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A EXPEDIÇÃO DOS SONHOS 





    Recebi do amigo Orly Rodrigues o release do Projeto A Expedição dos Sonhos que visa o contorno da América do Sul num barco a remos. 
Orly é um atleta que supera limites, e quem vem se impondo como referência de vida a todos os que buscamos, a cada dia, nos superar. Durante 
18 a 24 meses, dependendo dos ventos, da maré, do clima, Orly fará o trajeto que sonhou fazer, contando com as suas habilidades humanas,
contando com Deus e contando com as nossas orações.  

    Nada melhor do que deixar com ele, o relato desse grande sonho, que começou, um dia, pequeno, sob a égide de um grande slogan: DOS REMOS 

FAÇO ASAS. 

Eu tenho certeza que sim, Orly... eu tenho certeza de que dos remos você já fez asas. Eu sei que você e o projeto se confundem - o projeto é você e você é o projeto. Também sei que você almejou algo tão extraordinário que estará condenado ao fracasso, a menos que  Deus esteja nele.  Mas Deus está. Deus está para lhe dizer que o ama muitíssimo e que, com o seu exemplo de vida, você está ajudando a edificar as nossas vidas. 
Voe com as asas que Deus lhe deu. E conte comigo, com as minhas orações, com a torcida de cada dia. No dia da sua volta, repartiremos essa alegria. 
Eu me permiti destacar  as palavras que mais  chamaram a minha atenção,  no e-mail que Orly me enviou. Elas sintetizam não apenas A Expedição dos Sonhos mas a Expedição de uma Vida. Só com o release eu já aprendi: muito! Obrigada, Orly. 


A EXPEDIÇÃO DOS SONHOS.
ORLY RODRIGUES.

    Tudo começou com expedições terapêuticas pela Baía da Guanabara, que me permitiram ouvir, no silêncio da noite, o som das gotas que caíam dos remos, entre uma remada e outra. 
Acabei surpreendendo-me ao conseguir discernir este som, que durante o dia é tão sutil entre outros sons. Aprendi também que é necessário remar forte durante os ventos a favor, para não sofrer grandes prejuízos quando vierem os ventos contrários. Assim, decidi ir até o mar.
No final de 2007, fui até a Lagoa Rodrigo de Freitas, deixando para trás a segurança da Baía da Guanabara. Desejava oferecer aos meus filhos um passeio diferente e consegui.
    Gostei da experiência. Impulsionado por novo ânimo, decidi prosseguir, ir mais longe.
    Foi quando nasceu o projeto: “A expedição dos sonhos”.
Sonho me tornar o primeiro brasileiro a percorrer, a remo, a costa da América do Sul.
Partir de São Gonçalo, na Baía da Guanabara, rumo ao sul e retornar chegando do norte, após contornar o Continente.
Para alcançar este objetivo, decidi iniciar uma série de expedições a fim de testar minhas condições físicas e emocionais. Remei durante oito dias até Cabo Frio, passando por Arraial do Cabo. Experimentei a exaustão física sem fatigar,  e a solitude no mar, sem desesperar. Nasceu o slogan: 

“dos remos faço asas”.

    Empreendi outra expedição. Desta vez fui até Parati, viagem que durou 14 dias. Testei performance, resistência e fiz novas anotações de probabilidades e necessidades para a expedição dos sonhos. De novo fui bem sucedido.
    Em agosto remei até Ilhabela-SP, uma jornada de 27 dias no mar.Durante as expedições divulgo o projeto ambiental Orlas da Guanabara 
(www.orlasdaguanabara.com), cuja proposta visa a preservação da Baía da Guanabara.
    Tenho pesquisado e avaliado o que é preciso para continuar. Projetar e construir um barco adequado, assim como a utilizar tecnologia, por segurança e também para transmissão online da viagem, fazendo o registro em tempo real.
Técnicos e profissionais somam-se à equipe para planejamento meteorológico, itinerário, alimentação, captação de patrocínios, desenvolvimento de produtos e coberturajornalística. Além disso, penso que é possível “reinventar” a prática esportiva e terapêutica das expedições oceânicas a remo.
    A expedição também será um manifesto em defesa da restauração do meio ambientee programas sociais relevantes.
    Tenho discernimento de que sem cobertura de oração não partirei. Sem pessoas ligadas pela intercessão não retornarei.
    Por isso conclamo a Igreja de Cristo a estar comprometida em me sustentar em oração, tanto na desafiadora preparação, quanto nos árduos dias no mar.
    Este compromisso pode ser expresso com atividades e eventos específicos, inclusão na agenda oficial da igreja, leitura pública e divulgação por cópias desta mensagem, além de várias possibilidades criativas e das constantes orações individuais dos servos de Jesus. Desejo que o fruto de tudo isso faça diferença na vida de muitas pessoas.

São Gonçalo, Primavera de 2008

Orli Rodrigues - Remador de expedição oceânica

orlirodrigues@hotmail.com (21) 8209-1967 / 3713-5588 Orkut: Orli-Rodrigues


Ana Ribas

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A ORIGEM DO RACISMO – PARTE II





    Após o massacre na Tanzânia, a intolerâncial racial continuou a expandir-se. Pelo mundo afora, os povos indígenas eram exterminados por colonizadores brancos. Por volta da década de 1840, um cirurgião de Edimburgo,Roberto Knox, competente e respeitado no meio científico, publica um livro denominado “ A Raça – Literatura, Ciência e Arte” disseminando por toda a Europa a idéia de que os tipos raciais nasceram para lutar e que as raças superiores iriam naturalmente eliminar as raças inferiores. 
    Ele não era o único a pensar dessa maneira. Havia um sentimento de racismo crescente e abafado dentro das elites dominantes que, passaram a ter a voz de Knox para dar voz aos seus pensamentos. O raciocínio das elites vinha nos rastro de um sentimento religioso, porque descobrira-se que as raças subjugadas tinham os seus próprios conceitos de divindade e não se submetiam aos conceitos que lhes eram impostos pelos missionários cristãos.
    Nos Estados Unidos da América, Samuel George Morton, um renomado médico craniologista, começou a buscar subsídios para as suas teorias medindo o crânio dos mortos. Baseado em um estudo de cadáveres a ciência da época, capitaneada por George Morton, começou a fixar as bases do que seria chamado Racismo Científico.               Morton media os crânios de todas as raças consideradas inferiores com base no seguinte axioma: “quanto maior o crânio, maior o cérebro.”
    Mas a voz que teria maior impacto sobre as raças, viria de uma das maiores mentes do século XIX: Charles Darwin e a sua consagrada Teoria das 
Espécies. Darwin defendia o conceito de que a evolução mudara as espécies e esse raciocínio foi o álibi para que imediatamente ele e os seus seguidores aplicassem essa mesma teoria aos seres humanos.
    A pergunta era: “ se a evolução mudara as espécies por que não se faz o mesmo com os humanos?” Imediatamente, com essa proposição, três áreas da cultura social foram afetadas: a biologia, a religião e a sociologia.
    As elites raciais dominantes passaram a alegar que a seleção natural explicava impecavelmente a situação global da grande raça britânica.
    Observando que existiam insetos acima de insetos, um vivendo à custa do outro, numa hierarquia de especialistas, Darwin foi além: ele disse que as pessoas são organismos expansivos da mesma espécie, e que seria totalmente lícito que os mais fortes dominassem e subjugassem os mais fracos, até o exterminio.
    A leitura que pode ser feita a partir de então era esta: “ os ingleses são como outros organimos e se expandem pela terra porque são bons em se expandir.”
    Portanto, a evolução de Darwin passou a sugerir que tinha que haver perdedores nesse processo. A corrente dos chamados “darwinistas sociais” deu um novo estímulo ao colonialismo e à concorrência entre humanos. 
    Os crimes do Imperialismo pelo mundo afora começaram a se disseminar com uma velocidade inigualável para os padrões da época. Povos nativos da América do Norte, do Pacífico, e da África, viriam a ser subjugados como prova de que o darwinismo social estava certo. Os darwinistas sociais previam um futuro no qual essas raças seriam apenas peças empalhadas nos museus.
    Na América do Norte, séculos de doenças e guerras devastaram os nativos; o mesmo acontecia com os povos no interior do continente australiano; situação idêntica estava ocorrendo na África dizimando também aquela nação.
    Uma única voz solitária bramia contra essa poderosa corrente: os missionários evangélicos que continuavam tendo a Bíblia como o seu instrumento de guia e fé. Esses eram os únicos que defendiam a igualdade de todos os homens perante Deus.        Mas, por causa da sua fé,  eram vistos como pessoas retrógadas que tinham falhado em aceitar o grande pensamento científico da época.

* Fonte de consulta: Documentário produzido pela BBC – A Origem das Raças. 

Ana Ribas

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A origem do Racismo. - Parte I




    Talvez o nascedouro do racismo possa ter encontrado justificativas na própria Bíblia Sagrada,  um livro que por ser o alvo preferencial do inimigo de Deus, foi escolhido pelos fanáticos para justificar as suas ações extremadas.  Com base em um texto isolado, encontra-se um pretexto fundamentado. 
    Mas o que me proponho a fazer é analisar as raizes do racismo como um processo histórico, com reflexões na era contemporânea  e, nesse caso, a  nossa gênesis começa no  século XIX na ilha Flinder, na Tasmânia. Ali aconteceu um dos piores crimes do imperialismo britânico, com impactos fatais que repercutiram por toda a história vitoriana.
    O vasto e crescente imperio da Grã Bretanha chegou na costa sul da Austrália e encontrou ali perto de 5.000 aborígenes tasmanianos, que, completamente isolados da civilização,  viveram muito bem por 10 mil anos. A chegada do homem branco imediatamente deflagrou a guerra negra contra os donos da terra.  Em algum ponto do caminho as idéias abolicionistas da Inglaterra, que haviam acabado com a escravidão dos negros no Caribe, foram trocadas por reflexões mais sombrias que acabariam por autorizar uma matança generalizada.
    Enviado para ser o Governador Colonial do Imperio Britânico, George Arthur sente-se compelido a intervir na matança. George é profundo conhecedor das Escrituras e com base em sua fé  procura impedir o avanço da barbárie. Para isso, manda fabricar cartazes e afixá-los nas árvores contendo ilustrações de paz que pudessem ser compreendidas pelos aborígenes. Havia nos cartazes homens brancos de casaca, 
cumprimentando negros de torso nú e vice-versa; como também havia nos cartazes, homens brancos e homens selvagens sendo executados sumariamente por seus atos de selvageria contra os oponentes.  Ou seja, o cartaz sugeria que a lei seria igual para todos.
    Só que ninguém acreditou nem que a lei fosse igual para todos, e nem que a  paz fosse possível, e a matança, no interior da selva,  continuou a acontecer. Os imperialistas rapidamente repunham os seus homens, mas os aborígenes foram sendo dizimados.
    Vendo que essa mancha recairia sobre o império britânico e sobre a sua vida, enquanto estadista, George manda chamar outro George.
    Dessa vez quem vem é George Augustus Robinson, missionário evangélico que já havia se tornado lider espiritual de parte do povo tasmanês. 
    Esse segundo George tem, então, a idéia de levar os 300 aborígenes que restam para uma ilha e lá conviver com eles na tentativa de completar a sua evangelização e domesticação.
    Mudam-se todos -os que sobraram -para a Ilha Flinders e começa ali uma nova possibilidade de adaptação entre aborígenes e brancos.
    O governo britânico lhes oferece   terras para o plantio, casas  para todos e uma capela em torno da qual se faz a implantação da comunidade.
    George Robinson chama a esse lugar “Ponto Civilização.”
    Robinson pensava que o “Ponto Civilização” lhes seria a vida tranquila, e que, longe da guerrilha sangrenta, usufruindo de casas confortáveis, trabalho digno, e a possibilidade diária e contínua de lhes ministrar as verdades bíblicas, se lhes completaria o que  faltava em humanidade.
    Mas algo acontece que lhe escapa de sua compreensão: os aborígenes começam a morrer- um a um. As crianças não nascem mais. Os médicos britânicos que foram chamados para diagnosticar o problema, constatam que essas pessoas tinham seus espíritos deprimidos, com profunda reflexão nos corpos físicos. O sistema imunológico do povo tasmaniano entrara em queda abrupta abrindo caminho para todo tipo de vírus importados da Europa.  
     Dos 300 aborígenes que foram habitar inicialmente na Ilha Flinders, 260 estão mortos. Em apenas uma geração, 10 mil anos de cultura, história e vida foram exterminados.
    O colonialismo britânico chegou na Tasmânia por volta de 1803 e ao final da década de 1840, restavam apenas cerca de 60 pessoas como lembrança de um povo que tivera uma pátria, uma língua, uma cultura, uma história.
    George Robinson nunca percebeu o mal que lhes fazia ao tentar impor a sua cultura ao povo tasmaniano. Robinson se entristecia, chorava e se consolava pensando: “ melhor que tenham morrido aqui com conforto material e espiritual do que na selva, caçados como bichos e sem conhecer a Jesus Cristo.”
    Robinson que tinha em suas mãos um mapa para expandir os limites geográficos da comunidade que ele esperava ver florescer sob a égide do cristianismo organizado,  depara-se com o planejamento de túmulos para enterrar os seus mortos.
    A história desse povo termina com esse genocídio institucionalizado. Mas a reflexão que ela nos proporciona será de grande valor para entender como o racismo avançou para os séculos seguintes, ganhando força na humanidade até desembocar no holocausto do povo judeu.
     De forma que, para todos os homens, civilizados ou não civilizados, a experiência ensina que se não havia atos isolados, nem mesmo no século XIX,  quanto mais  não haverá nos dias globalizados.

*Artigo fundamentado no Documentário da BBC “Racismo – Uma história – Impactos Fatais.”

Ana Ribas

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EU NÃO AGUENTO ESSA PRESIDENTE. 
ANA MARIA RIBAS.




Sempre que  chega em minha casa a revista Veja gosto de ler a página do Leitor, onde o cidadão comum comenta as matérias que foram publicadas na semana anterior.
    Aprende-se um bocado nessas páginas. Aprende-se que, cada pessoa segue um raciocínio que parte da notícia, mas segue a lógica pessoal. Há muitos caminhos que se nos apresentam ali, como parte da aprendizagem. E há descaminhos também. Opiniões completamente estapafúrdias. 
    Idéias mais que loucas, alternando-se com idéias sensatas. Enfim, ali está o ideário psico-intelectual do povo brasileiro.
    Na semana passada, as páginas amarelas mostraram a jornalista Joyce Pascowitch contando o drama pessoal que  viveu recentemente – um câncer de mama. Apesar do tom um pouco irreverente, qualquer pessoa que possa realizar um exercício de transferência, consegue imaginar o drama que essa moça viveu. E que ainda vive.  E que viverá pelos próximos 5 anos, com a faca no pescoço.
    As notícias boas ou ruins, nos chegam pelas páginas da revista, nós fazemos a nosssa capacidade de síntese, retemos o que nos interessa, sem nenhum planejamento consciente, e a vida segue no trajeto de um bonde. Ora apreciamos a paisagem, ora nos entendiamos, ora nos indignamos com a história dos outros. Que a nossa nos parece feita de mesmices. Graças a Deus!
    Mas aí vem a Veja da semana seguinte. E como parte do aprendizado que não se completou, vou para as páginas do leitor aprender mais. No caso da jornalista que foi portadora de um CA de mama, três leitores comentaram. Um dos comentários foi exatamente o de uma médica mastologista.
    Ela inicia o comentário com uma estatística: “10.000 mulheres morrem por ano dessa neoplasia no Brasil.” -Altíssimo número óh Deus Altíssimo- 
    Já vou me arrepiando toda.  Depois, como se movida por súbita iluminação, ela envereda por um rumo mais ameno: “a doença tem chance de cura de 95% se descoberta cedo.” É assim mesmo: sujou, tem que limpar. E depois de tudo limpinho ela se despede, assinando e colocando seus cargos e títulos.
    Tudo normal. Aparentemente. Revire um pouco mais e se verá que no dia em que ensinaram humanidade essa senhora faltou à aula. Primeiro porque não se pode substantificar o que é esse "cedo". Ela não fala do tamanho do nódulo em milímetros,  não acrescenta nenhum dado científico que possa ser assimilado pelo comum mortal porque deve nos pressupor incapaz de entender as mínimas questões científicas.     Assim ela diz apenas: ““a doença tem chance de cura de 95% se descoberta cedo.”
    Quem sabe esse “cedo” signifique: “pela manhã?” Ou “antes do meio dia”? porque depois do meio dia já seria tarde. Mas entre cedos e tardes, o que mais me impressiona é a frieza de um número alarmante: “10.000 mulheres morrem por ano dessa neoplasia no Brasil.”Como é fácil comentar as desgraças alheias com estatísticas que enriquecem o comentário. Fica chic. Demonstra conhecimento de números.  E como é difícil ao comentarista, colocar-se no lugar do outro, do outro que recebeu a violenta exposição de quimio, de rádio e de mídia: três agressores implacáveis.
    Eu, se fosse a médica, omitiria quaisquer números. Eu os deixaria para o momento em que fosse ela a entrevistada. Nesse caso, sim, estatísticas teriam um caráter necessário e informativo.  
    E por que eu faria isso? Porque, fazendo um exercício de sensibilidade inteligente, eu saberia que esses dados estatísticos serão  lidos- como certamente o foi – pela jornalista que corajosamente compartilhou com o Brasil os detalhes da sua doença. E que não é apenas um número, é uma pessoa.  Dessa maneira, a informação que o o oncologista de Joyce jamais expôs para a sua cliente- por julgar desnecessária e contraproducente- chegou-lhe pelas páginas do leitor, através da presidente não sei de qual órgão, que cuida da saúde da mulher.
    Uma informação que pode até ter importância para nós, cidadãs do sexo feminino, portadoras de duas mamas, mas que, dependendo da sensibilidade, me parece cruel para com aquela que só tem  uma.
    Eu sou assim: leio a linha e as entrelinhas. E se meu intelecto se enriquece com as linhas, minha alma fica melhor com a aprendizagem que deriva das entrelinhas.
    Não sou presidente de nada, mas não aguento essa que é. Os presidentes  presidem, com mamas ou sem mamas. Essa preside com o cérebro.  

