terça-feira, 16 de setembro de 2008

SEU PROBLEMA, MEU PROBLEMA.




Como saber jamais o que se passa no coração de uma jovem de 15 anos, que pede-me ajuda para um mal que não conheço. As palavras tão poucas, tão doloridas e tão pungentes, se revelam como cacos em minha mão, à espera de que eu componha, com eles, um mosaico colorido. Mas só há cinza nesses cacos: “um grande problema, uma grande luta, a vida é injusta, estou sofrendo muito.” E para meu desespero, estes outros: “leio todos os dias o seu diário, te admiro muito, preciso de apenas uma palavra de uma pessoa como você, se puder me ajude. Me responda?”

Sem nem saber seu nome, foi o que fiz ainda ontem. Mas acho que não fiz bem feito, porque não dormi direito: faltou-me a paz. Acho que você não merece que eu lhe responda com poucas palavras, você merece uma crônica inteira. Hoje, meus queridos, dêem-me licença: dane-se o mundo literário. Farei aqui o que Jesus faria ali: deixarei os 99 leitores no deserto e irei em busca da leitora perdida.

Que aos 15 anos, é hora de uma mocinha começar a encontrar-se consigo mesma, e não é hora de perder-se de si mesma. Como não sei em que avenida ela se perdeu, irei buscá-la exatamente aonde eu me encontrava, quando tinha a mesma idade.

Meus tempos de anos 15 foram tão minguados, e nem assim impediram-me o sonho. A empresa do meu pai acabara de falir, e eu trabalhava para ajudar a colocar em casa o arroz e o feijão. Carne quase nunca havia. A mistura era banana. Uma delícia banana com arroz e feijão, você já experimentou? Até hoje, ainda promovo o reencontro desses dois sabores que me são tão familiares: o doce temperando o salgado, e os dois combinando de me iludir, com uma viagem imaginária ao oriente. Um dia, inventei que aquele era um prato das Índias. E foi assim que descobri as Índias sem sair do Brasil.

Dinheiro, pois, não havia para a viagem, mas para o sonho sobrava. Eu tinha longos cabelos negros, extremo bom gosto e nenhum recurso para andar “na moda”. Mas tentava: comprava o tecido nas falecidas Casas Buri e minha mãe costurava. Aos 15 anos, ganhei de presente de aniversário, da minha avó, uma quantia em dinheiro que dava para comprar um pedaço de pano e confeccionar um vestido. Comprei um bem psicodélico, com ondas em várias tonalidades de azuis e rosas. Resultou num tubinho em forma de “A”, com mangas boca de sino e gola Mao, arrematada por um lacinho que fechava o decote.

Ainda me vejo nele, porque gostava de me ver em qualquer trapinho. A extrema pobreza não impedia que eu gostasse da vida e que a vida gostasse de mim. O riso era fácil. Mas o corpo me era um problema: eu não sabia andar com a graça e a leveza de uma gazela. Meu andar sempre teve algo de um soldado a caminho da guerra. E aqui, faço uma pausa para me lembrar da amiga Lúcia Miranda: era ondulante como um rio que serpenteia, colina abaixo. Eu queria tanto ser esse rio ondulante, mas era um soldado a caminho da guerra, montanha acima. O quadril não quebrava.

Por onde andará Lúcia Miranda? Aquele andar salvou Lúcia Miranda da mesmice a que a maioria de nós, nos submetemos. Aqui ficamos e aqui envelhecemos. Lúcia correu o mundo com o seu rio ondulante. Será que ainda serpenteia?
Deixemos Lúcia para lá.
Trabalhar foi algo de que nunca gostei. A bem da verdade, não encontrei nenhum trabalho, nesta vida, que me merecesse por completo. Mas se tinha que trabalhar, que remédio? Trabalhava! Meu irmão, quando casou, disse para mim: “agora, vou ter a minha própria casa e você se vire por aqui.” Ele me falou assim mesmo, e assim mesmo teve que ser. Passei a acumular duas funções, em dois trabalhos diferentes: detestava os dois!

