Eva, Cristo, na plenitude dos tempos, veio ao mundo para morrer em lugar do pecador, e se Ele não tivesse vindo, ainda estaríamos nus. A maior colônia de nudismo é o Planeta Terra. Nada cobre a nudez do homem nesta terra, a não ser o sangue de Cristo. Por isso o homem religioso, o homem moral, o homem “certinho”, o homem “ bonzinho”, sem Cristo, está nu, e vai comparecer ao tribunal de Cristo com as suas vergonhas descobertas.

          O grande problema é que alguns não sabem que estão nessa condição, e naquele dia serão surpreendidos pela própria nudez.

Assim que Adão e Eva foram cobertos pela pele do animal sacrificado,  tiveram um novo início. Nesse novo início,  lhes nasceram dois filhos: Caim e Abel.

           Certamente Adão e Eva relataram a seus filhos a maneira como o Senhor Deus cobrira a sua nudez e eles aprenderam que, para se relacionar com o Senhor, eles não poderiam comparecer nus, isto é sem uma cobertura espiritual.

         Abel aprendeu essa lição e quando foi apresentar uma oferta ao Senhor, trouxe dos primogênitos de suas ovelhas, seguindo a maneira de Deus.  Dessa forma, Abel estava declarando ao Senhor,  que as ovelhas sacrificadas representavam a sua condição de homem nu, miserável,  pecador, que só merece morrer. Então, Abel matava uma ovelha e ela o substituía em sua morte. Aos olhos do Senhor, quem estava morrendo ali era Abel, e não a ovelha. Dessa forma, a ovelha substituía Abel na morte, assim como o Senhor Jesus nos substituiu na morte de Cruz.

        Caim porém não aprendeu a lição e trouxe dos frutos da terra uma oferta ao Senhor. Aparentemente, as duas ofertas eram boas. Mas o Senhor não aceitou a oferta de Caim, só aceitou a oferta de Abel.

O princípio espiritual aqui é o seguinte: Caim era um homem meramente religioso. Ele pensava poder se relacionar com Deus com base em suas ofertas de sacrifício. Afinal, Caim lavrara a terra, semeara, cultivara, colhera, e após todo esse trabalho, trouxera ao Senhor o produto da terra. O Senhor porém não se agradou da oferta de Caim porque ele não se agrada de oferta de suor. Tudo o que custa  suor não tem valor de oferta para Deus. Nenhuma obra realizada pelo homem pode ser suficientemente boa para nos reconciliar com Deus. Somente a obra realizada pelo Senhor Jesus, cobre o preço estipulado para a redenção.

            Com base nesse princípio eterno, a Bíblia diz que “ atentou o Senhor para Abel e sua oferta, mas para Caim e para a sua oferta não atentou.” ( Gênesis 4:4-5)

A esta altura o mundo já estava contaminado pelo pecado original. O homem já era um veículo natural para o pecado. Por causa disso, Caim irou-se e sentindo uma profunda inveja de seu irmão, decidiu mata-lo. Seria interessante que todos nós pensássemos que a causa do primeiro homicídio na terra foi  uma religião. Abel entendeu a ordem de Deus e a cumpriu. Caim não cumpriu a ordem de Deus, e matou aquele que havia cumprido.

             Quando Caim matou Abel, Adão e Eva tiveram outro filho. O nome desse filho era Sete. A partir daí haveria duas linhagens na terra: A linhagem de Sete e a linhagem de Caim. A linhagem de Sete era piedosa e a linhagem de Caim era maligna.

No capítulo 4 do livro de Gênesis vemos que os descendentes de Caim foram se “malignizando” cada vez mais e como resultado dessa “descida” a linhagem de Caim criou as bases de uma civilização corrompida. A Bíblia diz que Caim saiu da presença do Senhor ( versículo 16) edificou uma cidade e deu a essa cidade o nome de seu filho Enoque.

            Na sétima geração de Caim já estavam fixados os termos rudimentares  da atual cultura humana: um de seus descendentes se dedicou à criação de gado, outro a tocar harpa e flauta e ainda outro a confeccionar objetos de cobre e ferro. Cada um desses ofícios se referem a três necessidades humanas básicas: Subsistência econômica, diversão e proteção. Isso aponta para o fato de que, sem Deus, o homem  tem todo tipo de necessidade. Sem Deus, o homem cria gado para comer, toca flauta para se divertir e fabrica armas para se defender. Tal era a situação dos descendentes de Caim e tal é a situação do homem moderno hoje.