Ana Ribas


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JOSÉ DIRCEU E A BENGALA DO MEU PAI.
ANA MARIA RIBAS BERNARDELLI.




    Ontem publiquei uma crônica falando sobre "A bengala que era do meu Pai." E, para minha surpresa, algumas  pessoas, associaram à bengala do meu pai, as bengaladas que José Dirceu levou do escritor Yves Hublet, chamando-o de Fristão - traidor por tabela.
    O que pouca gente sabe é que moro numa cidade que é administrada pelo filho de José Dirceu, o Zeca Dirceu. Que foi reeleito pela segunda vez por uma esmagadora maioria de votos. E que esta minha cidade, é a cidade do Paraná em que José Dirceu ficou “exilado” durante o período em que a vida se lhe estava ameaçada por muito mais do que algumas bengaladas de efeito cênico.
    Há tanto tempo José Dirceu circulou nestas ruas como cidadão comum, nesta terra de gente comum, sob o nome de Carlos -  mas ainda me lembro. E nesse lembrar - que interessante- nesse lembrar, só há lembranças em tom pastel: nada de um vermelho que lembre sangue ou o PT. Nada do cinza que lembre corrupção. As lembranças são as de um cidadão que trabalhava diuturnamente, que tomava cerveja com o amigo Jorge Camargo, que amava Clara Becker, que jogava futebol ( se a memória não estiver me traindo), que passeava com o filho no colo,  e que, por 
motivos óbvios, não participava da vida pública da cidade em seu contexto mais amplo. Mas não era uma pessoa isolada:  as pessoas o queriam bem. Sua loja era bem frequentada, na frequência que é possível a um povo empobrecido pela falta de trabalho; sua vida era a medida da vida do cidadão do planeta terra: céu em cima, terra embaixo. Rotina, luta,  amor, sonhos, sacrifícios e as demais coisas que compõem um redondilho quebrado: muito provavelmente lágrimas.
    Nunca fomos próximos, eu, Ivo e ele, pelos mesmos motivos que hoje não somos próximos: nossos mundos sempre foram  um pouco diferentes. 
    Nem para mais nem para menos: diferentes. Clara Becker, essa sim, é a amiga pela qual tenho uma grande admiração e sei que a admiração me é recíproca.
    Nesta segunda feira,  após a vitória do filho nas eleições, José Dirceu esteve aqui para agradecer, de público ao povo que votou em Zeca. Não o fez durante a campanha, mas depois. E esse “depois” teve, para mim,  uma ponderação de pai  que  percebe que é hora de sair de cena, quando o filho ganha espaço próprio. Ou de aparecer discretamente, apenas na função de pai. Foi como pai que José Dirceu, subiu ao palanque e  agradeceu os votos que a população de Cruzeiro concedeu ao seu filho, pela segunda vez, O ponto mais emocionante para mim, que nem estava lá, mas que ouvi dizer, foi quando ele  creditou a Clara o valor de Clara.  Clara é  a mãe que cuidou do ôvo em tempos de escura solidão.
    Os ovos vingam e nascem piando; e piando ganham penugem; e empenujando viram galos. Desde que não sejam colocados, antes, numa panela. 
    Não há panelas ferventes em Cruzeiro do Oeste, há normalidades. Que de normalidades é feita a vida. Trabalho se recompensa com crédito e crédito gera mais trabalho.
    Quanto à bengala do meu pai, o texto de ontem me foi um aprendizado. A grande maioria, viu o que eu quis que vissem: uma filha que ama o pai e que se pudesse, lhe seria ainda mais filha, mas que, na impossibilidade de sê-lo, - agora que me é morto o pai,-  ensina aos outros que ainda podem ser filhos, a sê-lo um pouco mais.
    Uma única pessoa me foi excessivamente cruel em seu comentário: a sensibilidade não é de todos, mas a insensibilidade foi de apenas um.  
    E algumas pessoas, finalmente, viram na bengala do meu pai, as bengaladas na cabeça de José Dirceu. Essas estão atualizadas, e devidamente contextualizadas com os noticiários da televisão, com as notícias dos jornais. Mas a culpa não é delas: é  da mídia que só mostra o Zé mas  não mostra o Carlos que existe dentro do Zé.
    Essa digressão visual faz de nós seres ecléticos por fora, e díspares por dentro. Essa disgressão visual faz de nós seres comuns à procura de um olhar diferente. Mas a verdade é que cada um encontra, fora de si, muito do que lhe vai por dentro.
    Eu continuarei mostrando, em temas livres, a vida como ela é. E aceitando todos,  como  todos somos. Menos os insensíveis: esses eu não aceito, e não perdôo.
    Pensando bem, depois de escrever isso há 2 meses, e de levar uma bronca do Roberto Pimentel e do Frei Fernando, porque "não perdôo," quero dizer que sim: que perdôo. E que a expressão lá em cima foi usada no calor da emoção.  Como a emoção  já passou, e eu sou a mais indigna dentre todas as mulheres, é claro que perdôo. Perdôo e amo todos os insensíveis que a mim foi-me dado amar sem esperar a menor compreensão. Perdôo então.

Ana Ribas

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Prenderam os assassinos do Dr. Wilton Filho.
Ana Maria Ribas Bernardelli.




    Prenderam os assassinos do  nosso Toko. Uma menor, dois homens. A polícia agiu rápido e eficientemente. Enquanto nós chorávamos, a polícia trabalhava. Eu fico espantada com a técnica e a perícia da polícia para farejar no meio de um mundo com odores tão díspares, o cheiro da carniça. A polícia sabe de onde vem o cheiro de carniça. E coloca-se a carniça na cadeia, e o dever da polícia está terminado. Parabéns à polícia. 
    Parabéns ao Dr. Balan e à sua equipe.
    Começa agora o trabalho da justiça: esse trabalho também é eficiente, segundo as leis que vigem o país. Mas essas leis farão dessa “menor” das menores, uma provável liberta dentro de pouquíssimo tempo. A carniça voltará para as ruas espalhando o seu fedor de coisa podre, e o seu veneno de coisa viva, que balança o guizo. E dizem que belíssima, como o são algumas espécies peçonhentas.
    E agora, o que fazemos com isso? O que fazemos com o sentimento de que tudo já foi feito e ainda assim nada se fez e muito menos se fará? A cadeia é tão pouco para aqueles que dão à vida nenhum valor. A cadeia é para esses o cafofo quentinho e protegido, onde a comida vem bater na porta da grade 3 vezes ao dia,  onde se distraem jogando baralho a maior parte do tempo, onde dormem o sono dos perversos,  onde  conversam, entre si um jeito de aprimorar as suas perversidades,  como nós conversamos entre nós um jeito de nos livrarmos das nossas perplexidades.
    Alguém manifestou o desejo de pegar uma moto serra e cortá-los em pedacinhos. Mas o que faríamos com os pedacinhos? Talvez, como na Roma 
Antiga se fazia aos parricidas, não sei se por lenda, não sei se por realidade: colocava-se o sujeito ainda vivo num saco, jogava-se dentro de um caldeirão fervendo, e atirava-se os restos ao mar. Segundo Cícero seus restos não deveriam cair livres em terra para que ao comê-los, as feras não se tornassem ainda mais bestas feras; também não se poderia jogá-los livres ao mar, para que peixes, tubarões e outras espécies marinhas não se contaminassem com as suas excrecências.  Assim, um saco, hermético, bem fechado, garantia o  destino de não ser útil a nada, nem mesmo aos vermes.
    Mas hoje existe a reciclagem. Como a musiquinha do caminhão da Prefeitura que passa toda quarta feira recolhendo o lixo: “ separou, separou, todo o material, separou, separou para reciclar...”  
E a reciclagem já começou. Temos um material que a lei pune com o rigor que lhe é possível, segundo o espírito com que ela foi feita, mas nós, a sociedade, os recicladores, não temos nenhuma certeza de que o produto da reciclagem nos sairá melhor do que o lixo que separamos para reciclar. Não há garantia.
    Sábado, eu e Ivo fizemos uma visita ao Wilton pai. E nos abraçamos, e choramos, e lamentamos, e recordamos, e rimos timidamente das nossas lembranças, e choramos entre o riso, e invocamos a Deus entre o choro. Na saída, Ivo, com os olhos vermelhos, já dentro do carro, virou-se para mim e disse-me assim: “ escritora, eu te desafio a escrever uma crônica: “Condenados a Viver”. Pois eu aceitei o desafio que não se encerra com esta única crônica. Falarei mais sobre o assunto: “condenados a viver.”
    Condenados a viver somos nós os cidadãos de bem. Condenados a viver em meio à dor, à tragédia, ao susto; condenados a viver em meio à saudade que corta como o diamante ao vidro; condenados a viver com a estranha sensação de que não há uma medida justa de justiça a ser aplicada neste mundo. Por mais que se criem leis para prever prováveis delitos, os delitos sempre excederão as probabilidades dos crimes 
previstos em lei. Porque maior é a maldade do homem do que a imaginação dos juristas.
    Há que se criar agora juristas que sejam peritos em prever mais maldades, mais assombros, mais perversidades e mais ais. Há que se criar mecanismos que inibam os delinquentes com leis mais duras, com penas mais rígidas, com respostas que acalmem a nossa porção maligna, aquela que pede aos homens o que não pode pedir a Deus, sem antes passar pelo gabinete do diabo.
    Precisamos que um Miguel Reale Júnior nos livre de ter que ir ao diabo pedir que o diabo se encarregue dos seus diabinhos. Precisamos que haja urgentemente uma revisão no código penal brasileiro, que não seja tão eficiente como a Lei dos Aiatolás para tirá-los de circulação definitivamente, mas que seja justa o suficiente para acalmar o coração de um pai que teve um filho morto por assassinos. Que seja rigorosa o bastante  para nos garantir que um indíviduo com tal grau de malignidade, seja ele maior ou menor de idade, jamais será devolvido à sociedade enquanto não pagar por seus crimes.
    E aqui me lembro de Champinha sem querer associar o nome digno da jovem que morreu em suas mãos, ao seu nome indigno.  Aqui me lembro 
de Champinha que se levanta às 10 horas da manhã,  joga vídeo-game o resto do dia, tem à sua disposição uma nutricionista que lhe garante uma dieta balanceada e vive  numa mordomia jamais conhecida antes de praticar a bárbarie. Quiçá lhe seja estendido, dentro de pouco tempo o direito a ter também um personal training para treinar a sua massa falida.  
    Mas nem preciso me lembrar: basta esperar alguns dias e poderei eu mesma, olhar e conferir que a criatura menor, essa ínfima entre os menores, goza do seu direito de ser menor, na mesma intensidade com que nós sofremos o nosso direito de ser maior: maior do que as feras.
    Prenderam os assassinos. Citando Cícero “ tal como o ar para os vivos, como a terra para os mortos, como o mar para os que nadam e como a praia para os que nela são lançados” temos agora os assassinos do Toko na praia.
    Desfrutando férias por alguns verões.   

Ana Ribas

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NADA SUBSTITUI O TALENTO PARA COMPREENDER AS PESSOAS.





