terça-feira, 3 de agosto de 2010

De onze em onze.

Viajar pelo sul e sudeste do Brasil tornou-se um exercício matemático para todos os viajantes que administram o seu dinheiro com responsabilidade. Antes de tudo você precisa decidir se vai de carro, de ônibus, ou de avião. A primeira consulta começa sempre pelos sites das empresas aéreas que, de vez em quando, dão um refresco e oferecem tarifas realmente promocionais. Como não é todo dia que isso acontece, o mais comum é continuar pesquisando nas empresas de ônibus. Se quiser conforto, esqueça o ônibus. Uma viagem de leito custa sempre o dobro da poltrona convencional. Sem chance. Sobra mesmo o velho e prático carro da família. Mas em termos de economia, é bom não se animar muito, se essa for a escolha. No Paraná pós Jaime Lerner, por exemplo, o número de pedágios que assolam as nossas rodovias parecem as pragas do Egito. Assim que você se livra de uma, já aparece a outra. Ou o outro. Entre Ponta Grossa e Curitiba, há pedágios que estão localizados a incríveis 20 km um do outro. Tudo bem. Você paga e sobrevive. Aí, começa a procura por um hotel de conceito econômico. Existem dois tipos de hotéis econômicos no Brasil. Existem aqueles que eram considerados 4 estrelas mas o insucesso financeiro e a falta de investimentos fez deles um produto em fase final de vida. Deteriorados, sucateados, esses hotéis parecem um depósito de ácaros e de velharias. Carpete vermelho e latão cromado são os itens mais luxuosos da decoração. Quem quer se hospedar num lugar assim? A alternativa são os hotéis das grandes redes hoteleiras internacionais que aportaram por aqui para suprir a lacuna que havia no segmento hoteleiro. Esses hotéis diferentemente dos primeiros, foram planejados para ser 3 estrelas e oferecer um estilo mais enxuto de hospedagem sem descuidar do conforto e da modernidade.

Só descuidam de uma coisa: da tarifa. O hotel econômico que foi pensado para atender um viajante que faz conta, mas quer conforto, acaba tornando-se muito caro quando se contabilizam os opcionais que ele oferece. O problema é que se considera opcional o que é fundamental. Café da manhã e garagem são itens opcionais. Mas como renunciar ao café da manhã quando ele é a refeição mais importante do dia? E como deixar o carro dormir na rua e correr o risco de acordar com ele só na lembrança? Não dá, né?

Semana passada nos hospedamos em Curitiba, num hotel Ibis da Rede Accor. Valor da diária: 110 reais. Valor do café da manhã: 11 reais. Valor da taxa de estacionamento: 11 reais. Total da diária para duas pessoas e 01 carro: 143 reais. Sem contar a taxa de ISS que eleva o total para incríveis 157 reais. Muito caro para um hotel de categoria econômica.

Fiquei pensando como enxugar essa quantia e descobri que se eu acordasse entre 4,30 e 6 horas da manhã, - horário em que acordo mesmo - poderia tomar o café madrugador que custa 5 reais e 50 centavos. Uma economia de 50% é uma economia considerável.
O café madrugador acompanha o conceito de um hotel desprovido de luxo e tem tudo o que o brasileiro comum costuma ter em sua mesa, no café da manhã. Bom, estou falando do brasileiro comum. Mas nem todos são comuns. Tem gente que come mortadela em casa, mas no hotel arrota presunto.
Enquanto tomava o meu café econômico madrugador, num imenso salão vazio de madrugadores, apareceu um casal. Vestindo trajes sociais, pareciam estar voltando de alguma festa. Ele de terno, ela de vestido longo. O fim de festa oferece sempre uma pálida miragem da produção do dia anterior. Estavam ambos destruídos, precisando urgente de uma boa manhã de sono. A mulher olhou para o buffet do café madrugador, sem nenhum entusiasmo. Parecia um ser muito exigente. O homem ainda arriscou perguntar: - “Não tá bom?” Ela respondeu: - “Não, prefiro esperar o café completo. Faltam outros tipos de frutas e croissant.”
Croissant para quem não sabe é o primo rico do pão francês.
No saguão do hotel, sentaram e esperaram. Meia hora depois, as portas se abriram para o café com croissant que o paladar requintado da madame exigia.
Conclusão: Tem homem que parece ter nascido num cacho. De banana. E tem mulher que tem cabeça só para carregar chapéu. E tem hotel que é fixado no número 11. No elevador estava escrito assim: “Festival de Sopa. Mais de 20 sabores. Preço por porção individual: 11 reais.”

Por que onze e não dez, ou quinze? Sabe- se lá porque. Mas de onze em onze, o brasileiro fica pobre e nem desconfia.

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