           Resta saber: seria a comida, a música e as armas as únicas necessidades humanas? Há um vazio existencial dentro de cada ser pensante que só pode ser preenchido por Deus.
             
           Olhe para uma luva, sem mão: ela é vazia, sem forma. Coloque a mão na luva e você verá que a luva foi feita para conter a mão. Sem Deus, somos vazios como a luva sem mão. Com Deus, a luva ganha sentido, direção, movimento e vida. Deixe Deus preencher o vazio da sua vida.

Ana Ribas



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A PATERNIDADE DE DEUS.

                  “Que tendes vós que dizeis esta parábola acerca da terra de Israel dizendo: os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos se embotaram? Vivo eu, diz o Senhor Jeová que nunca mais direis este provérbio em Israel.” Ezequiel 18:2,3.

                  Eu me surpreendo com os arrazoados psicológicos que o homem engendra para se eximir da  responsabilidade de ser agente  de seu próprio destino. A grande tendência humana é inventariar inúmeros “culpados”para justificar esta ou aquela situação que lhe tenha advindo como consequência de suas próprias escolhas. Isso é tão antigo quanto a humanidade.

                 Já em Israel, ao tempo em que vivia o profeta Ezequiel, essa maneira de pensar era largamente difundida: “os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos se embotaram”. Essa era a justificativa encontrada para explicar o estado de extrema decadência moral em que se  encontrava a nação outrora tão abençoada. Mas o Senhor Deus põe um fim a esse maneirismo psicológico quando diz: “nunca mais direis este provérbio em Israel.”  Deus jamais consentiria que as consciências continuassem a ser acalmadas com um axioma tão barato e tão isento de responsabilidade pessoal.
             
               Na verdade, ninguém pode fugir do fatalismo da filiação natural apenas até que chegue à idade da razão. Dali para frente, qualquer um de nós, independente da herança atávica que recebemos, podemos transformar nosso destino, o destino de nossa casa, o destino de nossa nação.
             
              Isso me leva a pensar nas heranças de tradição religiosa que são legadas de geração a geração e que se aceitam passivamente, sem questionamentos mais profundos. De alguma maneira misteriosa, por trás do apego às tradições, existe sempre uma transferência de responsabilidade, como se perpetuar sacrifício de tolos fosse – pasmem! - não somente um dever filial mas uma fatalidade  inevitável e   intransferivel.

             Embora o indivíduo tenha toda  liberdade para se mover e realizar os seus atos de cidadania consciente, quando chega a hora de examinar e provar as escolhas espirituais, ele se defende da mudança alegando uma pretensa paternidade espiritual. Para tudo o indivíduo tem escolha, menos para conferir na Bíblia Sagrada de onde provêm a sua religião, quais os fundamentos da sua fé – se é que eles existem.
           E foi refletindo em tudo isso, no quanto precisamos de coragem para assumir a nossa verdadeira identidade, não aquela que nossos pais construiram em nós mas aquela que Deus quer imprimir em nossas vidas, foi pensando em  como é sutil esse processo de mudança,  que eu me lembrei da experiência que tive com um livro de conteúdo espiritual.

         Há algum tempo atrás, fui atraída para esse livro porque li o comentário de uma pessoa que dizia: “se eu tivesse que ir para uma ilha deserta e me oferecessem a possibilidade de levar comigo apenas dois livros, um seria a Bíblia Sagrada e o outro este livro  Adquiri um exemplar logo depois. Mas qual não foi a minha decepção quando me deparei com um conteúdo que me pareceu massante e cansativo.

          Alguns anos se passaram.  Novamente, por acaso,  voltei a ter o livro em minhas mãos e dessa vez  o livro teve sabor. Não era mais insípido.  Quem mudou? Com certeza, eu mudei. A vida tem me ensinado a ser mais disciplinada e o conteúdo do livro nada mais é do que um manual prático para quem aprendeu a suportar o jugo da disciplina de Deus.

         Com certeza, o homem é um ser em permanente mutação. Que esse processo de mudança seja consciente, seja desejado, seja burilado com a permissão do homem mas que seja, sobretudo, orientado pela ação do Espírito Santo de Deus. Ele é o único capaz de nos dar a visão de que,  se os pais comeram uvas verdes, não é absolutamente necessário que os dentes dos filhos fiquem embotados.