    Aprender todos podemos. Sempre! Ensinar é para quem pode,  para quem foi dado distribuir o que sabe  com a simplicidade de quem nada sabe. 
    Mesmo sabendo que sabe muito. Compreender é para os sensíveis.
Aqui no RL, todos ensinamos e todos aprendemos. Sem cátedra. Ensinamos apenas escrevendo sobre nossos variados pontos de vista, sobre nossas variadas  experiências pessoais, sobre nossas angústias existenciais. Aprendemos apenas lendo os variados pontos de vista do outro, as experências pessoais do outro, as angústias existenciais do outro. E se de alegrias é feita também a vida, com as alegrias dos outros nos colorimos, quando nos faltam as nossas e aí já começamos a compreender.   
    O RL tem esse efeito mágico de nos proporcionar o ensino,  a aprendizagem e a compreensão. Que de personagens nos vestimos, apenas escrevendo. Apenas compreendendo: a universalidade, a empatia, os sentimentos  que nos aproximam mais deste do que daquele, o inexplicável acontecendo quando  se olha para os olhos tristes, para a palavra cansada, e se adivinha o mundo em seu grande dia: o dia do outro.
    Mas aqui no RL tenho descoberto por acaso,  entre alunos e  mestres, alguns professores. Que contrariando todas as normas do bom senso, nos fustigam com vara.
    Eu daqui, fico abismada com a subserviência com que  aprendizes e mestres os tratam. Tudo bem: os homens escrevem! Mas esse escrever não lhes dá o direito de escolher um nome para o meu texto, uma intenção para a minha função, um julgamento para o meu caráter, um limite para os meus sonhos,  uma mínima restrição para onde devo, ou não devo, direcionar o que escrevo, quanto escrevo, ou deixo de escrever. Pois eles fazem tudo isso! Sem compreender a mínima compreensão.
    Segundo esses,  o usuário do RL não pode escrever um texto todos os dias: isso é ser uma máquina.  Pois não é que eu sou? Embaixo do sangue de Jesus, até agora tenho sido, e tenho aguardado ansiosamente a hora mágica de me sentar e escrever. Escrever para mim, é respirar, e se não respiro, morro.
    Segundo esses, um escritor não deve almejar jamais ser lido. Ser lido ou não lido, seria um fator meramente circunstancial. Discordo em gênero, número, e grau. Tenho um blog onde ninguém me lê. Posso escrever lá: “essa noite eu fiz xixi 2 vezes” que ninguém neste mundo saberá que “essa noite eu fiz xixi 2 vezes.” Por que conservo esse blog? Porque acho lindo o lay out que me oferecem lá. Considero aquele lugar a minha casinha de bonecas, sobre uma árvore, suspensa entre a terra e o céu.  Mas até mesmo eu, essa encantada com bonecas e casas suspensas da terra, fica indecisa entre deletar ou conservar esse espaço virtual que me leva do nada para lugar algum.
    Por que? Porque quero ser contactada. Quero contatar e quero ser contactada,  e quero ser interpretada, e quero que essa minha mínima interpretação, sirva para uma mínima pessoa que, em me lendo lá, possa realizar a troca com alguma coisa que eu escreva aqui. Trocar conceitos e paradigmas, sem saber que se está trocando, da mesma forma como eu recebo conceitos, sem saber que estou recebendo:  não há preocupação com a nota, com o dever de casa, com os regulamentos, mas com a compreensão.
    Não me preocupo com os tais regulamentos que esses professores impõem. Eu apenas sigo com o meu objetivo: ler e ser lida, compreender e ser compreendida. Com esse objetivo, inscrevi-me no diHITT, um site voltado para notícias e relacionamentos. Creio que a maioria conhece, mas explico para os que não conhecem:  Lá o forte é a notícia. Você pode apenas indicar notícias interessantes que encontrou pela WEB e fazer amigos. Lá você pode ser “amigo” de um famoso Sidney Rezende ( é meu amigo!!!)  mas também pode ser amigo de uma anônima Ana Maria: essa que vos escreve.  A proposta básica contudo, não é a amizade, é a notícia. Ou melhor, a notícia é o pretexto para que se estabeleça uma rede de 
relacionamentos entre pessoas que gostam das mesmas coisas: ler e  escrever.
    Não obtive muito sucesso com o diHITT.  Timidamente apareço por lá, uma ou duas vezes por semana, e timidamente saio de lá. Sinto que aquele universo, objetivo e técnico, - os caras são feras em linguagem tecnólogica-  ainda não me pertence e nem sei se me pertencerá algum dia.  Não tenho vocação para o jornalismo,nem para a tecnologia,  tenho vocação para o intimismo. Mas eu tento. Não sei quantos repararam em um artigo que escrevi sobre Adriane Galisteu e Silvio Santos: aquilo não tinha nada a minha cara. Foi apenas uma tentativa de atrair os meus amigos do 
diHITT para serem meus leitores. Não deu certo: a notícia não mereceu publicação,  e, ainda assim,  continuo marcando presença no diHITT. Só tive uma notícia publicada. Mas a bem da verdade, tenho que admitir: não tenho notícias publicadas, porque entendo que minhas notícias não são assim “notícias.” São rascunhos de mim mesma. Contudo,  continuo no jogo, porque não sou de desistir: indico outras notícias, voto em algumas que me são sugeridas, aceito todos os que pedem para adicionar-me à sua lista de amigos, sou “amiga” de todo mundo, e só não tomo café na casa deles, porque a nossa casa é virtual e o nosso café guarda apenas a lembrança de que dois amigos bebem  café. Em dias de chuva.
    Isso é aprendizagem e é também compreensão. Quando você guarda intacta a possibilidade de deslumbrar-se com um mundo novo, quando você se esforça para aprender com o que o outro tem para ensinar, de maneira espontânea, sem academicismos arrogantes,  o seu saber será compartilhado e o seu esfôrço, de alguma maneira, será recompensado,e acrescentado, com o compreender e ser compreendido.
    Foi a partir do diHITT  que o mundo dos blogueiros abriu-se para o “Abrahana- Conte tudo.”  Timidamente. Que valor tem para mim,  saber que sou lida por Maria, do “Idéias Distorcidas”, por Júnior do “Ferananet”, por Aninha Goular, do “Arquivinho.com”, por Marcos França, do “Cultura Nordestina”, por Tânia Marchezin, do “The New Web Post”, por Rodrigo Piva, do “Curiosando”. E os selos que essa moçada tem-me conferido?  Viram quantos?  Os selos significam assim: “Ana, reconhecemos que você é gente escrevendo a vida, para a gente ler na sua vida, a vida da gente.” E eu leio na vida deles, a minha vida, a vida que passou, e nem por isso já foi. Ainda está comigo.
Os professores do RL.
    O professores do RL também querem nos ensinar algo sobre títulos. Os nossos títulos precisam corresponder ao redondo, completo, e acabado conceito, que eles têm, acerca de títulos. Segundo eles, os títulos não chamam. Chamam sim! Apenas quando já se conhece bem o autor, pode-se dispensar o crivo do título. O título é a parte mais difícil para mim. O título é a parte que não conheço em vocês. O título me é o mistério.
    Escrevo textos bons, que são pouco lidos. E escrevo outros apenas regulares, que são muito lidos. Ou clicados, segundo eles. Ok, clicados. Pois isso se deve a quê? Aos títulos. O título é a solicitação visual mais forte, o título, em certo sentido é a mensagem toda.  Eu sou a emissora da mensagem, e vocês são os recebedores da minha mensagem. Pois para que vocês recebam- ou não - a minha mensagem, que é o texto, eu dependo do canal, que é o título. Títulos “eruditizados”, sem chance. Títulos do tipo “ De volta para o futuro II” sem a menor condição. Não sou dogmática, mas essa, pelo menos,  é a minha experiência pessoal.
    Aprendo a arte da linguagem até com os seres menos complexos, não aprenderia com as inteligências privilegiadas que por aqui circulam? Seres menos complexos: Tenho 03 gatos, todos devidamente recolhidos da rua para ganhar um teto. O título que lhes chama atenção para a minha leitura, toda noite, é quando grito com toda a força dos meus pulmões: “ Quem vai querer? Co-mi-di-nha!” Ao som desse título, eles acodem todos. Qual é a mágica? É o som que traduz um apelo. O apelo é a comida que lhes dou para saciar a fome que eles têm.  Pois os títulos são como o menu 
de um restaurante.
    As palavras provocam atração, indiferença, ou até repulsão.   Há que se pensar como escolher um título com sabedoria. É verdade que, nem sempre podemos escolher uma palavra apenas pela sonoridade, ou pelo mais puro sentido que ela traduz do tema. Às vezes, a experiência nos manda escolher um título pela popularidade. Que bobos não somos. Mas, às vezes, somos: Ontem escrevi uma crônica tão rasinha sobre uma piada que fiz com o Ivo, e nem me preocupei com o título. Afinal,  era de uma irrelevância tal que escolhi o título que melhor me pareceu: " Diálogo de um amor profundo." E fui surpreendida: meu povo "comprou" o título e compareceu, e riu, e gostou. E eu "vendi" o meu texto e  fui formir mais rica, mais feliz com a súbita aprendizagem. 
    Pegando carona na questão do títulos, esses tais afirmam que é preciso ter muito cuidado  com a categoria onde os inserimos. Se você for uma eterna “cronificadora” de textos poéticos ou de artigos, como sou, já foi reprovada.
Os professores do RL também andam atribuindo importância  ao número de cliques que o outro recebe. Deixa eu ver: -“esse aqui foi mais clicado do que eu. Quero minha mãe! Manhêee!!!!”Gente, como se faz para saber quantos cliques você levou e eu não levei? Como se faz para saber se você anda mesmo tão preocupado com os 
cliques que me clicam, quanto eu não ando nada preocupada com os cliques que te clicam? Eu te clico, tu me clicas, ele me clica,  mas se não me 
clicares, não nos clicaremos mais.
O professores do RL. Nem são muitos, nem são tantos. Talvez sejam dois ou mil.  Não quero ser-lhes excessivamente severa, porque creio que as 
suas intenções sejam positivas. Mas tenho que ser crítica para que o senso crítico promova a necessária reflexão a todos nós. Porque esses 
dogmaticismos não ajudam, eles paralisam. Eles tolhem. Eles cerceiam os que estão apenas começando, nesse mundo de gente que já tem muitos anos “de janela”.
    Há leitores para todos os tipos de escritores. Cada leitor pede o seu escritor, aquele cuja mensagem o leitor vai poder decodificar e assimilar. Ou seja, antes, porém muito mais depois, quando se acaba de ler um texto, surge-nos um de dois sentimentos: valeu ou não valeu a pena o tempo que gastei alimentando os meus neurônios? A comida foi honesta, foi de boa qualidade? Os ingredientes foram puros?
    Estarei eu sendo apenas professora se lhes disser que não podemos assentir que uma pessoa nos rotule de desocupadas por estarmos escrevendo um texto a cada dia? Estarei eu sendo professoral demais, se lhes disser que não se faz nenhum bem ao ser humano quando se diz “amém” aos seus equívocos? Estarei eu sendo polêmica, se estiver evitando a paralisação dos novos talentos, que com tantos “ podes e não 
podes” ficarão com a mão suspensa entre escrever ou bater em retirada?
Alguma coisa tenho que fazer. E essa coisa é escrever. E escrevendo, lhes digo: sejam escritores, sejam leitores, e sejam sensíveis.  Há espaço para todos os aprendizes: da escrita, da leitura e da sensibilidade.  Que aprendizes todos somos.
    Porque o melhor da letra é saber que a perfeição não existe, que a lapidação é um processo constante e contínuo no universo das palavras.  E mesmo sabendo,  tomar a imperfeição da letra nas mãos, com muito carinho, até finalmente, encontrar a perfeição, não na letra, mas no espírito da letra.
    O espírito da letra pode alcançar a perfeição, mas a letra -essa sempre nos será flor do Lácio, ainda inculta em todos os jardins, nunca pronta para ser completamente tomada, jamais disponível para ter a posse reclamada.
    A flor do Lácio perfeita é de todos e não é de ninguém. Um dia ela está aqui, outro dia ali, e no outro, acolá. Eu me deparo com ela quando visito várias escrivaninhas. E percebo que, exatamente quando volto para reencontrá-la, num outro dia, nem sempre a reencontro no mesmo lugar. Mas continuo voltando, porque  se não há flor do Lácio em caráter irrevogável e definitivo,  há rosas e “fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas.”
    Obrigada a todos pelas rosas que me são oferecidas. Rosas cor-de-rosas, brancas, vermelhas e amarelas. As amarelas são as minhas preferidas. 
    Mas todas me fazem igualmente  embevecida. Como na foto.

I loviu todos.

Ana Ribas

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RESPOSTAS PARA QUEM TEM PERGUNTAS. 
ANA MARIA RIBAS. 




    Este artigo tem origem no comentário  de uma colega do RL em relação a uma crônica que escrevi, onde fiz uma breve análise sobre a crise americana e o juízo de Deus. Como este tema que vou abordar já não é mais uma área do cotidiano, mas de meditação, vamos de Artigo.

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Eis o comentário:

“Ana, eu vejo Deus em muitos fatos e em alguns prefiro não ver Deus, pois não consigo compreender o que você explica aqui em seu texto tão bem escrito. Eu não quis ver Deus, por exemplo, no Tsunami e lembro de um artigo de Leonardo Boff na ocasião, no qual ele, teólogo e ex-frade, confessava também não ver Deus ali. O imperialismo americano vive, talvez, o declínio que todos os povos imperialistas viveram. Não vejo Deus nessa punição que entendo como fruto da má ingerência dos seus últimos dirigentes. Os Estados Unidos não são só os Bush, pai e filho, nem 
formados apenas por pessoas arrogantes e beligerantes. Não gosto dessa arrogãncia, mas há puros de coração lá também. Nações são feitas por filhos de Deus e não gosto desse Deus vingativo. Ainda sou como esse que convive com você. Beijos e bom fim de semana.”