Nas questões sentimentais, era de uma incompatibilidade total com o sexo oposto: fui ter o meu primeiro namorado aos 17 anos. Aos 15, eu apenas sonhava com o meu príncipe encantado, mas ele nunca vinha. Vinha para todas, menos para mim. Meu primeiro amor, foi uma mistura de namorado com amigo: a coisa empacava e não se resolvia. Nunca nos beijamos. Muitos anos depois, relendo uma de suas cartas, vim a entender porquê: a sua opção sexual era outra, mas ele não assumia, funcionário do BB que era e, naquela época, não podia. Meu Deus, eu era tão ingênua, nem sequer pressentia.

Minha sensibilidade me levava a certos extremos: chorava como se um rio brotasse repentinamente de mim, e gargalhava com a solidez do relincho de um cavalo, que também vinha de mim. Era mesmo de extremos. Eu acho que era feliz.

Eu tinha 15 anos! Você faz idéia do que é ter 15 anos? Ter 15 anos é para gastar do jeito que se quiser. E, nesta manhã, venho encarecidamente lhe pedir: não escolha gastar os seus 15 anos na pré história da humanidade. Não há mais tantos perigos ameaçando a terra. Jesus já veio ao mundo. Não há dores, não há ameaças, não há lutas, que Ele não possa curar, defender e vencer : Ele é o Senhor!

Para que Ele se torne esse Senhor que pode tudo, precisa apenas que você lhe outorgue o poder de poder tudo. Uma procuração com amplos e irrestritos poderes.

Há duas maneiras de conhecer Jesus: uma é o Jesus histórico, objetivo, que se conhece do lado de fora. Esse não lhe servirá para muita coisa. Mas a outra maneira é interior, subjetiva e mais profunda. É um conhecimento experimental, revolucionário, que sacode estruturas combalidas, e as coloca no devido lugar.

E como experimentar esse Jesus? No seu caso, experimentando como remédio: em pequenas doses, até à cura. Em doses maiores, depois da cura. Jesus é um remédio que, em doses pequenas, cura o doente, e em doses maiores promove a saúde para sempre, amém. Busque-o, da maneira simples como buscou a mim: falando com Ele.

Não leia apenas o meu diário: leia a Bíblia. É na Bíblia que busco inspiração para escrever, portanto, vá direto à fonte. Ouça Jesus falando pelas palavras Sagradas. Quando oramos, nós falamos com Deus; quando lemos a Bíblia, Deus fala conosco.

A natureza também fala por Deus. Você tem um bichinho de estimação? Tenha! Às vezes tudo que me sobra para tocar em Deus, de maneira palpável, é o abraço e a lambida das minhas cachorras. Que quando me falta o amor em concretude, essas nunca me faltam. Pode faltar-me o Ivo, pode faltar-me o Paulo, pode faltar-me a Sandra, pode faltar-me a Silvia, mas o abraço das minhas cachorras está sempre disponível, para mim, no fundo do quintal. E eu aproveito, e também abraço e lambo. Tudo o que existe no mundo é um resumo de Deus! Sabendo disso, você saberá também, que todos os resumos são horizontes amplificados, que a sua própria mão é capaz de alcançar. Não se escandalize se eu lhe disser o que está escrito na Bíblia, e que poucos souberam ler: "Sua presença enche a terra." Toque-o nesta manhã, da forma como Ele se apresentar diante de você. Jesus é o general de guerra, é o advogado, é o médico, é o procurador, é o remédio, é o consolo, é a cura. Tudo é Ele!

Aqui estou apenas enfunando uma vela, e colocando diante de você um barquinho, que pode lhe conduzir a novos rumos, a novas terras. Na proa vai Jesus, mas você é o remador. Siga o rumo que Ele lhe derminar. Apenas não esqueça, que para se chegar a algum lugar, você terá que remar. Reme, então! "Jesus está no barco/e você é o remador/lá na frente está Jesus/ Ele é o condutor."

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