            Por que? Porque maior que a paternidade do homem existe ,indelével em nosso espírito, o poder da  paternidade de Deus, esperando pela nossa aceitação para ser acionado. Essa paternidade está diretamente relacionada com a natureza de Deus. Tudo o que Deus é, com exceção da deidade, pode ser imprimido em nós. O caráter de Deus com todos os seus atributos de bondade e justiça  pode permear o nosso ser, os nossos atos, as nossas escolhas, fazendo de nós seres chamados, transformados e conformados à imagem e semelhança de Cristo. Isso envolve um processo, um metabolismo, uma mudança. Mas essa mudança precisa ser voluntária. Precisamos querer mudar. Precisamos nos compreender como seres espirituais, saindo da esfera do paternalismo genético.
                 
            Esse é o nosso desafio, a nossa luta subjetiva de cada dia. Encará-la com determinação só é difícil no começo. Na sequência Deus cuidará de nós, como um Pai amoroso cuida de cada detalhe da vida do filho.
                                                                               
Ana Ribas



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REFLEXÕES DE UM LAVRADOR.

É tempo de chuva, da boa chuva temporã ou serôdia, aquela que vem para abençoar a terra e fazê-la produzir mais cedo os seus frutos. É tempo de plantar e também é tempo de colher.

 Na lavoura de Deus não há épocas desfavoráveis, não há clima seco, não há estação sem flor. Na lavoura de Deus o tempo de plantar é hoje,  o tempo de colher é agora, o tempo de florescer é  imediato.

Deus quer lavradores fiéis que semeiem, plantem e colham, segundo a sua disposição de abençoar o seu povo. Não observe o terreno, trabalhe a terra. Toda terra precisa ser trabalhada para que a sua natureza seja revelada.

O lavrador diligente é aquela que vê as pedras, mas as remove. Que contempla a dureza do solo, mas também acredita  na força regeneradora da semente. Que coloca sua fé na vocação da semente e não na pobreza do solo. Deus fez o solo e também fez a semente. Deus fez todas as coisas para o seu próprio fim. Deus é poderoso para fazer de um solo ruim, um campo fértil. E também é soberano para fazer de uma terra fértil, um deserto sem esperança de produção.

Nestes tempos do fim a “tecnologia” de Deus se manifesta de múltiplas formas. De onde não se espera uma  colheita, surge uma seara.  Quase sempre ele nos surpreende com o seu poder de transformação. Não espere compreender  para semear. Não espere dominar a “técnica” da semente, do plantio, da colheita, da completação de todas as coisas, porque nenhum lavrador consegue saber quantos homens se alimentarão com o grão de trigo que  semeou. Não compete a ele o fim, mas o começo. Deus precisa de nós para um grande começo.

Na vida de um grão de trigo sempre existe um grande começo. Nesse começo, silenciosamente - um dia que ninguém sabe qual é -   ocorre uma grande explosão de vida e o milagre da regeneração acontece.

Todo crente é um milagre de regeneração. Semeie vida, plante a semente da Palavra de Deus. Não olhe para a terra, olhe para o milagre da vida. Não olhe para o solo, olhe para a vocação celestial que um dia fez, de mim e de você, trabalhadores da seara. Trabalhe, lute, semeie, cuide...mesmo que a terra possa se mostrar improdutiva, limpe o suor do seu rosto com  as mãos cheias de fé. Viva feliz com o resultado da colheita. Porque essa não depende só de você, mas aquilo que depende de você, faça-o com todas as forças do seu coração.

 De boa lembrança seria saber que o “grão de trigo precisa ser moído para se fazer pão.” Às vezes Deus nos escolhe para semear o trigo, mas também às vezes, ele nos escolhe como grão de trigo,  para ser moído,  e transformar-nos  em pão. A moenda faz o grão de trigo gemer. O calor do forno acaba com qualquer expectativa de exibição. Um grão moído perde a forma mas é  alimento, pronto para alimentar multidão. Ninguém jamais viu um ramalhete de trigo ser alimento, sem sofrer uma transformação. Até mesmo Jesus foi moído para se fazer pão.

  Na seara celestial um bom lavrador deve ter a disposição da metamorfose. Ele não é nada, ele é o que o Senhor necessita que ele seja a cada dia.  Ele trabalha a terra e ele é o grão de trigo  que cai na terra. Quando morre, não fica só. Para o grão de trigo, o mais importante é morrer. Sem a morte não há frutos.  Assim, toda história que tem um começo, tem um meio... e, um dia,  terá um fim.