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    Esta pois é a missão: relacionar os feitos de Deus com tsunamis, imperialismo americano, pessoas beligerantes, puros de coração, filhos de um Deus amoroso e filhos de um Deus vingativo. Uma coisinha de nada cujo dilema já existe desde que o homem existe e, logo, pensa.Cá entre nós,  acho  uma tarefa muito fácil. Não que eu reúna todo o saber necessário para desvendar os mistérios da vida, mas conheço o dono dos mistérios, convivo com Ele e faço dEle objeto da minha vida, bem mais do que da minha meditação. Coisa que pessoas de todos os níveis intelectuais fazem, e por vezes, melhor do que eu. Tenho um amigo, quase analfabeto, e o ouço durante uma hora, sem cansar, discorrendo sobre o Deus com quem ele convive.  Portanto, o grau de dificuldade da resposta está diretamente relacionado com o desconhecimento da Pessoa de Deus, e não com a complexidade das perguntas. Sei que respostas que para mim bastam, para outros podem não bastar. E que perguntas dessa ordem resultam de uma parte maior do exercício da razão, e uma parte menor do exercício da fé, enquanto respostas desta ordem, demandam uma parte maior do exercício da fé e uma parte menor do exercício da razão.
    Mas darei o que tenho e as pessoas que me lerem receberão o que puderem.
    Em primeiro lugar, e em decorrência do pensamento que já foi formulado, reitero encarecidamente que Deus não existe para ser explicado, mas experimentado. Contudo, tenho que convir que, ao apresentar o Deus que experimento, todos os dias, de certa forma, também estou apresentando objetivamente algo do caráter de Deus para  os meus leitores. E se caráter é algo abstrato, quando se trata de Deus, atribuir-lhe caráter é dar ao abstrato a consistência feita dos  fios mais delicados que a aranha tece, nesse mais imponderável diáfano de que é feita a vida.
    Contudo,  se um dos meus textos ocasionou dúvidas sobre o caráter de Deus, em um coração que se importa com Deus, é minha missão, trazer uma mensagem que a convença de que Deus se importa com esse coração.  E também se importa com os tsunamis. E com os seus filhos. E com todas as pessoas da terra. Deus se importa.
    A grande dificuldade para aquilo que antes de um tsunami nos parece certo, porém muito mais depois, deveria nos parecer certo também, é que Deus é amor, é justiça e é bondade. Esses três aspectos do caráter de Deus são inegociáveis com ou sem tsunamis. Como sabemos disso? 
    Sabemos “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16 Alguém duvidaria de que Deus é bom por nos ter dado o seu filho para morrer por nós? Ninguém duvida. Parece-nos razoável um Deus que ofereça em holocausto o próprio filho para morrer por nós. Não obstante, o homem coloca em dúvida a bondade de Deus, quando o cordeiro imolado é escolhido dentre os rebanhos da humanidade. Não é verdade? O dele pode, o nosso jamais.  
    Jesus pôde ser cuspido, escarnecido, chicoteado, sangrado como um cordeirinho abatido,  lancetado, morto e sepultado. Ele pôde. Como homem ele sofreu, como homem ele morreu, e como homem ele ressuscitou. Mas olhamos esse grande enigma do lado que nos convém: não  nos permitimos que ele sofra como homem, que ele morra como homem, porque enxergamos antes da morte, a ressurreição. E pensando que Ele é Deus na hora da ressurreição, nós o fazemos também Deus na hora do sofrimento e da morte.
    Por esse pensamento enviesado Deus aguenta tudo, Deus suporta tudo, Deus sofre tudo e Deus ressuscita tudo: afinal, ele é Deus. Ele foi “feito” para suportar e nós para sermos suportados.
    Não pensamos que os cravos rasgaram uma carne humana, e que essa carne aguentou por cerca de 6 horas uma morte de cruz muito mais lenta  do que um tsunami. Não pensamos porque o cremos apenas Deus. Mas Jesus que, no princípio era apenas Deus, após a sua encarnação tornou-se homem, e após a sua morte recebeu  a designação final de ser um homem Deus, passou por todos os processos que nós passamos. E foi além: ressuscitou o que nós ainda não ressuscitamos.
    Negar que Jesus ressuscitou levando consigo a sua parte humana seria negar todo o sacrifício de Cristo. Há um Homem na Glória que sendo filho de Deus, ressuscitou levando consigo a parte humana que  herdou de Maria. Há um DNA humano no céu e esse DNA é o de Maria. Até eu, que não comungo do marianismo, tenho que admitir que a parte humana de Cristo, veio dela, a bendita entre as mulheres.
    Isso deveria nos bastar: afinal, há um homem na glória de quem a morte não pôde subtrair-lhe  a vida. E se essa qualidade vida  foi-nos estendida é exatamente porque Deus permitiu que o sofrimento atingisse o seu filho da maneira como o sofrimento atinge todos os nossos filhos quando eles nascem na terra.  
    Não se entra em território inimigo sem estar sujeito ao ataque do inimigo. Mas Jesus não veio aqui da maneira como viemos aqui: sua missão era exatamente essa. Suas palavras foram: “ se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só, mas se morrer produz muitos frutos.”João 12;24.  Sua missão era abrir um caminho para a humanidade, inaugurar um novo homem, introduzir no universo a matriz de  uma nova raça, - o grão de trigo para outros grãos de trigo -  já que a matriz anterior,  corrompera-se pela ação do pecado. O pecado que era nosso precisava matar Jesus que não teve pecado. Esse mesmo pecado que nos mata a todos de morte lenta. Esse pecado cujo salário é a morte. Essa morte que Ele venceu, com a sua  ressurreição. Ressurreição que consumou, enfim, o projeto de resgate: há um novo homem na história cósmica. Com esse novo homem, Deus não tem mais um único –Unigênito- Filho, mas o primogênito entre muitos irmãos.  
    Estamos na fila de filhos desse grande Pai que providenciou-nos tão grande salvação. 
    Mas há salvação e salvação. Aquele que nos salva da morte eterna, não nos salva da morte incipiente de cada dia: aquela morte que nos espreita pela fresta da porta,  pela abertura da janela e que nos remete diretamente à sepultura. Tão certo quanto o sol se levanta, se Jesus não voltar para buscar a sua igreja, morreremos todos um dia.De que morte morreremos? Há eventos apenas naturais. Tsunamis são partes desses eventos. Tsunamis são o resultado da movimentação de placas tectônicas no fundo do mar. Essas coisas acontecem na terra. Dizer que Deus é o responsável por essa movimentação, seria fazer Deus um ser spilbergiano, divertindo-se com os efeitos especiais das ondas gigantescas. Mas dizer que Deus esteve ausente, tirando férias no Hawai, quando tais coisas aconteceram, seria tirar Deus no trono e colocá-lo como mero espectador dos eventos trágicos da vida. Deus não é Spilberg e Deus não é turista. Deus é Deus. Se escolhêssemos um Deus spilbergiano, ele seria de tal malignidade que para essa tal, nem o demônio  faria sombra. Mas se escolhêssemos um Deus turista, ele seria de uma ausência e de uma displicência sem precedentes para com os seres que ele criou.Como conciliar então esses dois fatores tão díspares? A resposta é clara como o sol do meio dia: Deus não faz ingerências sobrenaturais nos eventos apenas naturais. Esse não é o método de Deus. Até gostaríamos que ele fosse o nosso homem aranha com capa vermelha segurando as ondas gigantes do Pacífico, mas Deus não é esse. Deus é aquele que faz ingerências na vida de pequenas criaturas que o elegem como Deus. E até mesmo essas pequenas ingerências, dependem de variáveis cujos mistérios não nos é permitido sondar.
    Deus fez tudo perfeito, e esse perfeito inclui um planeta sem a movimentação de placas tectônicas. Mas o homem entregou a chave da terra para o demônio e ele está no comando. O resultado desse comando desordenado e caótico, vê-se a cada dia, dia após dia.Aqui e ali, há lugares isolados onde a bandeira de Deus já foi hasteada, lugares onde homens e mulheres de Deus tomaram posição em favor de Deus. Pequenos redutos aonde o céu  chegou na terra. Porque conforme Jesus disse, enquanto os homens esperam pela chegada de um reino visível, o reino na verdade está dentro de cada um de nós.
    Faz parte do reino uma ordem legítima, conquistada com legitimidade. A legitimidade de Deus na terra depende de nós. Aonde há um homem ou 
uma mulher de Deus, é chegado ali o reino de Deus. Deus não anda sem os nossos pés, não ajuda sem  que as nossas mãos ajudem, não fala sem que as nossas vozes falem,  não conquista sem a implantação do reino, através das nossas vidas.
    Deus também não é um imperador expansionista invisível,  que chega no Iraque sacrificando  outros ditadores. Deus respeita o livre arbítrio dos ditadores. Da mesma forma, como Deus respeita o território alheio. A terra ainda não pertence a Deus, o inimigo ainda não foi vencido.
    Responsabilizar a Deus pelas catástrofes naturais, seria o mesmo que comprar um carro zero Km, entregar a direção para um bêbado e depois de instalado o acidente que fatalmente aconteceria, atribuir a culpa ao dono da indústria automobilística. Por outro lado,  dizer: “ eu não vejo o dono da indústria como o responsável por esse acidente”, é, por inferência, admitir que se pensou nessa possibilidade. É aventar a hipótese, ainda que absurda. Tanto a acusação quanto a hipótese ofendem o amor, a  santidade e a justiça de Deus. Esses três atributos do caráter de Deus permitem que eu lhes diga que Deus se entristece profundamente com a situação caótica da terra. Mas Deus não intervirá nos eventos naturais porque não faz parte do caráter de Deus exibições sobrenaturais. Até porque se o nosso amor e a nossa 
compreensão de Deus dependerem disso, Deus dispensará que o amamos e o compreendamos.
    Sobre a nação americana paira um tipo de juízo sem vingança. Que não é um evento sobrenatural é apenas uma colheita, como o efeito que é desencadeado por uma causa.  Disfarçada sobre o rótulo da democracia, a bandeira americana tem imposto uma tirania aos povos da terra. 
    Realmente há que se concordar quando se diz que todos os impérios da terra ruíram. Excetuando-se o império romano, que ainda não ruiu, todos os demais imperios já desmoronaram. E a América é um pequeno imperio que está desmoronando.
    E aí voltamos ao mesmo raciocínio: dizer que o desmoronamento da América é fruto apenas da má administração dos seus dirigentes, seria deixar a América fora do campo de ação de Deus. O Deus que fez a América não teria poderes para intervir na América. Contudo, dizer que Deus é o responsável pela queda do império americano seria reduzir Deus a um imperialista que se impõe pela força da sua divindade a um outro imperador a ser sacrificado nos corredores da sua crueldade.
    Mais uma vez temos que encontrar uma solução e essa solução é ainda mais clara do que o sol do meio dia. “Não vos enganeis. Deus não se deixa escarnecer. Tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” Gálatas 6:7.
    A lei do plantio e da colheita rege a terra. Deus não passará por cima das suas leis para salvar “os puros de coração da América.” Até porque os puros já estão salvos. O conceito de salvação é mais amplo do que a humanidade imagina.  Deus permitirá que venha o fruto da colheira mesmo que “as nações sejam formadas por filhos de Deus” e as pessoas digam: “não gosto desse Deus vingativo.”
    Se ele fosse vingativo, eu poderia não gostar dele, mas ainda não ousaria admitir esse sentimento. “ Mas óh homem quem és tu que a Deus replicas? Dirá a coisa formada ao que a formou: por que me fizestes assim?” Romanos 9:20. Mas ele é um Deus santo e justo. E por causa da sua justiça e da sua santidade que não podem ser violadas, - e se pudesse seu Filho não precisaria ter morrido- por causa dessa justiça e dessa santidade, todos as colheitas suceder-se-ão na terra como resultado do plantio. 
    Naturalmente. Sem interferências spilbergianas e sem omissões turísticas.
Acionar os comandos desencadeadores de um tsunami, sejam eles de ordem climática ou econômica, seria incompatível com os seus atributos, mas condescender com o mal seria injusto. Portanto, Deus que é absolutamente livre para escolher, escolheu: que o homem faça as suas escolhas e pague o preço por elas, porque é exatamente isso o que faz todo pai que reconhece no filho o direito à liberdade consciente. Contudo, há que se revelar que  o sofrimento tem um caráter didático. Se conhecemos a sua eficácia antes porém de conhecer a Deus, e muito 
mais depois de conhecê-lo, saberemos que o sofrimento tem um caráter didático sobre os filhos de Deus. O sofrimento nos faz mais semelhantes a Cristo. Podemos crer e confiar que na América, ou em qualquer outra nação da terra, após os tsunamis da vida, os puros de coração e os filhos de Deus tornar-se-ão ainda mais puros de coração e mais filhos de Deus. 
    Esta mensagem é fruto da minha experiência pessoal com Deus, após um tsunami que se abateu sobre a minha vida. Não entendo todos os designios de Deus, mas tenho me guiado por este versículo que encerra este artigo: “ As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém as reveladas pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” Deuteronômio 29:29.Há uma lei que rege a minha vida: “sobre o que sei, falo; sobre o que não sei, me calo.”
 
Ana Ribas

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LOUCO É ELE. NÓS SOMOS LÚCIDOS.
ANA MARIA RIBAS.




    Um artigo publicado sobre Vincent Van Gogh, na revista Veja, fez-me pensar um pouco mais. Que pensar é matéria de que gosto muito. Não sou uma aficcionada por arte, não tenho os pré-requisitos culturais necessários para admirar a pintura dos gênios. Tenho em casa uma única tela, assinada por artista de reconhecido talento e, as demais, são da minha filha Silvia. No campo das artes, minha maior referência é ser amiga de uma consagrada artista plástica carioca: Monique Hecker. Suas aquarelas são belíssimas e há pouco tempo recebi convite para uma exposição no 
Museu Nacional de Belas Artes do Rio. Fiquei inchada de alegria por ela estar no MNBA. Lembro-me bem: quando as minhas crianças eram crianças, Monique sentava-se com elas, lápis e giz de cera por todo lado, ao chão, e ali se compunham obras. Que eram de arte, e eu não sabia: tão leiga sou. Acho lindas as aquarelas e os quadros de Monique,  como também acho linda a tela de Kenji Fukuda, em aço escovado que tenho em casa há mais de 20 anos, como também acho maravilhosas as telas de Silvia Bernardelli. De onde se conclui, facilmente, que não sei distinguir uma obra,  de real valor artístico, de outra obra de valor apenas nominal, ou sentimental. Mas sei algo de gente. De gente, eu conheço um pouco. 
    E pensar em gente é matéria fantástica.Van Gogh gostava de entardeceres. O entardecer é a hora trágica. A hora em que não se tem o brilho do sol para iluminar as alegrias e nem para afrontar as  dores. Se Van Gogh tinha fascínio por entardeceres, mesmo equivocado com as demais frações do dia,  é porque o crepúsculo lhe era a hora menos desconfortável. A hora em que tudo combinava com tudo. O entardecer combinava com as suas telas noturnas, com a sua orelha 
mutilada, com os seus porres de absinto, com a sua visão do mundo. O entardecer era ele.
    Van Gogh tinha amizades tumultuadas com pessoas do mesmo sexo. E daí? Daí que isso sugere um jeito de ser apaixonadamente vivo. Não me interesssa se esse jeito de ser apaixonadamente vivo,  incluía  uma opção sexual não muito bem definida. Estou falando de seres humanos e não de genitálias. Estou falando de alguém que tendo preferência pelo escuro da noite, também se ilumina numa paixão corrompida por obscura posse. A posse do outro. Esse amigo é meu, Vincent dizia: - “não empresto, não vendo, não exponho  e não dou.”  
    Van Gogh era um leitor compulsivo em vários idiomas: tinha que ser! E mantinha o costume de transcrever trechos de romances e poemas. Os seus próprios, ele escrevia em telas, buscando a palavra no claro e no escuro de seus fantasmas que apenas o seguiam, mudos, calados, delineados em sombras.
    Van Gogh tinha pensamentos suicidas. Esses pensamentos lhe foram tão recorrentes que acabou por sucumbir a um deles – a um único deles, no dia em que, verdadeiramente  estourou-se com um tiro no peito.
    Pensamentos suicidas sempre ocorrem em luz e sombra. A luz ilumina o pensamento quando o potencial candidato a suicida, imagina-se em seu próprio velório, ele mesmo assistindo aos velantes, enxugando-lhes  as lágrimas derramadas por sua partida,  o amor e a importância que, em vida lhe foram negados, subitamente adquiridos. Tudo aquilo que, supostamente, para alguém que viva em sombras, pode ser a única luz no fim do túnel. Mas a sombra, e não a luz, é o destino: o último lampejo de lucidez desamparada antes  da solidão da passagem, antes do insólito  absurdo.   O caminho sem volta no túnel – do tempo para a eternidade. 
    Van foi esse homem angustiado, de cachimbo na boca, de boina na cabeça, de orelha mutilada,  de entardeceres tristes, de paixões enlouquecidas. Todos os ingredientes perfeitos que formam um gênio, o gênio que precisamos para nos sentir, finalmente comuns, normais  e lúcidos. Louco é ele.
    Contudo, nada é perfeito e os homens teimam em procurar uma mínima imperfeição no gênio, até que essa imperfeição apareça. Pois conseguiram: reviraram as cartas que ele escreveu, numa indiscrição tamanha, apenas para descobrir que esse cara era um estudioso dedicadíssimo às técnicas: noventa por cento de transpiração e dez por cento de inspiração, a julgar pelo que, esta semana lhe atribuíram.  Um sujeito meticuloso, que fechava a cortina, que acendia o abajour, que colocava fogo nas achas da lareira, apenas para “explorar exaustivamente as possibilidades de “chiaroscuro”, o termo em italiano usado para designar o contraste de claro e escuro, de luz e sombra.”
    Essa revelação é irrelevante, des-importante e extremamente improdutiva. Como se depois dos séculos tombados, tivessem, finalmente achado, o pedaço da orelha perdida. Precisa-se tanto de um gênio louco nesse mundo de sanidades apenas aparentes, e quando se consegue patentear um Van Gogh, que se pensava pintar enlouquecidamente, em surtos de extrema concentração divina, entregam-nos, agora, um estudante de belas artes, aliando a técnica à disciplina. Nada mais prosaico e sem glamour. Nada mais dois olhos, um nariz, uma boca e duas inteiras orelhas.Eu quero a orelha sem pedaço. Quem roubou a minha orelha sem pedaço?
    Saber que Van Gogh gastou seis meses apenas estudando a melhor maneira de obter um único quadro “ Os Comedores de Batata”, tela de 1885, que foi considerada a sua primeira obra de real valor, só me mostra que, na arte como na vida, tudo deve ser feito com cuidado, com medida, com dedicação.  Mas, convenhamos: 118 anos depois da sua  morte, encontrar o pedaço da orelha perdido, além de trágico e inútil, é quase cômico. O que se faz com isso?


* As informações foram colhidas da Revista Veja, edição de número 2080. 

* A aquarela, da coleção "Matéria Poética" é da artista plástica carioca Monique Hecker.  

Ana Ribas

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QUANDO A MÁQUINA FALHA.
Ana Maria Ribas Bernardelli.


    Escrevo sob emoção, e uma certa urgência. Tenho amigos que estão doentes, gravemente doentes. Alguns, em estágio inicial, outros em estágio intermediário, e outros em estado grave. Amigos com os quais convivo e outros, mais distantes,  que acompanho, mesmo de longe. Aqui e ali, as pessoas são acometidas por enfermidades sérias que podem lhes custar a vida. Faz parte da natureza humana que a máquina possa apresentar falhas, e essas falhas requerem  ajustes e adaptações.  Todos os doentes, sem exceção,  precisam do acompanhamento de profissionais 
especializados e normalmente, tão logo recebem a notícia, é isso o que fazem. Fazem o que devem fazer: procurar ajuda médica.
    Mas há alguns cuidados que não dependem do médico, mas de cada paciente. Coisas que devem ser feitas com a mesma fidelidade com que se segue a prescrição do medicamento, as sessões de quimioterapia, as hemodiálises.
    O diagnóstico de uma doença, qualquer que seja ela, crônica ou aguda, grave ou menos grave, desde que não seja congênita, mas adquirida, merece de nós uma reflexão paralela.Em algum lugar do tempo, o corpo emitiu sinais que não ouvimos. Mas passado é passado. E essa reflexão é urgente porque é para hoje, é  para agora, e terá reflexos no futuro imediato.  A primeira reflexão deve ser sobre a alimentação. Não importa o que se comeu no passado, e nem mesmo o sabor que se aprendeu a gostar. 
    Daqui para frente é preciso renunciar aos sabores adquiridos e aprender a alimentar-se não somente com as papilas gustativas, mas com a inteligência. Será preciso dizer: dane-se sabor, eu preciso comer todos os tons de verde, de laranja, de amarelo, de vermelho, de branco, e de roxo. Alimentos naturais e livres de conservantes. Daqueles que jogamos dentro de uma centrífuga potente, misturamos tudo e engolimos como um elixir de vida. Será preciso dizer:  meu corpo necessita de grãos integrais, e não desvitalizados. De pão preto, e não  de pão branco;  de arroz escuro, e não de arroz branquinho.
    É hora de ler livros que tratem sobre o assunto. E levá-los a sério porque, se até aqui essa história de comida natural nos pareceu coisa da turma do verde, é bom conferir se os conceitos que aprendemos, seguindo o fluxo da multidão, não nos fizeram enfermar.E para conferir, é só olhar em volta:  O mundo está doente: há uma população obesa, e boa parte dela já deve estar com gordura infiltrada nos órgãos mais importantes do corpo. Tudo por culpa de uma alimentação equivocada e um estilo de vida sedentário. Uma coisa puxa a outra. Como diz a nossa Bíblia: um abismo chama outro abismo. Sempre.  Portanto, não é hora de brincar. É hora de investigar. O médico faz  a parte dele, você tem que fazer a sua.
    Não adianta muito correr todas os sites da internet,  atrás de assuntos científicos sobre o tema. Cientista é o seu médico. Mas adianta muito, aprender como viver uma vida livre de conservantes químicos e outros venenos mais: adoçantes, refrigerantes, carnes vermelhas, embutidos, açúcar, gorduras animais, gorduras trans, frituras. Todas essas coisas precisam ser diminuidas ao mínimo possível,  enquanto se tem saúde, e completamente abolidas quando se a perdeu.
   Você precisa ingerir alimentos que o ajudem a combater a doença, a reencontrar o equilíbrio entre a acidez e a alcalinidade que existe no sangue, e que são determinadas por aquilo que se come. Quase tudo o que é gostoso é alimento ácido, já vou adiantando. E as doenças só prosperam em meios ácidos. Essa informação nem todo médico tem, ocupados que estão em combater doenças já instaladas. Sem contar que a medicina natural não conta com a simpatia dos tais que, muito provavelmente, se forem questionadados sobre o assunto  responderão: mal não vai fazer. Mas eu lhes afirmo por experiência própria: bem lhes fará.
    Sobre isso, você pode pesquisar na internet: alimentos ácidos e alimentos alcalinos. Aprender o que isso significa, aprender a distinguir uns dos outros, e dessa forma obter ânimo para colocar em prática uma alimentação saudável. Que vai ajudar a combater a doença, quando instalada, e a evitá-la antes que se instale.
    A segunda reflexão é sobre o estilo de vida. Os animais quando ficam doentes, baixam a cauda, e procuram, quietamente, um lugar para descansar. Eles não latem suas latitudes de falsa alegria: eles são autênticos. Estão doentes e assumem a doença. E em assumindo a doença, estão nos dizendo: eu quero me curar. Se você  oferecer carne a um cachorro doente, ele não aceitará. E nem precisa ser doença grave. Uma gastrenterite já o faz dispensar a carne e preferir grama. Sim, o cão quando doente, faz jejum de coisas boas,  mas come grama. A grama contém 
os sais minerais que ele precisa para repor o equilíbrio e se manter minimamente alimentado até que o corpo se restabeleça.
    Mas não quero que ninguém saia por aí comendo grama. A inspiração que busco no cão é o repouso. Repouso em tempo de doença é prioridade. 
    Admitir que se está doente, vem antes de escolher repousar. Há pessoas que quando recebem um diagnóstico desses, por um mecanismo de fuga, voltam a trabalhar em dobro. Na saida do hospital já anunciam o quanto estão bem, e quão breve devem retomar as suas atividades. 
    Tancredo Neves foi assim, Mário Covas foi assim, nosso vice-presidente é assim, alguns de meus amigos são assim. Muitos de nós somos assim. Enfiamos a cabeça no trabalho para tentar esquecer o inesquecível.
    Eu ouso dizer, embaixo do sangue de Jesus,  que não deveria ser assim. Deveríamos ter a sabedoria dos cães e dos gatos, que baixam a cauda e procuram a solidão tão necessária. Solidão não é isolamento, é recolhimento. É escolher ter ao lado de si apenas as pessoas do círculo familiar e pessoal. É desacelerar.  É dar um tempo. Dar um tempo para que o corpo e a mente, em uníssono, alcancem a harmonia tão necessária. É pensar antes em si do que nos outros, para depois pensar nos outros antes que em si.
    Esse é o momento de priorizar a própria vida. Dane-se o resto do mundo. O resto do mundo vai continuar, se você deixar de existir. Mas se continuar existindo, que seja com uma consciência mais ampliada. E com mais amor pelo tabernáculo terrestre que Deus lhe deu.
    A terceira reflexão é de ordem espiritual. Não basta entregar a causa ao  médico, por mais gabaritado que ele seja. Não basta mudar radicalmente a  alimentação. Não basta priorizar a própria vida. É preciso aprender o que é vida.
    Vida não é um estado de consciência que lhe coloca na posição de poder agir e reagir com o mundo à sua volta. O contrário desse tipo de vida é morte física. Vida não é apenas isso. Vida é aquela que  se obtém quando se recebe o Senhor Jesus para dentro de si. O contrário dessa vida é morte espiritual. Essa é a vida inerente, uma vida que não depende da vida biológica, e que nos transporta do reino das trevas para o reino da luz. 
    A vida inerente vence a morte para sempre. O equivalente a essa vida é ressurreição. O  poder de ressurreição  que há nessa vida começa a valer por aqui mesmo e também pode trazer cura para um corpo doente. Ou não. A prioridade de Deus é sempre a vida inerente e não a vida biológica.
    No livro de Isaias no capítulo 38, ficou registrado para nosso ensino e meditação,  a história do rei Ezequias. Ezequias estava doente, e orou ao Senhor Deus, com o rosto voltado para  a parede. Ele não apenas orou, ele suplicou e implorou, para que Deus lhe concedesse mais alguns anos de vida. E Deus lhe concedeu mais 15 anos.Parece pouco? Não, para quem já tinha a sentença de morte iminente.
    Essa sentença temos todos. Um dia de cada vez, é a nossa eterna medida de vida.
    Ezequias voltou o rosto para a parede  e orou. Para onde os homens enfermos têm voltado os seus rostos, depois que cumprem todo o seu périplo aos consultórios médicos profissionais? Para o Palácio do Governo?  Para as  agendas públicas?  Para os encontros de negócios? Para as fazendas de gado? Para os cursos de especializações? Até quando? Até que não haja mais jeito?
    Quando não houver mais jeito, talvez se lembrem desse último jeito. Um jeito simples e tão acessível:  virar o rosto para  a parede e orar como Ezequias orou.
     Talvez Deus atenda. Ou não. Deus é soberano. Mas o último recurso não deveria ser Deus. Deus, deveria ser o primeiro recurso, tanto na saúde, quanto na doença. Para Ezequias, ele foi o último recurso,  e ainda assim, Deus o curou.
    Temos Deus, temos a parede, temos a fé. Deus repartiu com cada um de nós uma medida de fé: um grão de mostarda serve. Não precisamos ir a Jerusalém, em busca da muralha do templo: a parede do nosso quarto é boa o suficiente. Não precisamos buscar a Deus no céu, ou no abismo: 
Sua presença enche a terra e  está em todo lugar!

O que nos falta?

Ana Ribas

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O Resgate das Árvores

    É por isso que eu amo Deus. Uma amiga querida me disse que gosta de tudo o que escrevo, mas que gosta menos dos textos evangélicos. Fui tentada a lhe dizer que eu nunca escrevi textos evangélicos. Escrevo a minha vida com Deus, e essa vida tem um enredo que anuncia o Evangelho. 
    Viu como é diferente, amada? E não tenho como me furtar a isso. Quer ver? Assunta só o que aconteceu comigo hoje, pela manhã.
    Postei aqui o meu primeiro texto e fui para a academia. Já disse a vocês que tenho o privilégio de ter uma academia na frente de casa? Pois é, tenho. Enquanto estava lá, fiz uma comunicação relâmpago com Deus. Disse a Ele que me perdoasse por não ter tido tempo de orar e ler formalmente a sua Palavra, mas que acreditava que, mesmo assim, Ele ainda poderia me usar, nesta manhã, para ser um instrumento dEle na terra. E fiquei esperando. Porque quando a gente ora, Deus responde.
    De repente, do nada, resolvi encerrar os meus exercícios e voltar para casa, mais cedo. Fui tomada por um sentimento de urgência e obedeci.
    Na frente de casa, do outro lado da rua, a surpresa: um homem com uma moto-serra, pronto para derrubar duas árvores de 20 anos de idade. 
    Árvores que foram plantadas pelo meu marido, que arborizou todo o nosso quarteirão, num tempo em que não se tinha consciência ambiental. 
Será que agora se tem?
    A primeira reação foi achar que a árvore, embora tão linda estivesse doente. Não estava. O homem da moto serra me explicou candidamente que as árvores seriam sacrificadas porque as folhas sujavam muito a piscina da casa. Fui tomada por uma sensação de incredulidade perplexa, mas me recuperei rapidamente. Precisava agir. Não pensei na vizinha.
    Penso agora, com certa angústia: Vizinha amada, perdoe-me. Ache-me excêntrica, louca, perturbada, brinde-me com qualquer sentimento, menos com a mágoa. Temos uma relação tão pacífica e você sempre me foi solidária nas horas amargas. Mas entre você, um filho, um neto, qualquer outra pessoa que tivesse a intenção de derrubar as árvores do planeta terra por um motivo vil, eu ficaria do lado das árvores e do planeta terra. Eu ficaria do lado de tudo que tem vida e sofre nas mãos dos seres chamados inteligentes, seja ele bicho ou árvore. Minha reação foi muito rápida. Trêmula, como se a vida da árvore me fosse minha própria vida, eu disse para o homem da moto serra: ainda que seja preciso subir no último galho dessa árvore, ela não será sacrificada.  Então, ele me apontou uma arvorezinha mirrada que havia sido plantada para substituir a outra, conforme a  legislação. Não aceitei. Muitos  verões terão que vir para que aquela arvorezinha possa fazer a sombra que a outra nos faz. A vida que ela nos traz. O oxigênio que ela nos devolve. O sonho que ela alimenta.
    Agi rapidamente: liguei para o departamento municipal do meio ambiente - que funciona!- e o João Paulo veio rapidamente. João Paulo, meu filho, muito obrigada! Vi logo que você, com seus  olhos verdes tão profundos, tinha tudo a ver com  o verde clorofila da vida. Obrigada pelo pronto atendimento como autoridade, e como ser humano sensível que você é. Depois disso, fiquei assim como estou agora: emocionada com as minhas árvores. São minhas! Triste com a humanidade: É minha também. Preocupada com as possíveis sequelas que possam restar no campo tão minado das relações humanas: que remédio?
Assumo a minha culpa por ser assim tão socialmente equivocada, no terreno puramente pragmático das relações sociais. Assumo a minha culpa por existir dessa maneira exótica, protegendo bichos, abraçando árvores, rolando de cada declive e me levantando, sempre um pouco envergonhada, sempre mais solitária, cada vez mais excluida, portadora da síndrome dos atos apaixonados, num mundo sem grandes paixões.

Ana Ribas


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Projeto Evangelístico Consertando as Redes

    Claudinha me pediu para explicar o que é o Projeto Evangelístico Consertando as Redes. Sabe, Claudinha, confesso para você, que  é difícil colocar em palavras o que Deus colocou em meu coração. Eu diria que o projeto é um grito, como o grito de um atalaia. Mas isso é muito doutrinário e o projeto é muito prático. O projeto é um grito, mas um grito, apenas significa que alguém está querendo chamar  a sua atenção. Também é isso, mas não apenas isso. Então, guarde isso e, se Deus nos der graça,  vamos prosseguindo.
    Um dia, enquanto  estava lendo um escritor  inspirado, minha atenção foi despertada para o fato de que, no Evangelho de Mateus, quando Jesus chamou a Pedro e  André, os dois estavam pescando. Esse fato, como todos os outros fatos descritos na Bíblia Sagrada, é uma semente que se desenvolve nas epístolas até encontrar maturidade em Apocalipse.  Considere semente, tudo aquilo que tem um potencial para ser algo mais do que a palavra loghos revela. Então, você verá que tudo na Bíblia é uma semente que de loghos, vem a ser Rhema, e sendo Rhema,  essa semente vira fruto. Esse  fruto pode ser comido, e essa é a comida que mata a fome.
    Depois o escritor comentava que, nesse mesmo Evangelho, Tiago e  João, o Evangelista, não  estavam pescando, mas consertando as redes. E ali estava uma outra semente. Então, com essa semente, compreendi que João teve um ministério diferente de Pedro. Pedro  foi chamado  para lançar as redes e ser pescador de homens, mas João foi chamado para remendar os furos que havia nas redes do cristianismo pescador. João teve um ministério completamente diferente e ulterior aos demais apóstolos. O ministério de João foi um ministério remendador. E como João remendou as redes? Pelo amor e pela exortação que leva ao primeiro amor. João teve uma palavra vigorosa, que expunha, que expurgava, que limpava.
    Foi só isso. Quando fechei o livro, compreendi que o meu ministério acabara de ser desvendado. Há algum tempo venho observando tantos furos na rede, que me admira ainda conseguirmos pescar os peixes que temos pescado. Há algum tempo venho me sentindo despertencida. Porque, se por um lado  nunca me faltou o sentimento de pertencer à igreja invisível, por outro lado, há muito tempo não consigo mais obter o sentimento coletivo de pertencer, de forma prática, à igreja do Senhor Jesus que, neste tempo, se move na terra.
    A Igreja, você sabe, é um organismo. A igreja não é uma organização. Um organismo é vivo e se move em função da vida. Uma organização é morta e se move em função de regulamentos e normas. A igreja é:  Cristo, sendo derramado Pelo Espírito, dentro de cada um de nós. A ênfase está em cada um de nós: os de cinco talentos, os de quatro talentos, os de dois talentos, os de um talento. Essa soma de talentos, sendo manifestada, forma o corpo de Cristo na terra. Será que lendo esse texto você identificou algum furo na rede? Pois é: A igreja não é um clube ainda que, por vezes, se pareça com ele;  a igreja não é um palco, onde algumas estrelas brilham;  a igreja não é uma denominação, fundada pela tradição dos homens;  a igreja não é um lugar para exibição de pedras decorativas; a igreja não é só uma questão de sentar e de ouvir, mas de edificar, conjuntamente o Corpo de Cristo na terra, para que ele se mova, em função de um único Cabeça, que é o Senhor Jesus. Quão diferente disso tem sido a nossa experiência prática.
    Não tenho a pretensão de que, eu, enquanto serva, mesmo servindo ao Senhor, e me movendo conforme a sua determinação, irei consertar todos os furos, de todas as redes. Mas, faço a minha parte. Sou a voz que dá o grito aqui. Você pode ser a voz que dá o grito aí.  Um grito aqui, outro aí, outro ali. Vou semeando as minhas sementinhas, nas igrejas, pela web, pessoalmente, vou plantando as sementes que  o Senhor colocar no meu embornal. Não tenho todas, ainda. Mas, à medida em que Deus me revela a semente, eu revelo a outros. Em termos práticos, são várias ministrações que visam despertar o povo de Deus: Desperta oh tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará.
    A Palavra tem sido muito bem recebida em todos os lugares aonde Deus abriu para mim. Mas aqui mesmo, em minha cidade, muitas portas permanecem fechadas. Quando elas se abrirem eu entrarei, porque a porta que Deus abre ninguém fecha. Tudo a seu tempo e esse tempo é o tempo de Deus.
    Esse é o Projeto Evangelístico Consertando as Redes. Um nome fecundo e cheio de significado, um projeto grandioso demais para ficar circunscrito aos limites da minha compreensão.  Tenho consciência disso. Creio que no mundo todo, muitos irmaõs estão engajados na realidade desse  projeto sem conhecer o seu nome. Creio que alguns irmãos, já viram muito além, do que eu  vi. Mas tenho que ser fiel ao que  vi.  Porque o Evangelho é uma questão de receber a visão e ser fiel a essa visão.  Deus não cobra o tempo da nossa ignorância, mas cobra o tempo do nosso entendimento.
    O tempo do nosso entendimento é hoje. O seu tempo  começa a partir de agora. Você pediu para saber o que é o Projeto e soube. Mesmo, de forma limitada, resumida, o Espírito de Deus lhe fará obter  entendimento em tudo e seu coração vai bater um pouco mais acelerado. É tarde para fugir.

Ana Ribas

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REQUIÉM AO PADRE VOADOR

Padre que tentou voar com balões é sepultado no Paraná. 

    Eu nunca tentaria voar com balões, eu que vôo todos os dias no mundo das minhas  idéias. Também nunca voaria, sem necessidade, em um avião. Voar me atrai, exclusivamente, com a finalidade de me  repelir. Os opostos se atraem, os iguais se repelem. Sei que ficou a dúvida, mas a dúvida é apenas um outro jeito de pensar.
    O sonho do padre voador ficou dentro de muita gente. Dentro de mim, ficou intacta a simpatia por um homem de cara boa, redonda e gorda, evocando Marcelino Pão e Vinho da minha infância.
    Qual era o objetivo do padre ao tentar voar com balões? Essa é uma pergunta difícil de ser respondida. Porque os homens sempre sonharam em ter asas, mas é justamente a proximidade com essa solução tão  previsível  que dificulta a resposta exata. Não temos distanciamento suficiente para encará-la e nivelamos por baixo: mais um homem querendo voar.
    Nos dias em que se seguiram ao desaparecimento do padre, eu desapareci um pouco de mim. No meio da  noite, acordava pensando no padre,  como se o padre me fosse meu, como se a última confissão tivesse sido a minha, como se o vinho da sacristia tivesse sido entornado por minha culpa.
    Não, eu nem conhecia o padre. Mas que importância haveria em  conhecer ou não conhecer?  Importaria sim, encontrar o padre,  com  seu sotaque de padre, com seu jeito de padre, com  a sua cara de padre, uma cara tão saudável, tão cheia de vida, o rosa da face se misturando ao rosa dos balões, o Deus do padre e o  meu Deus, ambos unidos com  um GPS poderoso  na mão,  uma lanterna na minha, eu e Deus vasculhando o oceano, à procura do padre.
    Passaram-se os dias e nada do padre. Então, comecei a desejar que o padre não estivesse sofrendo mais, como eu estava.  Eu, que nem paroquiana sou. Eu, que não sigo as leis de Roma.  Eu, que nem precisava tomar  essa hóstia das mãos do padre.
    Depois de uma semana, com certo alívio, percebi que ele já não sofria e, portanto, eu não precisava sofrer também. Fui alforriada do sofrimento do padre, eu que já tenho o meu.
    Mas hoje, quando vi a reportagem sobre o enterro do padre, me veio de novo a viva esperança de encontrar nesta reflexão as asas que lhe faltaram no vôo trágico. Porque a morte de um padre que teve o desejo de voar, como voa o dedo em riste das crianças,  atados a balões cor-de-rosa, tem que manter, em meio ao luto e à dor, pelo menos,  um cotoco de asas de anjos. Estou aqui à procura delas.
    Quem sabe, ele quis enxergar o mundo, lá de cima, da perspectiva dos anjos. Quem sabe,  ele quis mostrar, aos seus paroquianos amados que há um jeito de voar sem  passagem, sem voucher, sem dinheiro. Ou talvez, anunciar aos seus colegas de púlpito, que nenhum homem precisa renunciar  a  asas, quando ganha uma batina.   Talvez, quando menino, padre Ederli tenha  sonhado que estivesse voando. E esse sonho, reincidente, a cada noite, lhe roubasse um pouco o brilho das manhãs.  Talvez,  naquele dia, sem suportar mais a espera por um par de asas, ele tenha  tomado a decisão corajosa de roubar dos balões de gás, o impulso que lhe faltava para, finalmente,  voar. E Padre Ederli voou.
    Quem sabe, talvez, pode ser, é bem provável. Não há uma bússola que nos leve diretamente às razões do coração do padre.  Porque a terra é muito extensa, porque o oceano é muito profundo, porque o céu é inescrutável, porque o coração de um homem não pode ser tocado enquanto ele vive, e menos, ainda,  quando ele bate as asas e sobe.