Sejamos felizes, compreendendo que ele nos fez para o seu próprio fim. E  estejamos seguros, compreendendo que esse fim, em última análise,  é apenas o começo-  porque depois disso, virá a  eternidade.  Ele é eterno e para a eternidade nos destinou!
Ana Ribas



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A CISTERNA E O MANANCIAL.

“Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas e cavaram cisternas, cisternas rotas que não retém as águas.” Jeremias 2: 13

Um manancial é uma nascente de águas. É um reservatório inesgotável e  profundo, escondido em lugares não acessíveis ao homem. O homem não consegue tocar o manancial,  a não ser quando as águas se tornam superficiais, quando  brotam na terra.

 Quando essas águas profundas alcançam a superfície para serem desfrutadas pelo homem,  mudam de nome: deixam de ser manancial para ser fonte.

 A fonte é a extensão do manancial, é o seu prolongamento, é  o  cumprimento das riquezas do manancial, riquezas essas escondidas dos homens,  mas agora disponíveis  a todos os que têm sede, através da fonte.

Como um manancial de águas vivas, Deus Pai estava escondido.  Ele não era franqueado ao homem. Para que esse manancial fosse franqueado ao homem, agregou mais um  nome e uma função: tornou-se uma fonte, a extensão do manancial.  A fonte que mudou de nome e fez Deus Pai manancial tornar-se disponível ao homem é Jesus.

Para beber dessa fonte basta ter sede. Ninguém precisa ir ao mais profundo abismo para beber do manancial. Basta beber da fonte. Quem beber, verá que essa fonte se fará dentro dele águas  que jorram para a vida eterna.

Quem tem o Senhor Jesus, tem a fonte que mata a sede. Continuando a beber, e bebendo continuamente, tal pessoa se faz (ela também)  uma fonte  para matar a sede de todos os que estão em derredor.

Todos nós conhecemos pessoas-fontes. São pessoas especiais que procuramos, diligentemente, quando estamos secos, quando o solo da vida parece ser  uma gretadura só. Então, vamos a elas e bebemos. Bebemos da  sabedoria, da  mansidão, da  palavra de fé,  que mata a sede que sentimos de Deus. Tais pessoas atraem todos os homens.

Os homens gostam de água. Aonde existe uma fonte, um rio, um mar, lá estão os homens se banhando nas águas.  Sem água não há vida.

Existem pessoas-fontes, que assim o são, porque bebem de Jesus que é a fonte por excelência.  Para matar a imensa sede do mundo, a fonte conta com a ajuda do riacho... o riacho vira rio... o rio vira mar.  O riacho, o rio e   o mar são graduações do Espírito de Deus. O Espírito de Deus se move sobre a terra, como se move o riacho, o rio e o mar.

Tudo tem origem  no manancial, floresce na fonte,  transborda no rio e desemboca no mar.  O manancial é o Pai, a fonte é o Filho, o riacho é o Espírito. O rio e o mar também são símbolos do Espírito. Quem tem pouco do Espírito de Deus, tem um riacho, quem tem mais do Espírito de Deus,  tem um rio, quem tem muito do Espírito de Deus,  tem um imenso mar.

Essa é a maneira adequada de abastecer-se de Deus.

Mas, o sistema religioso mundial criou as cisternas rotas. As cisternas rotas são cavadas na terra pelo esforço do homem.  Custa muito fazer uma cisterna e logo depois desse esforço, descobre-se que a cisterna não retém as águas: ela está rota.

O sistema religioso mundial é perito na construção de cisternas que não conseguem conter toda a água que existe no manancial e na fonte. A fonte jorra para cima e para o alto. A cisterna vaza para baixo. A fonte  oferece  águas límpidas, a cisterna oferece águas turvas. A fonte nunca se esgota porque vem diretamente do manancial. A cisterna precisa ser abastecida pela chuva e pelo esforço do homem e tanto esforço é inútil, ela acaba por secar.

Os homens deixam do manancial–fonte-riacho-rio-mar, para beberem  em cisternas rotas, cavadas com o trabalho das próprias mãos.  Toda religião é cisterna. Toda religiosidade é produto da cisterna.