Ana Ribas

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A Lei da Sequência.

    Uma criança tem morte súbita numa creche em São Paulo. Outra criança tem morte súbita numa creche em Goiânia. Um homem morre por trafegar na contra mão na Rodovia Régis Bitencourt. Vários homens morrem por trafegar na contra mão em várias rodovias brasileiras. Um avião cai na ìndia. Outro avião cai em Bangladesh. Um homem joga uma criança da janela do sexto andar. Uma mulher joga uma criança da janela do quarto andar. Uma bala perdida atinge criança em Recife. Várias balas perdidas atingem crianças em vários estados brasileiros.
    O que é isso? Os matemáticos diriam, com base em estatísticas, que é a Lei da Sequência. Mas essa teoria não me convence. Não me convence porque a Lei da Sequência só vale para coisas ruins, para desgraças, para tragédias, para o  extraordinário ruim da vida. Nunca se ouviu falar que a lei da sequência valesse para o extraordinário bom da vida.
    Eu tenho outra teoria. E essa tem base bíblica e vem com o aval de Deus. A Bíblia diz em Efésios 10 que a nossa luta não é contra a carne e nem contra o sangue, mas contra principados e potestades, contra os espíritos dominadores deste mundo, contra as forças espirituais da maldade nas regiões celestiais.
    O homem é pragmático por natureza e só acredita no que vê. E por só acreditar no que vê, não sabe se defender do que não vê. Se o exército americano invadisse as terras da Amazônia, o exército brasileiro seria convocado imediatamente para defender a soberania nacional. Contudo, temos em comum um inimigo ainda mais poderoso, com um exército de seres organizados hierarquicamente,  e a única arma realmente eficaz que temos contra ele é o conhecimento de Deus e da sua Palavra.
    Não sei como terminar esse artigo. Não faço apelo a incrédulos. Mas, talvez, entre os que me lêem existam alguns que estejam intrigados com esses acontecimentos. Para esses, escrevi este artigo.  Se, através dele, eu puder fazer uma única pessoa refletir sobre o assunto e conferir na Palavra de Deus, já estarei satisfeita.
    Temos um inimigo comum ameaçando a nossa soberania individual. Enquanto ele estiver camuflado, enquanto ele não for detectado, haverá ainda muitas crianças morrendo, muitas mortes  e tragédias acontecendo, ao mesmo tempo em que o mundo aceita passivamente que, tudo isso, é apenas  e tão somente, uma questão matemática.

Ana Ribas

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A FORÇA DE UM SENTIMENTO.



    Eu sempre me perguntei porque a Bíblia Sagrada não destaca o papel da mulher e da maternidade, dando-lhe a mesma  ênfase social que o humanismo lhe dedica.
    Entre as figuras femininas que ocupam as páginas do Livro Sagrado, incluindo aquelas que se sobressaíram positivamente como Sara, Débora e Rute, a menção sobre elas não tem um caráter de contribuição histórico social, como acontece com alguns personagens bíblicos do sexo masculino. Até mesmo a mãe de Jesus, cujo exemplo de maternidade revelou-se irrepreensível, recebeu dos escritores inspirados um retrato econômico e bem sucinto. De maneira que, ainda que se considere os valores culturais daquela época como justificativa para essa restrição, há que se pensar numa outra fórmula para compreender a economia com que o assunto foi tratado, sem perder de vista a infalibilidade do conjunto dos livros sagrados projetados para uma dimensão  eterna.
    Portanto, fui buscar na primeira maternidade uma compreensão mais clara do que Deus revela sobre esse desempenho social e me deparei com uma sentença de juízo lá em Gênesis 3:16: “E à mulher ( Deus) disse: Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua concepção; com dor terás filhos; e o teu desejo será para o teu marido e ele te dominará.”
    Pareceu-me sugestivo que a maternidade estivesse vinculada a um documento sentencial cujo pacote nasceu acompanhado da dor, do desejo e da submissão, tendo a assinatura do próprio Deus no final da sentença. Estava, pois aí a chave bíblica para a compreensão espiritual do invólucro maternal e dos enigmas existenciais que o acompanham: a maternidade foi para sempre vinculada à idéia de sofrimento e essa vinculação não existe  por força de conteúdo poético mas por determinação do próprio Deus. Ele mesmo disse que com dor teríamos filhos e que, não obstante essa dor, acrescentaríamos ao nosso histórico existencial algumas características hormonais que nos fariam desejar um marido, mesmo reconhecendo que esse varão do sexo masculino nos dominaria pelos séculos dos séculos.
    Que me perdoem as feministas, mas o que Deus disse está dito e amém! Ainda que Jesus tenha vindo para nos libertar da lei,  permanece em nós mulheres, um resquício de assentimento vocacional para com os rigores do Éden. Gostamos da sentença que foi prolatada. Apegamo-nos a ela como princípio, meio e fim de nossa existência.
    De saída compreendi que, não por acaso, há um ditado popular que diz assim: “ser mãe é padecer num paraíso.” E se levarmos em conta que há muito tempo o paraíso deixou de ser um lugar geograficamente localizado aqui no “planetinha”, chega-se à conclusão de que  ser mãe é padecer na terra mesmo. Não é fácil ser mãe na conjuntura atual. Mesmo que os partos não venham mais, via de regra, acompanhados das dores de ordem física e que a analgesia se encarregue de amenizar cada vez mais a sentença genésica, ser mãe, no mundo de hoje, repleto de perigos e sobressaltos,  é acrescentar à própria existência um jeito de ser potencialmente dolorido e doloroso. De repente, tudo nos assombra: o ambiente se torna forçosamente hostil, ameaçando o nosso amor maior.  Com a maternidade nos sobrevêm não apenas aquela força primitiva, que faz de todas nós,  mulheres-leoas protegendo o filho-filhote, mas também a consciência de que, por uma ligação biopsíquica, estamos vinculados, irremediavelmente, àquele ser que é parte de nós, mas ainda assim não nos pertence mais.  Quando o cordão umbilical  foi cortado, com ele rompeu-se a nossa ascendência absoluta sobre aquela existência tão frágil, tão delicada e, paradoxalmente,  tão cheia de vontades. De certa forma, não fomos nós quem a expulsamos do ventre: foi ela quem nos expulsou para poder realizar as suas próprias escolhas existenciais.
    Ser mãe é vivenciar o mais profundo e paradoxal dos sentimentos porquanto mesmo amando, com toda a força da nossa alma, bem cedo compreendemos  que não nos compete alardear esse amor tão pleno e nem fazer dele a nossa bandeira maior. Aliás, ser mãe é amar discretamente, sempre em silêncio, reservando o estandarte para usá-lo, apenas, nos momentos de maior fragilidade existencial. É ainda, torcer para que esses momentos sejam superados sem a nossa participação direta,  e que, de certa forma, a nossa maternidade seja tão plena, mas tão plena,  que passe desapercebida a olhos atentos.  É estimular a individualidade, através da qual, uma parte se desprende de nós e ainda assim, misteriosamente, permanece ligada a nós para sempre. Ser mãe é fazer como Maria que, quando não compreendia as escolhas pessoais de seu filho Jesus, revestia-se de sabedoria para calar-se, “guardando todas as coisas no seu coração.”
    Ser mãe é um paradoxo completo: um exercício de amor incondicional, louco, cego, absolutamente carregado de plenitude, completamente vocacionado para uma grandeza transfigurada de orgulho “santo” e, ainda assim, disfarçado de coisa pequena, malbaratado dentro de palavras e conceitos modulados que a ética social recomenda como psicologicamente adequados, e que na prática se traduzem por um projeto de renúncia que nunca se realiza dentro de nós.
    Ser mãe é,  pois, engolir o bramido da leoa com o temor de cada dia, quebrando os padrões internos  estabelecidos desde o Éden, para adquirir o amor suave  recomendado nos nossos dias, sem o qual estaríamos violando os princípios fundamentais da moderna educação.
    Achar o caminho de volta iria requerer um esforço além da nossa compreensão histórica porque teríamos que reavaliar os papéis que desempenhamos ao longo da vida: toda mãe tem dentro de si a lembrança da filha que foi um dia.  E se nos deparássemos com a incoerência,  seríamos um alvo muito fácil para as contradições existenciais que povoam o nosso imaginário. Assim, resta-nos olhar o mundo com esse cuidado maternal  eterno e bem escondido que existe dentro de nós, mesmo correndo o risco de que, ao menor sinal de perigo, como num jogo de luz e sombras, a verdade interior apareça: somos exageradamente mães,  para o resto das nossas vidas.
    Eu, eu que, no exercício desse papel, tenho atravessado o vale da sombra da morte, eu que me divido entre lá e cá, eu que tenho “guardado muitas coisas no meu coração”, devo lhe garantir que não há hipótese, não há remédio, não há circunstância, não há argumento,  não há separação, não há possibilidade que possa ofuscar a grandeza desse sentimento:  Além da morte, a maternidade ainda vive, persite e resiste dentro de mim, como um elo eterno:  permaneço mãe de três filhos para o resto da minha vida.

Ana Ribas

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A VIOLÊNCIA DO MAIS SUTIL


    Nestes tempos em que se exige da sociedade uma opção preferencial pela paz, o homem pode tornar-se tremendamente arbitrário quando se propõe  considerar a violência sob o ponto de vista impessoal de léxicos horizontes.  Porque o caminho da violência pode encontrar tradução num processo que retrata muito mais os meandros intermináveis do subjetivismo, do que nas teorias  prontas para explicar superficialmente a sua origem, responsabilizando a economia, a educação, o governo, e isentando de culpa a turbulência dos relacionamentos interpessoais em suas formas mais dissimuladas.
     Em princípio, cada um de nós deveria saber identificar a  própria capacidade para produzir violência que, diga-se de passagem, encontra-se muito bem camuflada. Não falo aqui  da violência oficializada, daquela que registramos em nossa consciência, desde a mais tenra idade, como atos contrários à moral, ao pudor, aos bons costumes. Esta, qualquer cidadão é capaz de reconhecer e, em reconhecendo, evitar. Falo de uma violência mais tênue, que não entra em choque com os poderes institucionalizados, que não se antagoniza com as normas estabelecidas, que não se indispõe com as regras constituídas. Falo da violência do mais sutil, daquela que fere mas não mata, que machuca mas não expõe, que violenta, tortura e mortifica sem deixar vestígios de crueldade. Esta é a violência que me comove mais, porque é  feita de silêncios e conivências, é feita de velada complacência, de parentéticos distintos e mal revelados, na generalidade de um contexto de aparência harmônica mas de essência hipócrita e cruel.
    Tal qual a ponta de um iceberg cuja profundidade só o fundo do mar conhece, essa violência produz uma antiviolência ainda mais violenta, num mecanismo orbicular encadeado que, um dia, vem à tona, como rescaldo de uma guerra deflagrada no lugar mais íntimo do coração.
    Num certo sentido poderíamos chamá-la de violência mais eterna, porque ela se mantém, se periodiza, se eterniza e se revela desde o Gênesis, na aguda mágoa que tomou conta de Esaú quando este descobriu que o engano de Jacó era mais fundo do que um  prato raso de cozido vermelho. Ela é quase eterna porque é capaz de retroceder genesicamente no tempo, desembocando no episódio em que Caim, percebendo-se mal amado, sem entender as razões do des-amor, matou seu irmão, Abel. Ela é mais antiga porque  alcança o coração dos irmãos de José, disputando  o amor preferencial de Jacó, processado simbolicamente numa túnica  de cores densas. Ela explode na alma ferida e revolucionária de Absalão, clamando pela atenção de um pai, que só tinha energia para gastar com suas mulheres e seu reino. Ela é periódica porque passam os tempos, as eras, sucedem-se as nações, as dinastias, e essa violência permanece ancorada no mais íntimo do coração dos homens, no horizonte perdido de anseios que nunca foram satisfeitos, de afetos que nunca foram saciados, de necessidades que jamais puderam vir à luz e, um dia, explodiram sob formas mais rudes e mais sangrentas.
    Essa é a violência que deveria merecer de cada um de nós uma visão mais subjetiva e apurada, uma análise mais íntima e particular, uma investigação mais profunda.  Nesse sentido, o cidadão mais assertivo  deveria indagar se, de alguma maneira, não está produzindo violência dentro da sua casa, da sua família, de seus afetos. No capítulo  das emoções e sentimentos,  nem tudo o que se concede é mensurável, mas tudo o que  se deixa de conceder, pode ser avaliado, medido e arrolado em cada milésimo recusado de tato e de tempo, de escolhas mal orientadas, de amores não vivenciados.
    Desde que foi produzida pela indiferença, esta é a semente da violência que mais mata: mata de morte lenta, agonizante, cruel e ensandecida. E mata mais liberalmente porque não é um mal reconhecido, identificado ou combatido. No campo minado dos afetos rotos, cambaios e trôpegos,  resta-nos uma única arma que previne, trata, cura e restaura: o amor de Deus no desempenho eclético das funções de pai, noivo, marido, amigo, do grande “Eu  Sou tudo quanto o homem necessita.”.
    Este é o único remédio para a violência do mais sutil: o amor de Deus em suas múltiplas manifestações!

                                                  
Ana Ribas

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UM LUGAR CHAMADO LÁ.