 Jesus não veio fundar uma religião. A religião é uma organização que não mata a sede do homem, mas ainda o mantém sedento, aprisionado a regras, preceitos e rituais.  O cristianismo é um organismo vivo, porque é uma Pessoa, a pessoa viva de  Jesus. Essa pessoa em nós,  revela-nos todas as coisas, sem necessidade de códigos externos. A cisterna representa a lei, a fonte representa a liberdade. A fonte corre para o rio e para o mar. Nem a fonte, nem o rio, e nem o mar, podem  ser contidos em uma cisterna.

Tudo o que precisamos fazer é beber e matar a nossa sede na fonte adequada.  Jesus é a fonte do manancial, sua água é fresca e  nos satisfaz.  O Espírito é um rio que refresca e leva a vida por onde passar.

O homem pensa que a cisterna e a fonte são iguais, porque ambas contém água. Mas Deus disse que cometemos uma maldade quando confundimos o manancial de águas vivas com uma cisterna de águas mortas.

Que Deus nos dê entendimento em tudo, e o discernimento necessário para que possamos distinguir entre a cisterna e o manancial.  Só Ele pode fazê-lo, e se permitirmos, Ele o fará.
Ana Ribas



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O AMOR DOS HOMENS E O AMOR DE DEUS.

“Confiai no Senhor perpetuamente, porque o Senhor Deus é uma rocha eterna.” Isaías 26:4

Existe um homem em quem se possa, verdadeiramente, confiar? Talvez possamos confiar em nossos pais, em nossos irmãos,  porque somos do mesmo sangue. Mas mesmo nessa confiança, nunca devemos esquecer que o amor humano é limitado pela própria condição humana.

 O coração do homem não sabe amar. A natureza decaída que existe no velho homem sempre encontra um jeito de macular o amor. Por mais que amemos os nossos familiares, não podemos livrá-los das deficiências inerentes a esse  amor. Ao  amor humano misturam-se, muitas vezes, o ciúme, a inveja, a impaciência, a usura, a falta de misericórdia, o julgamento, o egoísmo, o sentimento de posse.

 Somos tão rápidos em julgar que, por vezes, esquecemos que somos irmãos e nos tornamos juízes.  Além disso,  os leques de laços fraternos se abrem, em determinada época da vida, e fragmentam ainda mais o já fragmentado amor do núcleo original: são os filhos de nossos irmãos, os maridos de nossas sobrinhas, as mulheres de nossos sobrinhos,  os maridos das nossas filhas, as mulheres de nossos filhos,
os cunhados e as cunhadas, e todos os agregados que vão chegando.

Todos, e  cada um, com a sua característica  imperfeita de amar.  Um amor que pesa mais do que acrescenta.  Cada leque que se abre, pode somar ou dividir, e até diminuir,  dependendo dos vários interesses em jogo.

Em princípio, existe uma única família: pais e filhos. Depois, cada filho vai constituindo o seu próprio núcleo familiar e os laços vão ficando mais frouxos dentro da família original. Enquanto vivem os pais, permanece bem vivo o amor entre os irmãos. Depois que os pais se vão, gradativamente, se vai também a convivência que nos era tão cara. Outras vozes nos chamam, outros amores nos solicitam, outras ligações exigem de nós a doação, o serviço, o amor e o sacrifício.

 É a vida, é a lei da vida do homem natural. Talvez, alguns privilegiados, não se reconheçam nessa descrição. Sorte a deles. Mas esse é o retrato sem retoques da família humana.

A pergunta que eu me faço, é:  como podemos amar uns aos outros,  com a intensidade com que amamos os nossos próprios filhos? O amor dos pais por um filho é um amor sem fundo, um amor que nunca acaba, um amor que nos leva ao céu ou ao inferno, dependendo das circunstâncias que nos são impostas. É o mais alto nível de amor. Dali para baixo, existem as modulações de amor e isso acaba criando brechas nos relacionamentos familiares. Nem sempre é apenas uma questão de certo ou errado, embora  seja  importante que se tome o partido do bem.  Mas quase sempre é uma questão de posição. A posição que ocupamos  nos impulsiona para o lado do vínculo mais forte. E se não fosse assim, seríamos uma aberração da natureza. Qual o animal que não defende a sua cria até a morte?

 O nosso amor não é perfeito. No máximo, ele se alarga, se embola, e se enrola nos braços que estão mais próximos de nós.   O que passa disso é imitação do amor, como a bijouteria perfeita é apenas  imitação da  jóia.  Como a bijouteria não resiste à ação do tempo, e logo perde o brilho,  o amor humano também não resiste às intempéries da vida. E se houver envolvimento do vil metal na superfície, as vilosidades se  espalham com o odor fétido da ganância.