    As grandes lições da vida são obtidas dos fatos cotidianos. É preciso estar atento a tudo, porque o aprendizado segue a vida apenas quando nos tornamos conscientes do momento que estamos vivendo, quando aplicamos a mente à ocasião apropriada. Se com o polegar apertarmos o lóbulo da orelha direita, devemos sentir a orelha direita e não o dedão do pé esquerdo. Isso se aplica também ao campo dos sentimentos. Viver é tomar posse do momento, com todas as forças da nossa alma. Como disse o sábio Rei Salomão: “Há tempo para todo propósito debaixo do céu”.
    Gastamos muito tempo planejando o que vamos fazer depois e nos esquecemos de viver o “agora”. Mas a vida começa sempre agora, a vida não começa amanhã. Freqüentemente vidas que vão terminar amanhã se esquecem de viver o “agora” esperando por um amanhã que não acontecerá. O que quero dizer é que precisamos nos dedicar não apenas ao tempo presente, mas até mesmo ao momento presente, a essa fração de tempo chamada minuto, porque haverá um dia em que os minutos cessarão para cada um de nós.
    Todavia, sabemos que grande parte das pessoas não vive o “agora”, mas vive em permanente estado de conflito entre a realidade que lhes é permitido experimentar e os sonhos   que abrigam em alguma parte mais íntima do ser. Um dos grandes males da humanidade nos dias de hoje é a inconsciência em relação aos fatos físicos e mentais, a insensibilidade, o distanciamento emocional nas ações cotidianas da vida, seja tocar, comer, respirar, amar, sofrer, enfim, viver. É como se o indivíduo tomando um copo de suco de laranja, intimamente degustasse uma feijoada. E quando chega a hora de saborear uma feijoada, sente o sabor de um suco de laranja. Não há correspondência entre ação e sentimentos, entre sentimentos e realidade. Perde-se a consciência corporal. A mente não acompanha o corpo. O corpo não processa os sabores. O doce e o amargo se fundem e se confundem.  Essa dissociação conceitual e psicológica faz de nós seres em permanente estado de busca.
    Certa vez li, em algum lugar, (cujo crédito não posso dar, porque não me lembro o nome e nem o autor),  a história de um sujeito que procurava um lugar chamado “LÁ”. Ele sempre estava a procura do “LÁ”  mas quando chegava lá, o “LÁ” tornava-se aqui. Então ele perguntava; “É aqui o LÁ?”  A resposta sempre era “não”. Porque o lá era lá e o  aqui era aqui. Então ele deixava o aqui e partia em direção ao lá, sem nunca encontrar o “LÁ”, porque ao chegar ao “LÁ” este se tornava aqui.  Nessa busca constante, ele jamais se permitira experimentar o aqui.
    Muitos de nós somos assim. Não sentimos o prazer de estar aqui porque temos como meta alcançar o lá.  O aqui escorre como um melado viscoso pelo meio de nossos dedos, mas nós teimamos em buscar o lá, de cuja memória nada sabemos. E  isso tem reflexos diretos na saúde psicológica, mental e física.  Não dá para encarar o desafio de transformar a sua mesa e a sua vida, sem uma análise daquilo que você está buscando encontrar na comida. Você pode estar buscando na mesa da sua cozinha, na panela do seu fogão, no carrinho do supermercado, no restaurante da esquina, na sorveteria do bairro, um lugar chamado “LÁ”. E só vai encontrar o aqui. Enquanto o “LÁ” nunca chega, também não chega a sua saciedade. A comida pode ser o dispositivo que está sendo acionado para compensar a  busca por um lugar que não existe na terra.
    De boa lembrança seria aceitar como verdadeiro o fato de que nenhum de nós, seres inteligentes, feitos à imagem e semelhança de Deus, consegue deixar de sentir essa saudade do “LÁ”. Porque o “LÁ’, nada mais é do que uma vaga nostalgia do céu. Dia mais, dia menos, todo ser espiritual,  experimenta essa incomoda sensação de que a dimensão humana não consegue identificar no mapa múndi um lugar chamado “LÁ”.  Então, mecanismos de escape começarão a ser acionados, sucessivamente, um após o outro, não necessariamente nesta mesma ordem: algumas pessoas procuram o “LÁ” no conhecimento científico, nas universidades, na competência profissional, na ânsia por ser o melhor; em viagens intermináveis ao redor do mundo; em gastos desnecessários e compulsivos; em carros, bebidas,festas e ostentações; outras o buscam na vida social, nos clubes de serviço, na necessidade de pertencer a um grupo que tenha os mesmos objetivos; há os que o buscam na vida religiosa, na filantropia, na caridade, numa distribuição mais justa de rendas; também há os que  o fazem  em algum tipo de droga lícita ou ilícita; outros ainda, aderem a uma causa maior que pode ser a proteção da natureza ou dos animais.
    Muitos, um dia, cansados dessa jornada inconclusiva, identificam em todas essas causas, uma única necessidade comum a toda a humanidade:  conhecer a Deus e servir aos seus propósitos de todo coração, com toda a força da  alma. Esses - somente esses -  encontram o “LÁ” e,  afortunadamente, também vivem agora o AQUI!

Ana Ribas

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UM DEUS NA CONTRA MÃO.

    A Bíblia tem histórias, circunstâncias e declarações que nos dão um grande trabalho para acomodar dentro delas, as nossas vontades e as nossas necessidades como ser humano, providos de intelecto, pretensões, anseios e aspirações.
    Há certa hora, em que a Bíblia vai por um caminho tão árduo que nós, seres redondos, completos, acabados, temos que abrir uma brecha em nossas proposições para conseguir encaixar o que eu penso, com o que Deus pensa, para poder amoldar o que eu pretendo, com o que Deus pretende, para poder adequar o meu sentido de grandeza, com a indigência que ele me oferece, em termos de realização pessoal.
    Desamoldar conceitos não é tarefa fácil. O sistema nos educa e nos prepara para o sucesso pessoal, profissional, social e faz um pacote com todas essas coisas com o rótulo de “Felicidade.” No conceito humanístico, a ascensão social do indivíduo está intimamente ligada à idéia de felicidade, mas a Bíblia nos oferece outra metodologia para ensinar o caminho que leva à felicidade.
    Para compreender a Bíblia, e por inferência, a mente de Deus, não podemos pinçar um único versículo, capítulo ou livro, sem correr o risco de fazer daquele texto um pretexto. Temos que ler a Bíblia toda e depender ainda do Espírito de sabedoria e revelação. Mas, para provar uma pitada dessa conexão ilógica, sem fazer disso um modelo, mas uma “isca” que nos leve a buscar essa compreensão, vamos escolher esse versículo que Paulo escreveu em sua carta aos coríntios:

“ Se enlouquecemos, é para Deus; se conservamos o juízo é para vós.” 2 Cor. 5:13.

Este é o ponto. Conservar o juízo ou enlouquecer. Uma escolha deveras inusitada. Você quer ser reconhecido como um exímio cidadão exemplar, ou como um alienado? como um louco ou como um sábio? como um forte ou como um vil? A Bíblia deixa claro que tipo de escolha Deus faz:

“ Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; Deus escolheu as coisas vis deste mundo e as desprezíveis e as que não são, para aniquilar as que são; para que ninguém se glorie perante Ele.” 1 Cor. 1:28-29.
    Deus escolhe os loucos, os fracos, os vis, os desprezíveis, os que não são, e os usa para aniquilar os que são. Alguém aí se habilita para o serviço de Deus? Alguém aí quer se inscrever no “O Aprendiz” para a função de ser auxiliar direto do Maior? Daquele que não chega de helicóptero, porque voa nas asas do vento; daquele que não passa tarefas com voz educada e firme, mas troveja do céu com a voz de muitos trovões;   daquele que não apenas fala aos homens, mas ordena ao mar;  daquele que não tem casa na praia, no campo, na montanha, mas é dono de todos os mares, todos os campos e todas as montanhas? As inscrições estão sempre abertas... mas essa inscrição não é você quem faz, ela simplesmente se faz. Um dia, sem que saiba como, você pode ser inscrito.
    Sem dúvida, o Evangelho age de forma revolucionária, positiva e arrasadora sobre a vida de tantos quantos são designados a viver de maneira pluridimensional, com os pés na terra e a cabeça no céu, o divino permeando o humano e prevalecendo sobre todas as possibilidades, sobre todos os arrazoados ideológicos, sobre todos os conceitos religiosos estéreis.
    Caminhar com Deus é caminhar a favor da humanidade, mas na contra mão do mundo. Isso significa exatamente o que significa: quando todo mundo caminha por uma mão, Deus caminha por essa mesma mão, em direção contrária ao fluxo.  Imagine uma auto-estrada, cheia de veículos transitando de maneira ordenada. Pois quando você vir um carro blindado sobrevindo diretamente em sua direção, sobre a sua vida, sobre os seus projetos, sobre os seus sonhos,  ali vai Deus ao volante. Não para esmagar, mas para convidar você a abdicar da companhia da maioria dos comuns mortais, e trilhar o caminho inverso em companhia dele.
    Deus é um susto só.
    Por isso, a Bíblia é repleta de personagens que nos comovem. Sentimos pena dos personagens bíblicos quando os vemos como homens, simples mortais que foram. E sentimos fascinação, quando os vemos como seres que transcenderam a lógica natural e viveram de forma sobrenatural.
    Elias. Meditando sobre a vida de Elias, os milagres que realizou, as situações que vivenciou, os desdobramentos psicológicos que sofreu, aprendemos que a comissão divina sempre causa um rebuliço na condição humana. Elias bateu de frente com os reis Acabe, Acazias e Jeorão. Gente da pesada. Bateu de frente com a idolatria, com a feitiçaria, com toda uma nação que abandonara o Deus vivo, para comprometer-se com o pecado. Por último, Elias bateu de frente com a rainha Jezabel. Mas lembram-se do carro blindado? Elias foi o carro blindado e Deus estava nele.
    Elias ordenou a seca como juízo, e a seca veio sobre a terra. O que não o isentou de estar sofrendo as penalidades desse mesmo juízo, porque ainda pertencia à terra, ainda era de carne e sangue. Ele também teve sede. Para matar sua sede, Deus lhe deu o obscuro ribeiro de Querite. Bebeu do riacho, em Querite, quando toda a água que abastecia as tribos de Israel vinha do Rio Jordão. Mas o Jordão secou para Israel e o ribeiro de Querite , a leste do Jordão, fluiu para Elias. Um fio de água. Essa água matou a sede de Elias.
    A caçada contra a sua vida começou. Mas quem procuraria Elias, a leste do Jordão, se ali não existia água? Os homens sempre reagem com a lógica natural e por causa dessa lógica natural, Elias viveu de forma sobrenatural, sem ser incomodado: bebeu água do riacho de Querite e foi alimentado pelos corvos. Uma vida extraordinária.
    Quando Deus determina a direção para a vida, Ele também concede o suprimento a essa vida. Que não necessariamente será caviar, filé mignon ou uísque escocês. Pode ser comida trazida por corvo e água do riacho. Quando se está exatamente no lugar que Deus determina, executando o serviço que ele necessita, desempenhando a missão que ele define, com certeza, o socorro não falta . Não falta a comida na hora da fome, a água na hora da sede, o conforto na hora da dor. Deus não nos isenta de dores, mas passa conosco cada uma delas, e dá o seu jeito. Que nem sempre é o nosso jeito.
    O extraordinário não está, exatamente, na presença de Deus em forma de socorro, mas no socorro de Deus em formato não padronizado, em conceitos não convencionais. O suprimento não vem em bandejas de ouro por mãos de anjos, mas na boca de corvos.
    As “frescuras” humanas jamais conseguirão engolir esse fato. O Deus que criou a fauna toda, a passarada toda, os seres angelicais, todas as criaturas, não envia um homem, mas envia um corvo. Elias comeu do que o corvo lhe deu. Elias comeu na mão do corvo.
    Seca o ribeiro, a água acaba, o corvo some. Vai voar em outras paragens menos “elisianas”. Mas Elias continua lá, esperando a ordem. Ele acabou de aprender a submeter-se ao governo revolucionário do céu.

“ Então veio a ele a Palavra do Senhor: Levanta-te, vai a Sarepta que pertence a Sidom e habita ali. Ordenei a uma mulher viúva que ali te sustente. Então, ele se levantou e foi a Sarepta.” 1 Reis 17:9

Corvos e viúvas. Deus consolida de novo a lógica divina que passa a milhares de quilômetros da lógica humana. Não faltou pão, não faltou água, não faltou suprimento para Elias, para a viúva e para o seu filho, Três pessoas se beneficiam da mesma graça, do mesmo poder. Porque a graça de Deus é comunicante, porque a bênção de Deus é para todo aquele que não retém, que não se apossa, que não se assenhoreia dela, antes a administra com liberalidade, com generosidade, com prontidão. Foi a viúva quem alimentou Elias, ou foi Elias quem alimentou a viúva? Foi Deus!
    E enquanto isso, a poderosa nação de Israel amargava um extenso período de seca e de fome. Faltou comida para os que “conservaram o juízo” mas não faltou comida para os “loucos”, para os que “perderam o juízo.” Faltou direção para os que andavam pela auto pista, mas não faltou caminho para aquele que enveredou pela contra mão do mundo.
Elias é só um exemplo, mas a bíblia tem outros vários. Ser um personagem bíblico na medida de Deus, equivale a cair na desgraça dos homens, equivale a ser excluído do sistema humano mundial, “riscado do mapa”.
    Quais os riscos de se inventariar por esse caminho novo? Todos! Quem se arrisca, permanece dividido entre o arrazoado humano e o imponderável divino. Vive-se a meio caminho, suspenso entre o céu e a terra. E ainda se continua humano, pequeno, desconectado. Ainda se experimenta dor, frustração, angústia, amargura e medo. É um caminho árduo, íngreme e sem volta. É um caminho extremamente solitário. Mas é o único caminho possível para aqueles que foram chamados e obedecem a esse chamado, não de maneira passiva, mas de maneira corajosa. Porque a obediência é o que a obediência faz. E obedecer continua sendo “melhor do que sacrificar.”
Ana Ribas

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A BONDADE E A SEVERIDADE DE DEUS.

    Um dos paradoxos com os quais nos deparamos na vida cristã é exatamente o vértice em que se cruzam duas características do caráter de Deus, aparentemente irreconciliáveis aos olhos humanos: a sua bondade e a sua severidade.
    Desde os tempos de João, o batista, nos primórdios do Novo Pacto, quando Deus tomou a forma humana, e fez-se homem por amor aos homens, tem sido difícil conciliar o amor incondicional de Deus e sua capacidade de indignar-se contra as injúrias permanentes com as quais o homem natural tem agredido o céu. Ali, no deserto da Judéia, João Batista pregava o arrependimento e o batismo, e as multidões vinham a ele, muitas vezes, sem a genuína conversão, mas absolutamente convencidas de que essa era a única possibilidade de escapar da ira vindoura.
    De lá para cá, os séculos tombaram nas esquinas do tempo, muita luz foi derramada sobre a natureza do amor divino, mas nós na qualidade de cristãos, somos acometidos igualmente por essa mesma linha fácil de pensamento, entendendo que, ao fazermos uma opção preferencial por Deus, colocamo-nos debaixo da sua proteção e somos, por inferência, resguardados do poder da sua ira. Não importam as escolhas pessoais que venhamos a fazer e nem mesmo as armadilhas que a vida possa nos oferecer. Teologias de vanguarda não faltam para nos equivocar prometendo prosperidade, alegria e felicidade, isentando-nos de todo sofrimento, fazendo-nos esquecidos de que o juízo de Deus começa pala casa de Deus e que, cada um de nós, responderá por seus atos diante do Criador, ou nesta vida ou na vindoura.
    Vez ou outra deparamo-nos com esse juízo e experimentamos a severidade do seu amor colocando no prumo nossas opções e decisões pessoais e, quando isso acontece, somos consolados pela lembrança de que assim como o pai corrige o filho a quem ama, nosso pai também nos corrige e mesmo que doloridos, machucados, humilhados, recebemos a reprimenda não como um castigo, mas como uma correção necessária, pela qual temos oportunidade de avaliar nosso nível de submissão em relação aos atos soberanos de Deus.
    Essa consciência de submissão filial é parte do aprendizado pelo qual todo cristão maduro deve passar sem murmurar ou questionar.
    À luz dos holofotes do céu devemos contemplar o Deus de Israel interferindo nas nações e escolhendo vidas especialmente separadas para revelar o seu poder. E o que nos torna atônitos, não são os feitos de Deus, mas os motivos pelos quais Ele estaria enveredando por escolhas tão desatinadas, vergando espécies de dura cerviz, tocando territórios tão íntimos, devassando tesouros sagrados, pisando terra tão apaixonada. Aqui e ali, Deus escolhe e separa pessoas que jamais escolheríamos, se a nós fosse dado tal poder. Quem já não se deparou com ex-bandidos, ex-assassinos, ex-adúlteros e ex-adúlteras, no uso de prerrogativas divinas, no exercício de dons que lhes foram concedidos no momento da sua conversão? Quem já não viu de perto a materialização do versículo aonde abundou o pecado, superabundou a graça? Todos nós! Nós vemos, vimos e continuaremos a ver que as escolhas de Deus se baseiam em algo mais profundo do que  os  critérios éticos que abalizam as nossas escolhas pessoais.
    Os atos de Deus existem de maneira intrínseca e ainda que nós desconheçamos os seus motivos, certamente, eles não necessitam dos nossa compreensão para existir.
    Podemos estar diante da fronte submissa de um Paulo ou da dura cerviz de Faraó, isso não importa tanto. Importa é que a mensagem da cruz seja extraída dos despojos da alma e que Deus seja glorificado nesse despojar voluntário ou involuntário. A nós, seres perplexos, pequenos e humilhados por sua presença poderosa, resta interceder por salvação, clamar por iluminação e implorar que Deus tenha piedade de nós. Que ele use de misericórdia para com todos os homens, sejam eles pobres ou ricos, grandes ou pequenos, humildes ou poderosos, éticos ou não éticos, santos ou pecadores, conscientes ou inconcientes da servidão da terra em relação ao governo do céu. Porque ainda que a cruz não seja a mesma para cada um de nós, a mensagem da cruz será sempre possessão universal e eterna.
    Em reconhecer esses atos, em contemplar esse reino, em propagar suas virtudes, em espalhar sua soberania, em anunciar seu poder, em difundir sua mensagem, em divulgar sua justiça, em reverenciar sua fidelidade, em aceitar sua severidade, eu quero percorrer, todos os dias, as avenidas martirizadas desse cristianismo milenar.