Contudo, há esperança para o nosso futuro. Pois não é assim o amor do Senhor. O amor do Senhor é perpétuo, é de eternidade a eternidade. É um amor absoluto, não é um amor relativo. Existe de forma incondicional, não depende de nossa dedicação ou de nossa boa vontade. Se formos bons, o Senhor nos ama. Se formos maus, ele continuará nos amando porque não pode negar-se a si mesmo. Ele é a própria essência do Amor Eterno. Podemos confiar no Senhor perpetuamente, porque o Senhor é uma rocha eterna. Essa rocha nunca muda. Seu relacionamento conosco não admite relatividade, não prevê oscilações e nem mudanças. Nenhum outro amor ocupa o nosso lugar no coração  do Senhor. Nenhum outro amor, nem mesmo o amor de nossos pais pode exceder a altura, a largura e a profundidade do amor de Deus.  Esse amor é tão grande que deu... que deu... que deu... que deu o seu próprio Filho para morrer em nosso lugar, para nos salvar da condenação eterna.

Às vezes, em dias de extrema decepção com a condição humana,  eu me pergunto, o que levou Deus a amar o homem, esse ser tão indigno do seu Amor.  Às vezes, eu sinto que essa indignidade é tanta, que , por mais que me esforce não consigo alcançar o tamanho desse amor.

Não temos concepção adequada para medir a  grandeza do amor de Deus. Nossa mente não alcança. Mas temos um espírito. E é através desse espírito que podemos experimentar, ainda hoje, essa riqueza indescritível. O amor de Deus não foi feito para ser entendido, mas  para ser experimentado.

Como não se pode entender o gosto de uma fruta, sem provar diretamente dessa fruta, assim  é o amor de Deus: inteiramente desfrutável e nem um pouco mensurável.
Ana Ribas



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AO CHEIRO DAS ÁGUAS.

“Porque há esperança para a árvore pois mesmo cortada ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos se envelhecer na terra a sua raiz, e no chão morrer o seu tronco ao cheiro das águas brotará, e dará ramos, como a planta nova, ao cheiro das águas brotará.” Jó 14:7-9.

Na linguagem simbólica do livro de Jó, a árvore é o homem.   As águas são o Espírito de Deus. Mesmo na velhice, ao cheiro das águas,  o homem pode brotar e produzir ramos, com a força de  uma planta nova.

 Fomos feitos para produzir novos ramos em Cristo. Para isso, basta semear a Palavra de Deus. Basta aspirar  o cheiro das águas do Espírito de Deus.

 Como sentir o cheiro das águas? Invocando o Senhor, orando e lendo a Palavra, meditando no que se  leu o dia todo,  e todo o dia. Cultivando a presença do Senhor!

Na cultura humana, depois que um homem envelhece, só tem o caminho da morte diante de si. Mas na cultura de Deus, o que conta é o cheiro das águas. Todos os dias da nossa breve vida,  temos à nossa disposição, o cheiro das águas.

 O cheiro das águas transcende a morte e nos coloca em contato com a Vida. Com aquela qualidade de vida que não conhece a morte.

Sem o cheiro das águas respiramos morte, mas com o cheiro das águas sentimos a presença viva da Vida, o oxigênio em seu estado mais puro.

 Vida é o próprio Senhor em Espírito. Ele prometeu que estaria conosco todos os dias, até a consumação dos séculos. E ele está!

Sua promessa é imutável. Mesmo agora Ele está aí e você pode sentir a presença do Senhor.

 Isso é pela fé, é totalmente uma questão de fé. Fé é ação. Com a fé, você pode aspirar o cheiro das águas. A fé é o nariz que faz você sentir o bom cheiro das águas.

 Quando exercitamos a nossa fé, o Senhor tem um caminho para se revelar a nós, de maneira prática. Deus é muito prático. Deus é muito real. Tão real quanto um cheiro, tão real quanto a água...

Ao cheiro das águas, Ele responde. Ao cheiro das águas, Ele socorre. Ao cheiro das águas, Ele renova. Ao cheiro das águas...

Nem é preciso tocar na fonte, basta sentir o cheiro.

Sinta agora mesmo, pela fé, o cheiro das águas!

Ana Ribas



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