Ana Ribas

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CHE GUEVARA - O HOMEM E O MITO

    Descobriram que Che Guevara foi gente. Proclamado tanto tempo como louco, como visionário, como santo, agora descobriram que ele foi gente. E ao descobrir que foi gente, estão esquecendo que o mundo cria e projeta aquilo que lhe convém. Podemos até atribuir a aura mitológica à máquina da propaganda marxista. Mas o buraco é mais embaixo.
    Desde muito antes que o marxismo existisse, os homens já tinham Che. Criamos símbolos e precisamos deles para viver. Precisamos do mito, da fantasia, dos nossos Ulisses com os seus cavalos de pau, adaptados aos tempos em que vivemos. A simples lembrança de que, em algum lugar, existe um livre pensador valente, que afronta os poderosos, que vence os gigantes, que derruba Golias, que aniquila invasores, que contraria o sistema, que defende as idéias de igualitarismo que não conseguimos exteriorizar, mas que estão latentes dentro de nós, faz nascer o mito.
    O mito é construído pelo sentimento coletivo de que estamos todos subindo um rio caudaloso, nadando contra a correnteza, resistindo à morte, embora estejamos apenas assentados à sua margem, observando-o passar com a bandeira de um mundo ideal. Os sonhos humanísticos são os melhores sonhos, os mais nobres. Mas eles podem ser como esse rio furioso pedindo passagem dentro de nossa geografia interior, buscando espaço para instalar a sua topografia a qualquer preço. Esses sonhos custam caro, e cedo descobrimos que não temos a moeda de compra. A moeda de compra de um mundo ideal não se faz com conhecimento empírico. Não é porque observamos que existe a injustiça que conseguimos implantar a justiça. Somos amadores quando se trata de estabelecer parâmetros para a nossa constituição de justiça social. Somos como a criança cuja mãe pede para compartilhar um brinquedo com o amigo e ela aceita, mas depois, vendo-se privada da posse vai lá e toma. Relativizamos o absoluto, adaptamos às nossas conveniências, legislamos em causa própria. Cedo descobrimos que defender essa justiça pode ser tão perigoso e tão fatal quanto nadar contra a correnteza de um rio furioso dentro de nós. O inimigo dorme ao lado. Então nos sentimos impotentes.
    Che representou para os jovens de sua geração, a vitória contra a fraqueza existencial, o símbolo da resistência subjetiva, a possibilidade representativa de engajar-se em causas nobres, de esquivar-se à inércia dos que não fazem história. Agora se sabe que Che foi tudo, além disso ou menos do que isso, dependendo da órbita da visão.
    Che foi homem e como todo homem, teve um lado escuro que só agora está vindo à tona. A quem interessa resgatar em sua biografia o mais sombrio dessa humanidade, é a pergunta que eu me faço agora, como sempre me perguntei a quem podia interessar o glamour e a fantasia com que enfeitaram a sua biografia de guerrilheiro.
    Che não foi um homem comum, nem no claro e nem no escuro. O lado claro se manifestou na renúncia individual, na disposição de abdicar da própria vida. Convenhamos que ninguém estuda medicina durante 6 longos anos para não exercer essa função. Algo aconteceu no meio do caminho da vida desse jovem, que o impulsionou a abandonar os seus próprios ideais.
    Ontem, meu marido recebeu um convite para uma festa em homenagem ao Dia do Médico. E no verso do convite, feito dobradura, apareciam as palavras: “ Vestibular, Passar pela Faculdade, Provas, Plantões, Residência. Você achou que depois de todo esse esforço, iríamos deixar essa data passar em branco?” Pois aqui, creio, cabe a analogia. Che deixou a vida passar em branco. Comprou, mas não aproveitou. Pagou o preço e jogou fora. Cumpriu a prova mas não recebeu o prêmio. Venceu a maratona mas não pegou a medalha. O lado acadêmico, altruísta, nobre, o conhecimento científico adquirido para salvar vidas, passou em branco. Em algum lugar do caminho, Che perdeu o sonho individual para ganhar o coletivo.
    Ocorre que os sonhos coletivos são perigosos porque o coletivo traz consigo uma carga atávica de bestialidade que emerge do individual. O inconsciente coletivo tem uma tendência para a bestialidade, para a baderna. Todo homem, individualmente, tem dentro de si tanto o bem quanto o mal. Somos uma vaso para conter um tesouro, mas de vez em quando emerge a fera. De vez em quando, confinamos o tesouro a um cantinho escuro do nosso coração e deixamos que a fera se instale tranquilamente em grandes espaços.
    Quando se toma para si a missão de mudar o mundo, e de realizar os sonhos da coletividade, também se toma parte da bestialidade que existe no individual. Camadas e porções vão se sobrepondo, cauterizadas, sobre a alma, enquanto “um abismo chama outro abismo.” O mito não resiste ao comando exterior da voz que clama do abismo. Ele faz qualquer coisa para continuar sendo mito, para continuar sendo símbolo de credibilidade corajosa, para continuar sendo “deus”. Ele mata sem piedade. Ele mata sem necessidade. Ele mata porque “está vivo e sedento de sangue” ( Segundo a revista Veja, foram palavra de Che em carta à esposa). Ele mata porque “nossa luta é uma luta até a morte” ( da mesma fonte). Ele mata porque “o ódio intransigente ao inimigo converte o combatente em uma efetiva, seletiva e fria máquina de matar. Nossos soldados tem de ser assim” ( idem). Ele mata porque é o representante da bestialidade de toda a raça humana acumulada.
    Mas Che matou por algo mais. Ele matou e se deixou matar porque em algum lugar do caminho, o tesouro se perdeu e a fera se instalou de maneira amplificada dentro dele. A fera ocupou o trono do seu coração. Essa fera ronda os homens. Ela existe desde o jardim do Éden e o objetivo dessa força, cuja capacidade de persuasão não se pode subestimar, é “roubar, matar e destruir.” Não podemos imaginar os artifícios que ela usa para nos seduzir. Mas um deles, certamente é a glória dos homens. A glória dos homens constrói pacientemente um Che, fazendo-o crer que é imprescindível para a libertação da humanidade, sugerindo que os fins justificam os meios.
    Che deixou um rastro de destruição e depois foi destruído. Mas a humanidade contemporânea não pode eximir-se totalmente dessa culpa. Até porque ela continua matando Che. Continuamos matando Che sempre que o imortalizamos em tatuagens, e estampas de biquínis. Continuamos matando Che quando estampamos o pôster na parede e quando repetimos como num mantra “Há que endurecer-se mas sem jamais perder a ternura.” Continuamos matando Che quando sentimos ternura diante da estampa de bom moço. A mídia fez de Che um lindo garoto propaganda que defendia a soberania de sua Pátria e lutava pelos povos subdesenvolvidos. Agora querem reverter a propaganda contra o garoto. Querem que compremos o “cheiro de rim fervido” pela falta de banho. Essa é a fragrância cheguevariana do momento. Experimente e leve pra casa, é grátis.
    Quero que você reflita que esse fedor é nada perto da podridão acumulada pelos séculos dos séculos. Quero que você coloque em prática a “vigilância epistêmica” que Stephen Kenitz, cronista da mesma revista, recomenda. “Vigilância epistêmica” é para mim um termo novo, mas segundo Kenitz é “a preocupação que todos nós devíamos ter com tudo o que lemos, ouvimos e aprendemos de outros seres humanos, para não sermos enganados.” Apliquemos a tal “vigilância epistêmica” ao que se diz de Che, até porque fica muito difícil mensurar o subjetivo de um personagem que já morreu, baseando-se na aura e na “des-aura” que se controi em torno da sua história.
    Ninguém é tão bom quanto se pensa, nem tão ruim quanto se imagina. Entre a imaginação e a realidade existem as pertinências subjetivas à personalidade humana, características tão íntimas, que só Deus conhece. Coração continua sendo terra que ninguém pisa, a não ser o próprio Deus.
    Che não foi um inocente útil, foi um culpado inútil. Todo ser pensante que exerce a sua capacidade de interpretação filosófica, já viu isso há muito tempo. Sempre soubemos que, como guerrilheiro, ele foi homem endurecido e sem ternura. Antes que os seus atos de bestialidade fossem divulgados, já sabíamos que não há guerrilheiro sem guerra e sem os atos de selvageria que acompanham essa guerra. Mas hoje devemos saber que Che precisa morrer. Deixemos o homem em paz, permitindo que morra o mito. E que essa morte nos ensine alguma coisa mais profunda e eterna do que as verdades e mentiras da sua história.

Ana Ribas

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NÃO BASTA SER MÃE...


    A Sandra telefonou pedindo orientação sobre alimentos funcionais, para quem faz exercício físico ou para quem quer mais saúde.
    Também me pediu, pela milésima vez, a receita do meu pão integral, que eu escrevo num papel, bem bonitinho, e ela perde em seguida. Ou mando num e-mail e fica esquecido no meio das mensagens que recebe.
    Não basta ser mãe, tem que ser nutricionista, orientadora física, cozinheira, médica, psicóloga, e tantas outras funções mais. Mãe agüenta. Mãe pesquisa na internet, pesquisa em livros, aprende primeiro e oferece tudo mastigado para o filho se atualizar. E para você que me acompanha por aqui , vai de brinde. Vamos lá:

1 – O exercício físico só queima gorduras depois dos primeiros 20 a 25 minutos de caminhada vigorosa. Antes disso, o combustível é a glicose. Quando acabam essas reservas de glicose, para o cérebro não apagar, e você não cair durinha, o organismo vai buscar combustível nas reservas de gordura. Aí vão embora os pneuzinhos.

2- A caminhada precisa ser vigorosa, do tipo que, andando, você não consiga conversar normalmente. Não adianta andar a passos de tartaruga. Tudo bem é melhor que nada, e devagar também  se chega lá. Mas se você quiser aperfeiçoar o seu exercício, e extrair dele o que houver de melhor, esqueça o papo. Esqueça aquela vizinha que caminha falando o tempo todo.  A  freqüência cardíaca tem que corresponder a 75% de sua freqüência cardíaca máxima. Para achar a freqüência cardíaca máxima, de acordo com a sua faixa etária, você subtrai a sua idade de 220 e aplica os 75%.

3- Antes do exercício, um pouco de carboidrato complexo para ter energia. Carboidrato complexo é aquele que vem dos grãos integrais. Esse é melhor do que o carboidrato simples, que é fornecido pela farinha branca, por exemplo. Por quê? Porque o carboidrato complexo demora mais para ser absorvido pelo corpo.

4) Sabe o que é metabolismo? Metabolismo é o processo pelo qual o seu corpo processa tudo quanto você come e direciona para os vários órgãos do corpo. Como o carboidrato simples é mais fácil de ser digerido, ele explode no corpo como uma bomba calórica. Sem saber o que fazer com tanta energia abrupta, o corpo armazena sob a forma de gordura, para ser usado oportunamente.

5) O carboidrato complexo por ser de digestão mais lenta, vai sendo assimilado aos poucos, para ser  usado nas funções vitais: batimentos cardíacos, respiração, transpiração, digestão, excreção, etc. Isso significa maior sensação de saciedade, por muito mais tempo. Aí, o corpo vai usando devagarzinho, conforme a necessidade.

6) O que comer antes do treino? Antes do treino carboidrato, depois do treino proteínas. Uma barrinha de cereal antes, um copo de leite desnatado com achocolatado depois. Ou uma fatia de pão integral antes e um iogourt depois.

7) O que comer no almoço para evitar o sono que vem depois? Se não quiser ficar preguiçosa depois do almoço, bocejando, sem pique nenhum, evite os carboidratos simples: arroz branco, batata, macarrão.  Doce depois do almoço, nem pensar. Por quê  isso causa sono? Porque aumenta abruptamente a taxa de glicemia no sangue. Isso faz o corpo desabar. Coma verduras ( fibras), arroz integral( carboidrato complexo), feijão e  um pedaço de peixe, carne branca ou vermelha( proteínas). Mas vale uma observação: se você é daquelas que não consegue ficar sem doce, então coma imediatamente depois da refeição, porque o alto índice glicêmico do açúcar vai ficar mais diluído, na presença de outros nutrientes. Isso significa que, o doce depois da refeição, engorda menos, do que o doce sozinho, no meio da tarde, por exemplo.

8) Alimentos com alto índice glicêmico: batatas, cenouras cozidas, beterraba, mandioca, arroz branco, macarrão e seus parentes, pão branco, doces, frituras, tudo o que é gostoso. O alto índice glicêmico faz o efeito bomba calórica que já mencionei. Esse tipo de alimento aumenta a demanda por insulina e faz o Pâncreas trabalhar em dobro.

9)  Nosso pâncreas tem uma reserva de insulina para produzir durante toda a vida. Se gastar demais hoje, vai faltar amanhã.  A não ser que você tenha uma genética excepcional. Mas se for um pâncreas normalzinho, não canse muito a sua beleza, porque lá na frente a insulina vai faltar. Daí nem torcendo feito pano molhado, vai sair alguma coisa. Resultado: Diabetes!

10) Alimentos com baixo índice glicêmico: arroz integral, macarrão integral, pão integral, lentilha,( médio), grão de bico, ( médio)  palmito, legumes sem cozimento (  a cenoura, por exemplo, quando crua diminui muito o seu índice glicêmico), chuchu, brócolis, couve flor,  enfim, tudo o que, na minha opinião,  não é gostoso. Não dá para se ter tudo nesta vida, não é mesmo?

11) Gorduras do bem fazem falta, mas com moderação porque engorda. Gorduras do bem: óleo de canola, de milho, de girassol, nozes, azeitonas, castanhas de caju, e aquelas provenientes da sardinha e do salmão (ômega 3). Um pouquinho só, todos os dias. Acostume-se a não comprar alimentos industrializados, tipo bolacha, por exemplo. E se comprar, evite os que contenham gorduras trans. Essa é muito ruim.

12) Evite o sal. Ele fornece muito sódio e faz reter líquidos, aumentando a pressão arterial.

13) Evite embutidos: lingüiça, presunto, salame, salsicha, porque também tem altos índices de sódio.

14) Faça musculação para aumentar a sua taxa de metabolismo basal. O metabolismo basal é a taxa que corresponde à sua demanda calórica em repouso. Quando se tem músculos no corpo, (massa magra) a taxa é mais alta, porque os músculos continuam gastando energia, mesmo em repouso e a demanda calórica é maior.  A gordura é massa gorda, e parece ser o que realmente é: uma lesma que não exige nada, fica ali, só ocupando um espaço inútil no corpo.

15) Fracione as suas refeições em 6 ou 7 porções durante o dia: café da manhã, lanche, almoço, café da tarde, lanche, jantar e ceia. Faça refeições menores, evidentemente. Porção de passarinho, não de baleia.  Por quê? Para manter o seu metabolismo acelerado o dia todo. O maior gasto de caloria, para quem não é atleta, está no processo digestivo: o trabalho de mastigar, que começa na boca, passa pelo estômago triturando o alimento e depois é enviado para as várias células do corpo como nutrientes, através do sangue. Esse processo gasta boa parte das calorias que ingerimos. Se você acrescentar a isso exercícios físicos regularmente, vai aumentar a demanda ainda mais. E  se, entre esses exercícios físicos, estiver incluída a musculação, fica perfeito.

16) Pense no metabolismo como um trabalhador braçal meio vagabundo. Se você der função para ele, ele trabalha. Se não der, ele dorme. Por isso, você deve manter o seu metabolismo trabalhando o dia todo, dando várias pequenas refeições para ele ter o que fazer.

17) Essas pequenas refeições devem ser de alimentos com baixo índice glicêmico para não realizar o efeito bomba que já foi explicado.

18) A minha aula acaba aqui. Sou curiosa, mas leiga no assunto. Não possuo formação acadêmica nessa área. Quem quiser saber mais, deve consultar o médico, o nutricionista, o preparador físico, enfim... A maior vantagem é que você acabou de receber um resumo de tudo quanto venho pesquisando e colocando em prática há alguns anos. E a vantagem adicional é que não cobrei honorários.

19) Boa prática e boa saúde!

Ana Ribas

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